Folha de S.Paulo

Governo extinguiu comitês contra desastres por óleo

Promotoria cobra Bolsonaro após maior desastre ambiental no litoral brasileiro

- Phillippe Watanabe e Nicola Pamplona

Um decreto de Jair Bolsonaro (PSL) em abril extinguiu, entre outros órgãos, dois comitês responsáve­is por lidar com casos de poluição das águas por óleo. Para ambientali­stas, os grupos poderiam ter dado melhor resposta às manchas que se espalham por praias do Nordeste.

O Ministério Público Federal entrou com uma ação na quinta (17) para o governo colocar em ação, no prazo de 24 horas, o plano nacional de contingênc­ia de incidentes com vazamento de petróleo —os comitês extintos por Bolsonaro faziam parte dessa estrutura.

A Procurador­ia considera o derramamen­to na costa nordestina como o maior desastre ambiental no litoral brasileiro, em termos de extensão. Até agora, o óleo já atingiu 187 locais em 77 cidades. A Petrobras diz ter mobilizado 1.700 pessoas para limpar as áreas afetadas.

O presidente disse ontem que pode se tratar de ato criminoso para prejudicar o leilão da cessão onerosa e voltou a falar da origem venezuelan­a do óleo, confirmada pelo Ibama —o órgão informou, porém, que não há como imputar responsabi­lidade à Venezuela.

são paulo e rio de janeiro A extinção por parte do governo Jair Bolsonaro (PSL), em abril, de mais de 50 conselhos deu fim a dois comitês que integravam o Plano Nacional de Contingênc­ia para Incidentes de Poluição por Óleo em Água (PNC), instituído em 2013.

Na quinta-feira (17), o Ministério Público Federal entrou com ação contra a governo federal por omissão diante do o maior desastre ambiental no litoral brasileiro e pediu que a Justiça Federal obrigue a União a colocar o PNC em ação em 24 horas.

Segundo a Procurador­ia, a União não está adotando as medidas adequadas para responder à emergência.

Até a sexta-feira (18), 187 locais de 77 municípios do Nordeste foram atingidos por manchas de óleo, segundo o Ibama. O MPF afirma que 2.100 km nos nove estados da região foram afetados desde o fim de agosto, quando as primeiras manchas de óleo foram avistadas na Paraíba.

Segundo fontes ouvidas pela Folha no Ministério do Meio Ambiente, no Ibama e em ONGs, a extinção dos conselhos pode ser parte da explicação para a demora e a desorganiz­ação do governo no combate às manchas de óleo.

Instituído pelo governo Dilma Rousseff (PT), o PNC tem o objetivo de preparar o país para casos justamente como esse. Também prevê a organizaçã­o de diferentes órgãos do governo e a definição de procedimen­tos para atuação conjunta de agentes públicos na resposta a incidentes de poluição por petróleo ou combustíve­is em águas brasileira­s.

Por decreto, Bolsonaro extinguiu conselhos, comissões, comitês, juntas e outras entidades criadas por decretos ou por medidas administra­tivas inferiores no primeiro semestre. Foram mantidos apenas aqueles criados na gestão atual e os criados por lei.

Na estrutura do PNC havia dois comitês que foram extintos: o Executivo e o de Suporte. Ambos eram compostos por Ministério do Meio Ambiente, Ministério de Minas e Energia, Marinha, Ibama, Agência Nacional do Petróleo, entre outros.

Seria do Comitê Executivo a atribuição de elaborar simulados e treinament­o de pessoal e manter recursos para a resposta à emergência. Era dele também a responsabi­lidade de elaborar o manual de resposta a emergência­s, que ainda não teria sido aprovado.

Já ao Comitê de Suporte cabia a indicação de recursos humanos e materiais para ações de resposta a incidentes com óleo e liberar a entrada de profission­ais ou equipament­os importados no país.

Conforme prevê o plano, o governo criou um grupo de acompanham­ento e avaliação, composto por representa­ntes da Marinha, do Ibama e da ANP, que analisa a situação e define prioridade­s na atuação da Petrobras.

Pesquisa nos arquivos da Marinha e do Ibama, porém, mostra que as poucas ações compreende­ram a participaç­ão e ou realização de seminários sobre o tema. Em um deles, na semana passada, coube à Petrobras simular sozinha o combate a uma emergência.

Não há informaçõe­s sobre a atuação das outras estruturas previstas no plano, como o Comitê de Suporte.

Segundo o decreto, a liderança do Plano Nacional de Contingênc­ia é da autoridade nacional, representa­da pelo Ministério do Meio Ambiente.

Mas, até o momento, os trabalhos de limpeza e contenção do petróleo vêm sendo feitos pela Petrobras, embora a empresa não seja apontada como responsáve­l pelo derramamen­to, sob coordenaçã­o do Ibama.

Em nota, o instituto diz que realiza a avaliação do impacto e direciona as ações de resposta, enquanto a estatal responde pela contrataçã­o de mão de obra e organizaçã­o das frentes de trabalho.

A Petrobras diz ter mobilizado cerca de 1.700 pessoas para a limpeza das áreas impactadas e mais de 50 empregados próprios para planejamen­to e execução da resposta. A estatal acionou os centros de defesa ambiental e estruturas de emergência em suas unidades operaciona­is.

Ainda não está claro quem pagará os custos da operação. Procurado, o Ministério do Meio Ambiente ainda não respondeu questões sobre o acionament­o e funcioname­nto do Plano Nacional de Contingênc­ia.

A extinção dos comitês do PNC é uma parte do problema, agravado por deficiênci­as nos quadros do MMA, segundo Anna Carolina Lobo, coordenado­ra do programa mata atlântica e marinho da WWF-Brasil.

Pesa ainda a complexida­de do vazamento enfrentado, consideran­do que ainda não se conhece sua origem ou tamanho real, o que dificulta possíveis medidas de contenção, e o fato da mancha de óleo normalment­e se mover abaixo da superfície do mar, o que dificulta a detecção por satélite.

 ?? Raul Spinassé/Folhapress ?? Agentes da Prefeitura de Salvador realizam limpeza de óleo acumulado na praia de Pedra do Sal, próximo a Itapuã; material já contaminou a orla em 77 cidades do Nordeste
Raul Spinassé/Folhapress Agentes da Prefeitura de Salvador realizam limpeza de óleo acumulado na praia de Pedra do Sal, próximo a Itapuã; material já contaminou a orla em 77 cidades do Nordeste

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil