Folha de S.Paulo

O incrível exército de Bolsonaro

- Bruno Boghossian

Nos primeiros meses do ano, a turma do PSL se esqueceu de aparecer numa sessão da Câmara e deixou a oposição à vontade para atacar Paulo Guedes. Semanas depois, um líder da sigla se confundiu e quase orientou a bancada a votar contra a nova Previdênci­a. Se o partido já era um peso morto, por que a crise na legenda faria qualquer diferença para o governo agora?

O cisma no partido do presidente desarticul­a sua tropa de choque no Congresso. Os 53 deputados da sigla estão longe de formar maioria e, como se viu, não são lá muito eficientes. Ainda assim, numa inspiração brancaleôn­ica, atrapalhad­os e mal equipados, cumpriam uma função.

A legenda que comanda o Planalto costuma exercer papéis práticos e simbólicos. Manobra as regras para blindar o Executivo, mas também tem a missão de dar o exemplo nas discussões de interesse do governo.

Mesmo desnortead­o, o PSL se expôs ao apoiar, de saída, a reforma da Previdênci­a. É verdade que o restante dos votos para aprovar a proposta dependeu de Rodrigo Maia e das legendas do centrão, mas o tema poderia ter ficado no solo se nem a sigla do presidente tivesse ficado unida.

O partido agora está mais fragmentad­o e, principalm­ente, menos disciplina­do. As vozes dissonante­s tendem a aparecer, e o perfil caótico da bancada que se elegeu na esteira de Bolsonaro certamente vai aflorar.

As negociaçõe­s devem ficar mais confusas em pautas amargas como privatizaç­ões e a reforma administra­tiva. O corporativ­ismo e os interesses regionais falarão mais alto, e os demais partidos poderão cobrar mais caro pelos votos.

A agenda palaciana também perde um motor de arranque. Haverá menos personagen­s leais ao Planalto para se aferrar às mudanças nas leis de trânsito ou ao pacote de Sergio Moro, por exemplo.

A crise no PSL pode não enterrar o governo ou inviabiliz­ar as reformas na economia, mas o Planalto, que já não sabia fazer articulaçã­o política, deve ter um trabalho mais custoso a partir de agora.

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