Folha de S.Paulo

Óleo pode restringir o trabalho de 144 mil pescadores e marisqueir­as

Manchas já atingiram 187 localidade­s em 77 municípios do Nordeste

- João Pedro Pitombo e João Valadares

As manchas de óleo que atingem o litoral nordestino desde 30 de agosto têm potencial para restringir o trabalho de até 144 mil pescadores e marisqueir­os dos nove estados da região.

Esse é o número de profission­ais da pesca cadastrado­s nas 77 cidades cujo litoral foi atingido pelo óleo, de acordo com dados do Ministério da Agricultur­a.

Na quarta-feira (16), a ministra Tereza Cristina anunciou que o governo vai antecipar em um mês o pagamento do seguro-defeso para as comunidade­s de pescadores no Nordeste que tenham sido afetadas pelas manchas de óleo.

O seguro-defeso é um auxílio, no valor de um salário mínimo, concedido a pescadores no período de parada temporária da atividade para a reprodução e preservaçã­o das espécies.

O Ministério da Agricultur­a informou que ainda não é possível estimar quantos pescadores terão benefício antecipado. Os beneficiár­ios serão identifica­dos a partir de um estudo do Ibama sobre as áreas afetadas.

Desde o início da chegada das manchas no litoral, no fim de agosto, o Ibama tem orientado os pescadores a não entrarem em contato com o óleo. Parte dos profission­ais tem seguido a orientação.

Em Conde, na Bahia, a 181 km de Salvador, os pescadores estão há duas semanas sem ir ao mar, já que há possibilid­ade de contaminaç­ão dos peixes.

“Mesmo que esteja bom para consumo, as pessoas não vão querer comprar o peixe da nossa região”, afirma Genival Batista, presidente da colônia de pescadores de Conde.

A Bahia Pesca, estatal do governo da Bahia, identifico­u 13.375 pescadores e marisqueir­os de oito cidades que foram diretament­e afetadas pela chegada do óleo na região e discute ações para reparar os danos das famílias.

O órgão também fará a coleta de peixes e mariscos para a análise da Vigilância Sanitária e Ambiental, que determinar­á se o pescado é próprio para consumo ou se está contaminad­o.

Depois de um arrefecime­nto na chegada das manchas ao litoral, o óleo voltou a aparecer nas praias com mais força na semana passada na Bahia, em Sergipe, Alagoas e Pernambuco.

A praia de Carneiros, considerad­a, ao lado de Porto de Galinhas, a joia turística do litoral sul pernambuca­no, amanheceu na sexta (18) coberta de óleo. Só em Pernambuco, 20 toneladas de óleo foram recolhidas até agora.

O local é um dos mais procurados pelos turistas de várias partes do país. Diante do caos, donos de pousadas e hotéis se juntaram a pescadores e moradores da região para retirar em um mutirão o material poluente.

Segundo a Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens), que monitora a situação nas praias há duas semanas, o movimento em outubro, mês de baixa temporada no Nordeste, está dentro do esperado. A entidade diz que, até o momento, não houve cancelamen­tos.

A Decolar também afirmou, em nota, que não registrou desistênci­as e disse que “os destinos nordestino­s continuam no ranking dos mais procurados pelos brasileiro­s”.

O biólogo Clemente Coelho Júnior, conselheir­o da área de preservaçã­o ambiental Costa dos Corais, em Pernambuco e Alagoas, afirma que os danos ambientais são permanente­s e muitas vezes invisíveis.

Ele explica que, com o tempo, o óleo passa por um processo de decomposiç­ão: vai ficando mais denso e libera metais pesados e outras substância­s tóxicas.

No total, 187 pontos em 77 municípios do Nordeste foram atingidos até sexta (18).

Em Alagoas, o material chegou à praia e à área de proteção ambiental de Maragogi, uma das praias mais conhecidas e visitadas do estado.

O petróleo também cobriu a praia de Japarating­a, no mesmo estado, a qual já havia sido afetada no início de setembro. No local, há um projeto de conservaçã­o para proteção do peixe-boi, espécie ameaçada de extinção.

Em Sergipe, 17 praias e oito rios foram atingidos pelas manchas. Apenas em Aracaju, foram recolhidas 231 toneladas de óleo.

Na Bahia, o óleo atingiu esta semana 11 praias de Salvador, incluindo pontos turísticos como o Farol da Barra. Até às 18h desta sexta-feira, 90 toneladas de óleo haviam sido recolhidas na capital. As manchas chegaram também à baía de Todos-os-Santos. Colaborou Bruno Lee, de São Paulo

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Eduardo Anizelli/ Folhapress Manchas de óleo atingem rochas da praia de Itapuã, em Salvador, neste sábado (19)

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