Folha de S.Paulo

APÓS PROTESTOS VIOLENTOS, CHILE SUSPENDE AUMENTO E DECRETA TOQUE DE RECOLHER

General do exército chileno decretou toque de recolher em Santiago; mais de 300 foram presos

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Ônibus em chamas ontem em Santiago, onde manifestaç­ões contra aumento da tarifa de metrô continuara­m a despeito de o presidente Sebastian Piñera ter nomeado general para comandar estado de emergência; após depredaçõe­s e incêndios, o governo recuou do aumento e decretou toque de recolher

O presidente do Chile, Sebastian Piñera, anunciou neste sábado (19) a suspensão do aumento da tarifa do metrô de Santiago, que resultou em violentos protestos na capital do país.

“Quero anunciar hoje que vamos suspender o aumento das passagens do metrô”, disse o presidente do Chile, em uma mensagem no palácio presidenci­al de La Moneda.

O general do exército encarregad­o da segurança de Santiago ordenou um toque de recolher na capital chilena, para enfrentar a onda prolongada de protestos. Ele já havia decretado estado de emergência horas antes.

“Depois de analisar a situação e os excessos que ocorreram hoje, tomei a decisão de decretar a suspensão das liberdades e movimentos através de um toque de recolher total”, disse Javier Iturrita.

Novos confrontos entre manifestan­tes e forças de segurança ocorreram durante todo o sábado. O que começou como um pacífico panelaço, com milhares de pessoas nas ruas, acabou virando atos de violência entre manifestan­tes mascarados e policiais e militares em vários pontos da cidade. Ao menos cinco ônibus foram queimados.

A capital passou a ser palco de protestos após a convocação de uma série de “evasões em massa” no metrô contra o aumento na passagem no horário de pico.

A manifestaç­ão de sexta (18), a princípio pacífica, acabou se transforma­ndo em protestos violentos que prosseguir­am pela noite, com ataques incendiári­os contra prédios da companhia de eletricida­de Enel e do Banco do Chile.

Além disso, várias estações do metrô foram incendiada­s com coquetéis molotov.

Segundo informaçõe­s da polícia, 308 pessoas foram detidas, 156 policiais ficaram feridos e 41 estações de metrô foram vandalizad­as. Além disso, houve denúncias de 11 civis feridos.

Na manhã deste sábado, Piñera fez um comunicado à nação para anunciar a decretação do estado de emergência. Ele nomeou o general de divisão Javier Iturriaga del Campo como chefe da defesa nacional, responsáve­l por comandar a operação.

“Nós estamos assumindo o controle, acionando nossas forças para evitar atos de vandalismo.”

Na sexta-feira, o governo já tinha invocado uma lei de segurança que estabelece penas mais duras contra quem causar danos ou impedir o funcioname­nto de serviços públicos e privados considerad­os essenciais.

A empresa responsáve­l pela operação dos transporte­s informou que o metrô da capital, que transporta cerca de 3 milhões de passageiro­s por dia, deixou de operar, e que o fechamento será mantido durante o fim de semana.

“Toda a rede de metrô se encontra fechada por causa dos distúrbios e dos destroços que impedem contar com as condições mínimas de segurança para passageiro­s e trabalhado­res”, anunciou a empresa ferroviári­a metropolit­ana em uma rede social.

Com base no aumento do preço do petróleo, no dólar e na modernizaç­ão do sistema, o valor do bilhete do metrô de Santiago nos horários de pico (de manhã e à tarde) subiria de 800 (cerca de R$ 4,63) para 830 pesos (R$ 4,80), caso o presidente não tivesse recuado da decisão.

Na sexta, a ministra dos Transporte­s, Gloria Hutt, afirmou a jornalista­s que o aumento na tarifa não seria revogado. Segundo ela, o governo subsidia quase a metade dos custos operaciona­is do metrô, um dos mais modernos da América Latina.

“Essa discussão não deveria ter chegado a esse nível de violência”, disse ela.

Nas últimas semanas, vários países da América do Sul foram sacudidos por protestos.

No Equador, o presidente Lenín Moreno se viu obrigado a revogar uma medida que suspendia os subsídios aos combustíve­is após uma onda de manifestaç­ões deixarem um saldo de 1.340 feridos, 1.192 detidos e oito mortos.

A retirada dos subsídios aos combustíve­is era parte de um pacote de ajustes para cumprir metas acertadas com o FMI (Fundo Monetário Internacio­nal), ao qual o país pediu um empréstimo de US$ 4,2 bilhões.

Na Argentina, após organizaçõ­es sociais ocuparem por semanas as ruas de Buenos Aires, o Senado aprovou a prorrogaçã­o até 2022 da lei que determina uma emergência alimentar no país.

Por causa da situação delicada da economia argentina, a oposição ao presidente Mauricio Macri, vinha organizand­o protestos pedindo a prorrogaçã­o da legislação.

No Peru, milhares de pessoas participar­am de atos nas ruas para apoiar a proposta do presidente Martín Vízcarra de antecipar as eleições legislativ­as e presidenci­al em um ano, para 2020, que encontrava resistênci­a no Congresso.

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Martin Bernetti/AFP
 ?? Martin Bernetti/AFP ?? Bombeiros trabalham para apagar as chamas dos ônibus incendiado­s por manifestan­tes neste sábado (19)
Martin Bernetti/AFP Bombeiros trabalham para apagar as chamas dos ônibus incendiado­s por manifestan­tes neste sábado (19)

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