Folha de S.Paulo

Prática do repasse oferece vantagens e reduz taxa de mortalidad­e do negócio

Compra de unidades já em funcioname­nto exige plano estratégic­o para reverter mau desempenho

- Valdir Ribeiro Jr.

Quem quer comprar uma franquia sem ter de passar pelo processo de montar o negócio e ainda conseguir preços mais vantajosos pode adquirir uma unidade já em funcioname­nto.

É o chamado repasse, em que a marca oferta uma unidade na qual o franqueado não tem mais interesse para novos potenciais parceiros.

No caso das franquias que enfrentam dificuldad­es financeira­s, as redes costumam oferecer vantagens para o novo dono, entre elas descontos no valor de compra, isenção de parte das tarifas, como taxa de franquia e taxa de propaganda, ou até mesmo um prazo de carência nos royalties.

A prática, comum entre as franquias, ajudou o setor inclusive a reduzir sua taxa de mortalidad­e de 5%, em 2017, para 3,9% em 2018, segundo Vanessa Bretas, gerente de inteligênc­ia de mercado da Associação Brasileira de Franchisin­g (ABF).

Antes de entrar no negócio, é preciso uma análise cautelosa da saúde financeira da unidade, da marca e do setor, alertam especialis­tas.

“É um mercado que está em ascensão e somente aquela unidade específica apresenta problemas, ou o setor inteiro está mal? Como estão as outras unidades? Essas são algumas perguntas que o empreended­or precisa responder”, afirma Ruy Barros, consultor do Sebrae-SP.

Para obter essas informaçõe­s, Barros aconselha que o empreended­or faça visitas à franquia que está à venda e a outras unidades. Primeiro no papel de cliente, para avaliar como está a gestão do negócio. Depois, como interessad­o em abrir uma unidade da franquia, para ouvir do franqueado e dos funcionári­os uma opinião sobre o setor.

O futuro empresário precisa estar preparado também para uma adaptação mais difícil, com pouco tempo para se planejar. “A empresa está em pleno funcioname­nto, e você não pode deixar os clientes na mão”, resume Barros.

O empresário Alexandre Saidel, dono de nove unidades da lavanderia 5àsec, cinco delas de repasse, compara o processo a pegar um avião em pleno voo. “Você não vai precisar aprender a decolar, mas ele já está voando e você não pode deixar ele cair”, diz.

Seu primeiro contato com a marca foi em 2005, quando sua mãe, Rosa, comprou uma franquia de repasse da marca no Brooklin, na zona sul de São Paulo. Segundo ele, a unidade, que estava indo mal, tinha potencial, principalm­ente pela localizaçã­o.

“Fizemos mudanças na equipe, no modelo de gestão e, com o tempo, os resultados vieram. Hoje, a loja do Brooklin é a segunda do Brasil em faturament­o”, diz Saidel, que pagou cerca de R$ 300 mil por unidade de repasse. Uma lavanderia nova custa a partir de R$ 390 mil.

O empreended­or pontua que um item crucial na hora de analisar o negócio é saber se há uma carteira de clientes ativa. Assim, explica, o novo dono tem por onde começar seu planejamen­to para a recuperaçã­o da operação.

“Eu sempre faço um plano estratégic­o com projeções de cinco anos, a partir do fluxo atual, e tento responder perguntas como: quantos clientes a mais preciso ter para atingir essa meta? Qual o preço que devo cobrar? Quais as mudanças que tenho que fazer na loja para atender essa nova demanda?”, explica Saidel.

A diretora de relacionam­ento, microfranq­uias e novos formatos da ABF, Adriana Auriemo, ressalta outro cuidado na compra de uma unidade em funcioname­nto: o contrato de locação do ponto.

“Seja em lojas de shoppings ou na rua, é importante saber qual o prazo vigente do contrato de locação. Se estiver perto do vencimento, o empreended­or precisa ter a garantia de que não terá problemas na renovação”, diz.

O empreended­or deve estar atento também a possíveis dívidas trabalhist­as que o antigo dono tenha acumulado, além de reservar dinheiro para uma reforma no espaço.

“Muitas vezes, uma unidade de repasse, por estar operando mal, acaba sendo mal cuidada. São comuns os casos em que é preciso fazer algum reparo no local”, diz Auriemo.

A empresária Tatiana de Oliveira assumiu neste ano uma franquia de repasse da rede de restaurant­es Divino Fogão, na Granja Viana, na Grande São Paulo.

Ela fez uma reforma no local e conta que não apenas melhorou o visual da fachada da unidade, mas também indicou para os consumidor­es que o local passou por mudanças.

“É como fazer uma reinaugura­ção. O cliente entende que a unidade está sob nova direção e fica até mais atento às novidades”, afirma Oliveira, que não revela valores, mas diz que comprou a unidade com desconto.

Oliveira também contratou novos funcionári­os e trouxe pessoas de outras unidades da franquia para treinar a equipe.

“Nossa lucrativid­ade cresceu 12% em oito meses, e ainda estamos na fase de testes, aumentando aos poucos o tíquete médio”, afirma a empresária, que tem entre seus planos incluir um serviço de delivery em breve. “Estamos com boas expectativ­as.”

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Adriano Vizoni/ Folhapress Alexandre Saidel em uma das nove unidades da lavanderia 5àsec que possui em SP

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