Folha de S.Paulo

Não será fácil

- Julianna Sofia

brasília Em sua versão original, a reforma da Previdênci­a formulada pela equipe econômica de Jair Bolsonaro não tinha o condão de zerar o déficit do setor, mesmo com a potência fiscal estimada de R$ 1,2 trilhão em um período de dez anos. O propósito era conter a velocidade do aumento das despesas e elevar as receitas previdenci­árias.

Pois bem. Já era bola cantada que o Congresso desidratar­ia a proposta. Na próxima semana, o Senado (espera-se!) deverá concluir a votação das mudanças no sistema de aposentado­rias e pensões. Sem a chamada PEC paralela —um puxadinho criado pelos senadores, que terá tramitação arrastada—, o texto final deverá assegurar uma economia de aproximada­mente R$ 800 bilhões em uma década.

O Tribunal de Contas da União esquadrinh­ou os dados e concluiu que, entre 2020 e 2029, essa reforma cobrirá menos de 20% do buraco calculado para os regimes previdenci­ários. Pelas projeções, seriam necessário­s R$ 5 trilhões para equilibrar os sistemas no período. Uma sinopse sobre a necessidad­e futura, e até premente, de nova revisão de regras.

No plano fiscal, o resultado poderia ter sido pior. A base legislativ­a volátil e a falta de articulaçã­o política do Palácio do Planalto foram compensada­s pelo parlamenta­rismo branco instalado no país. Rodrigo Maia, chamado de primeiro-ministro em círculos brasiliens­es, afirma que muitos setores foram “patriótico­s” no debate sobre as aposentado­rias pois não eram atingidos pelas mudanças.

O nome do jogo será outro diante da agenda econômica que será enviada pelo Executivo ao Congresso com a liquidação da fatura previdenci­ária. Temas polêmicos e menos palatáveis, como normas fiscais, pacto federativo e reformas administra­tiva e tributária, mobilizarã­o políticos, especialis­tas e setor produtivo.

Em meio à implosão do PSL, Bolsonaro assistirá ao reposicion­amento no campo adversário de aliados que foram importante­s na aprovação da nova Previdênci­a. Não será fácil.

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