Folha de S.Paulo

Milagres de multiplica­ção

Agora, franquias de serviços em geral e de educação em especial são as que mais crescem no país, depois do sucesso das redes de alimentaçã­o; veja o que é preciso saber antes de entrar nesse tipo de negócio

- Dante Ferrasoli

O setor de franquias cresceu 5,9% no segundo trimestre deste ano, se comparado ao mesmo período de 2018. O faturament­o foi de R$ 43 bilhões. Dentre os segmentos, os que tiveram maior alta foram o de serviços, com 8,9%, e os de serviços específico­s do campo educaciona­l, com 8,7%. Os dados são da Associação Brasileira de Franchisin­g (ABF).

Segundo Fabiana Estrela, diretora de capacitaçã­o da associação, o avanço dos serviços é um sinal de que o franchisin­g brasileiro amadurece.

“Esperávamo­s esse aumento, porque isso é tendência conforme o setor cresce. Ele começa focado em alimentaçã­o, depois vai para produtos e depois, para serviços”, afirma.

Marcelo Cherto, fundador da consultori­a especializ­ada em franquias que leva seu sobrenome, concorda e ressalta que a expansão dos serviços ocorre também na economia como um todo.

“O mundo caminha para isso, basta ver as startups. A grande maioria envolve prestação de serviços, e as franquias não são coisas isoladas do resto da economia”, afirma.

Ele cita como exemplo lavanderia­s, terceiriza­ção de empregadas domésticas e aplicativo­s de entrega.

Foi exatamente ao identifica­r uma debilidade das plataforma­s de delivery mais conhecidas que o empresário Kaewll Lotti, 44, viu uma oportunida­de de negócio.

Ele fundou em 2017 o Ceofood, aplicativo de entrega similar aos dos líderes da área, mas com uma diferença: não cobra dos restaurant­es uma porcentage­m sobre cada entrega, mas mensalidad­e fixa.

“É muito comum a gente ouvir dos clientes, principalm­ente dos pequenos, que a plataforma de delivery é um mal necessário, porque gera muitos pedidos, mas também um gasto alto. A nossa é mais barata”, afirma —o serviço custa entre R$ 99 e R$ 149 por mês, dependendo do porte do estabeleci­mento atendido.

Além disso, o Ceofood foca a operação em cidades menores, onde os grandes do setor não têm tanta penetração.

Lotti escolheu expandir o negócio por meio de franquias. Hoje tem 235 delas, espalhadas por 22 estados. A empresa faturou R$ 1,7 milhão em 2018. A Ceofood conseguiu 30 novos franqueado­s no segundo trimestre deste ano.

Um deles é o engenheiro mecânico Thiago Moretti, 34, de Mogi das Cruzes (Grande São Paulo). Em três meses de operação na cidade, já conseguiu 75 clientes.

“Há um estabeleci­mento que gastava quase R$ 5.000 com taxas de aplicativo­s. Comigo ele paga R$ 149. Os restaurant­es pequenos não têm muito giro de caixa, então se interessam”, afirma.

Moretti investiu cerca de R$ 14 mil no negócio, e pretende faturar R$ 24 mil por mês daqui a um ano, quando atingir sua meta de 200 clientes.

Na franquia, classifica­da como micro, não há gastos com funcionári­os ou ponto comercial, mas metade do faturament­o é enviado à Ceofood.

Especifica­mente para serviços educaciona­is, Cherto vê o setor aquecido, seja para franquias ou outros modelos de negócio, há algum tempo.

“Esse mercado cresce desde a ascensão da classe C no primeiro governo Lula. São pessoas cujo principal objetivo e sonho é a educação, sua ou dos filhos, para conseguir ascender financeira­mente”, diz.

Com foco justamente nas classes C e D, o Instituto Embelleze, que capacita profission­ais do mercado da beleza (cabeleirei­ros, manicures, depiladore­s etc.), adotou o modelo de franquias em 2003. Hoje há 310 delas no país e três no exterior. A empresa faturou R$ 230 milhões em 2018.

Segundo Eduardo Costa, gerente de marketing, o Embelleze atrai alunos mesmo quando há crise no país.

“Claro que há uma queda, mas as pessoas buscam soluções para ganhar dinheiro. Há muitos que chegam desemprega­dos, fazem um curso e montam salão na própria garagem”, conta.

Cerca de 70% dos alunos do Embelleze são mulheres. Mas o número já foi maior. É que a moda das barbearias retrô, nos últimos anos, atraiu homens que buscam capacitaçã­o para este trabalho.

O empresário Zilber Félix, 44, de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo) é o maior franqueado do Embelleze no país. Ele tem 18 unidades entre São Paulo, Espírito Santo e estados do Nordeste.

Segundo Félix, 90% de seus alunos buscam se tornar microempre­endedores.

“A grande maioria não quer trabalhar em salão. Desejam ganhar dinheiro por si só, atendendo em sua própria casa ou visitando o cliente.”

Cada uma das unidades de Félix, que é franqueado há 15 anos, tem entre 15 e 20 funcionári­os e fatura cerca de R$ 1 milhão por ano.

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Ilustração Jairo Malta
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Lucas Seixas/ Folhapress Aula em São Bernardo do Campo do Instituto Embelleze, que forma profission­ais da estética

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