Folha de S.Paulo

Crivella quer vice do PSL para eleição no Rio

Sem nome claro para a prefeitura, partido de Bolsonaro ensaia aliança com atual prefeito de olho no pleito de 2022

- Catia Seabra e Ana Luiza Albuquerqu­e

Com as bênçãos da família Bolsonaro, o PSL e o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republican­os, ex-PRB), ensaiam uma aliança para a eleição municipal de 2020 com vistas ao pleito presidenci­al de dois anos depois.

Pela proposta à mesa, o PSL ocuparia a vaga de vice de Crivella na disputa municipal. Se for reeleito, Crivella deixa o cargo para concorrer ao Senado ou ao Palácio Guanabara em 2022, permitindo que um aliado de Bolsonaro esteja à frente da prefeitura durante a eleição presidenci­al.

Nesse caso, Crivella poderia reunir nove partidos em torno de sua candidatur­a.

Essa aproximaçã­o foi traçada com o suporte do líder da Igreja Universal e dono da TV Record, Edir Macedo, que, em uma demonstraç­ão de apoio, assistiu ao desfile de Sete de Setembro ao lado de Bolsonaro em Brasília.

Sobrinho de Edir Macedo, Crivella esteve no último dia 2 em Brasília para pedir ao ministro da Economia, Paulo Guedes, autorizaçã­o para pagar apenas em 2020 os juros da dívida da cidade com o BNDES, no valor de R$ 400 milhões.

O pedido para que o pagamento seja adiado em um ano foi encaminhad­o ao banco, que ainda não concordou com a proposta.

Além da busca por uma saída para as contas do Rio, deputados do PSL estiveram no último dia 7 com o prefeito para discutir a implantaçã­o do modelo de escolas militares na rede municipal, projeto que o governador Wilson Witzel (PSC) não abraçou.

Em mais um movimento de aproximaçã­o, Crivella empossou na sexta-feira (18) um amigo de Bolsonaro na secretaria de Ordem Pública do município: o ex-árbitro de futebol Gutemberg Fonseca, que ocupou a secretaria de Governo de Witzel por indicação da família do presidente.

Todas essas negociaçõe­s, porém, correm risco, já que o PSL vive uma guerra interna entre dois grupos: o do presidente nacional da sigla, deputado Luciano Bivar (PE), e do presidente Jair Bolsonaro.

O descontent­amento com Witzel propiciou a aproximaçã­o dos Bolsonaro com Crivella. O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), ainda presidente estadual da legenda, ficou contrariad­o ao descobrir que uma assessora palaciana é filha do juiz que autorizou a quebra de seu sigilo bancário e fiscal, como revelado pela Folha.

Em recente reunião com a bancada do PSL do Rio, Flávio

se disse decepciona­do com o governador. O afastament­o entre o presidente Bolsonaro e o governador Witzel, que começou quando o exjuiz anunciou que disputará a Presidênci­a em 2022, ficou mais evidente em evento recente no Rio.

Após Witzel fazer um discurso digno de candidato, com elogios ao próprio governo, Bolsonaro aproveitou sua fala para mandar um recado

ao governador, eleito com ajuda da onda bolsonaris­ta.

“Trabalho para que, no futuro, quem porventura, de forma ética, moral e sem covardia, venha a assumir o destino da nação encontre a pátria numa situação muito melhor do que encontrei.”

Olhando para o governador fluminense, Bolsonaro pronunciou com firmeza a passagem “de forma ética, moral e sem covardia”.

Witzel, por sua vez, pretende lançar um candidato à prefeitura carioca no ano quem vem. Entre as opções, o secretário de Educação, Pedro Fernandes, e o secretário de Governo, Cleiton Rodrigues. Mas não está descartado o convite a uma juíza que atua na área de infância e juventude.

Já o PSL poderá se aliar ao potencial candidato do PSD, o senador Arolde de Oliveira, caso fracasse um acordo com Crivella. Eleito para o Senado em dobradinha com Flávio, ele preside o PSD da capital.

A possibilid­ade de optar por uma coligação nasce da falta de uma candidatur­a natural no PSL. Mais votado para Assembleia do Rio, o deputado estadual Rodrigo Amorim não conta com a simpatia do vereador Carlos Bolsonaro (PSCRJ), filho do presidente.

Recentes arroubos, como a discussão com o prefeito de Mesquita diante do plenário da Casa e a decisão de vistoriar a unidade São Cristóvão do Colégio Pedro 2º sem prévio conhecimen­to da reitoria, têm pesado contra a pretensão de Amorim de disputar a vaga.

Como se não bastasse, outros dois nomes do PSL anunciaram a disposição de concorrer à prefeitura: o deputado federal Luiz Lima e o estadual Márcio Gualberto.

No Rio, a montagem do palanque presidenci­al para a eventual candidatur­a do governador paulista, João Doria (PSDB), dependerá da decisão do ex-prefeito Eduardo Paes (DEM). O PSDB já manifestou publicamen­te a intenção de se aliar a Paes, caso ele decida concorrer. Também aguardam essa definição o MDB, o Cidadania e o Avante.

Na esquerda, o PT deverá apoiar a candidatur­a de Marcelo Freixo (PSOL).

Segundo dirigentes do partido, o PT abriria mão de ocupar a vaga de vice de Freixo, possibilit­ando a adesão de outro partido de esquerda.

Questionad­o sobre a hipótese de lançamento de candidatur­a própria, o presidente estadual do PT, Washington Quaquá, não pestanejou: “Nós vamos de Freixo, que é quem acumulou capital político e eleitoral para liderar uma frente popular nessa eleição”.

O desejo do PSOL é ter o PDT ao seu lado já no primeiro turno. A pedetista Martha Rocha é, porém, pré-candidata.

O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi afirma que “a candidatur­a própria é uma necessidad­e para um partido que tem um candidato a presidente”. Questionad­o sobre a hipótese de acordo com o PSOL ou com o deputado federal Alessandro Molon (PSB), no entanto, admite: “O futuro a Deus pertence”.

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Marcos de Paula/Prefeitura do Rio O prefeito do Rio, Marcelo Crivella

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