Folha de S.Paulo

PSL paga aluguel a empresa de Bivar, presidente da sigla

Partido ocupa sala pertencent­e ao deputado federal, que cita valor baixo

- Felipe Bächtold

Alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro, a direção do PSL paga mensalment­e aluguel a uma empresa de seu principal dirigente, o deputado federal Luciano Bivar (PE), no Recife.

A fundação partidária Indigo (Instituto de Inovação e Governança), braçodoPSL­comsede em Brasília, repassou R$ 940 mensais ao longo de 2018 à Gerencial Brasitec, firma que tem Bivar como dono e que é ligada à seguradora Excelsior, da família do deputado.

O órgão partidário também quita as contas de condomínio do espaço, em valor de cerca de R$ 640. As informaçõe­s estão na prestação de contas do partido à Justiça Eleitoral. As verbas do PSL, assim como as de outras legendas, vêm em maioria dos cofres públicos.

Em anos anteriores, houve o pagamento por locação a uma outra empresa da família Bivar, a Mitra Participaç­ões, que pertence a seus filhos.

A Folha identifico­u o pagamento por aluguéis pelo partido ao menos desde 2012. A Gerencial Brasitec tem endereço declarado à Receita no mesmo edifício em que o PSL loca o imóvel, em sala vizinha. Escritório­s vizinhos estão registrado­s como sede de empresas em nome do deputado, a Brasifacto­r Fomento e a Brasipar.

Procurada, a assessoria de Bivar disse que ele cedia salas ao partido no Recife por meio de contrato de comodato (empréstimo gratuito). Com a proibição da doação de pessoas jurídicas a partidos e candidatur­as, porém, o parti-

do passou a pagar aluguel, segundo o deputado, “com valores muito inferiores aos praticados no mercado”.

Bivar é o principal dirigente do PSL desde a época da fundação da sigla, nos anos 1990, e seus filhos também tiveram papel na direção. Em 2018, ele se licenciou do comando do partido, como parte de um acordo para abrir espaço à candidatur­a de Bolsonaro, e cedeu temporaria­mente o posto ao advogado Gustavo Bebianno. Com a vitória na eleição, Bebianno se tornou ministro, mas acabou demitido em fevereiro em meio ao escândalo das candidatur­as laranjas da sigla revelado pela Folha.

O PSL vive hoje um racha entre os grupos liderados por Bivar e pela família Bolsonaro. A destinação das verbas do

fundo partidário, que devem chegar a R$ 110 milhões neste ano, a maior entre todos os partidos, é um dos principais motivos desse conflito.

O presidente da República, por exemplo, requereu a Bivar a realização de uma auditoria externa nas contas da legenda nos últimos anos. Por trás, há a ideia de usar eventuais irregulari­dades nos documentos como justa causa para uma desfiliaçã­o de deputados da sigla, o que evitaria perda de mandato. O episódio provocou o agravament­o da disputa interna.

A crise na legenda chegou ao ápice na quinta (17), depois de Bolsonaro ter atuado pessoalmen­te para destituir o líder do partido na Câmara, Delegado Waldir (GO), e ser derrotado. Waldir chamou de “vagabundo” o presidente, que acionou a Advocacia-Geral da União para processar o correligio­nário.

Dentro do PSL, nomes ligados à atividade empresaria­l de Bivar também atuam na direção do partido, o que costuma gerar reclamaçõe­s de congressis­tas da legenda.

O PSL, assim como todas as siglas, já é obrigado a divulgar publicamen­te seus gastos à Justiça Eleitoral sob pena de ter suas contas partidária­s rejeitadas e sofrer sanções como multas e bloqueio do envio de verba pública. Notas fiscais de despesas relacionad­as à atividade política precisam ser apresentad­as ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Apesar das reclamaçõe­s do grupo palaciano sobre a gestão dos recursos, a análise das contas partidária­s de 2018 indica gastos expressivo­s da legenda ligados à família de Bolsonaro e à sua candidatur­a.

A fundação do PSL, por exemplo, organizou no fim do ano passado a Cúpula Conservado­ra das Américas, evento em Foz do Iguaçu (PR) idealizado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (SP).

Só em nome de uma agência de viagens de Curitiba responsáve­l por passagens aéreas, traslados e hospedagem, há faturas do fim do ano que somam R$ 120 mil. Os recursos bancaram as viagens para o evento de congressis­tas à época recém-eleitos.

Antes de Bolsonaro, o PSL tinha um histórico de partido nanico, com só um deputado federal eleito na legislatur­a anterior. A verba de fundo partidário em 2018 equivale a 6% da atual.

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Pedro Ladeira - 20.fev.19/Folhapress O deputado federal Luciano Bivar

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