Primeiro café que vende produtos de maconha é aberto nos Estados Unidos
“E para acompanhar a couve-de-bruxelas, gostaria de uma sativa ou uma indica?” A pergunta vem da garçonete que tenta harmonizar a comida com as variadas formas de maconha disponíveis no primeiro restaurante legalizado de cannabis nos EUA.
O menu de maconha tem 14 páginas e inclui cigarros avulsos, flores secas, óleos e acessórios para consumo, como cachimbos de cerâmica e um bong gravitacional.
Apesar de estar dentro da lei, os próprios funcionários e os clientes ainda estão aprendendo a lidar com a novidade.
O Lowell Cafe abriu suas portas neste mês em West Hollywood, próxima a Los Angeles. Foi a primeira cidade da Califórnia a emitir licenças para negócios que permitem seu consumo.
Mais de 300 projetos disputaram as oito licenças, que serão renovadas anualmente. O café é o primeiro a estrear e deve ser seguido por um spa e um lounge de jogos virtuais.
O Lowell Cafe é um investimento de US$ 3 milhões (R$ 12,3 mi) de uma marca californiana de cigarros de cannabis, apoiada financeiramente por celebridades como Miley Cyrus e Chris Rock.
O restaurante não vende pratos de comida feitos com maconha, já que precisa seguir as leis estaduais que permitem apenas venda de cannabis em produtos pré-embalados ou testados em laboratório. Tampouco serve álcool.
No menu canábico do Lowell Cafe há chocolates, latinhas com pastilha e pacotes de gomas, além de cinco tipos de bebidas com THC, o componente psicoativo da planta. O cardápio de comida, com duas páginas, oferece pratos orgânicos como saladas, sanduíches, sobremesas e cafés.
“Queremos criar um ambiente onde a cannabis é harmonizada com os pratos, como fazemos com vinhos”, disseà Folha a diretora geral do Lowell Cafe, Lily Estanislao.
O espaço tem um clima de restaurante moderninho hipster, com néon na porta, paredes cobertas de plantas e luz baixa no concorrido pátio com duas oliveiras. A música é pop, rock e hip-hop. É provavelmente o único restaurante no estado onde os frequentadores podem fumar livremente (embora tabaco seja proibido), e é possível sentir o cheiro logo na entrada.
Os vizinhos, que incluem uma sinagoga, reclamaram e o restaurante instalou um sofisticado sistema de filtragem de ar, como os usados em cassinos de Las Vegas. Na visita da Folha, o cheiro no pátio não era forte, a não ser quando o vizinho de mesa testava o tal bong gravitacional.
Enquanto uma garçonete cuidava dos pedidos de comida, outra apelidada de “flower host” (host das flores) oferecia sua expertise como sommelier de maconha. Apesar da diretora geral afirmar que essas hosts foram cooptadas das lojas de maconha, um papo rápido revelou experiência inexistente. “Ainda não tive tempo de provar muita coisa”, se desculpou a “flower host”.
A maconha oferecida é dividida em sativa e indica, espécies da planta que se desenvolveram em partes diferentes do mundo e que teriam efeitos distintos no corpo humano, embora pesquisas científicas mostrem que essa classificação faz pouco sentido.
O cardápio afirma que o cigarro Kushberry Cheesecake (US$ 20) traz propriedades “revigorantes”, com 22% de THC. Para se sentir “social e divertido”, a sugestão é a flor seca Super Sour Diesel, com 27% de THC (US$ 5%).
A diretora geral disse que a casa oferece descontos em serviços de táxi e que os manobristas estão treinados para não devolver as chaves para quem parecer fora de si.
Apesar disso, o espaço não tem um protocolo para aplacar efeitos colaterais, como as chamadas “bad trips” ou surtos psicóticos. “Bom, você sabe, temos estratégias pessoais”, disse Lily. “Dizem que mastigar pimenta preta corta o efeito.”
Barbara Savine, dona de casa e mãe de duas meninas, foi ao restaurante animada com a novidade, mas precisou ser levada para casa por uma amiga, antes de terminar a sobremesa. Acostumada a doses baixas de pastilhas de cannabis, passou mal ao dar dois tragos num cigarro. Ao procurar a “host das flores”, ouviu apenas a dica de “tomar água”.
“Adorei meu drinque canábico, estava me sentindo ótima e resolvi tentar algo mais”, disse Savine, 47. “Dei dois tragos para experimentar e, logo em seguida, me senti super lenta e meio que girando. Mal conseguia levantar a colher do sorvete. Minha amiga percebeu rapidamente, mas levou um tempão para conseguir a conta e dar o fora dali.”
Mesmo assim, ela pretende voltar para levar sua mãe, que vive num estado onde a droga é ilegal. “Ela vem me visitar no Natal e sei que vai ficar encantada. E eu, provavelmente, vou ficar apenas no drinque.”