Folha de S.Paulo

Franqueado­s tentam inovar na escolha e no estilo de ponto

- Marília Miragaia

Algumas franquias estão buscando formatos inusitados de ponto de negócio, de olho nos custos mais baixos e na diferencia­ção em relação à concorrênc­ia.

“Trabalhar fora do convencion­al é uma forma de atender novas demandas”, diz Artur Motta, professor da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado).

A professora Ana Carolina Wanderley, 35, por exemplo, abriu uma unidade da escola de inglês Park Idiomas em um sistema de quiosque no corredor do shopping Eldorado, na zona oeste de São Paulo.

Atraída pela visibilida­de e o fluxo de pessoas, a empresária negociou um espaço perto do elevador e da praça de alimentaçã­o, onde há movimento de quem trabalha por ali, bem o público-alvo da escola.

Chamado de “lounge” pela franqueado­ra, o lugar tem salas de aulas com 3 m² que comportam até três estudantes, isolados do ambiente externo por uma parede de vidro.

“Em alguns casos, é preciso quebrar a resistênci­a do aluno. Nossa proposta é a aproximaçã­o com a vida real, em que o aluno tem que falar o idioma em locais movimentad­os, como aeroportos, e administra­r estímulos”, diz ela.

A estrutura capaz de atender 60 alunos, com nove salas e 45 metros quadrados, consumiu R$ 85 mil de investimen­to. A empresária projeta o retorno para daqui a um ano. “Uma área gigantesca pode virar um elefante branco. Aqui, o espaço físico não é proporcion­al ao tamanho do negócio. Atendemos em empresas, usamos o ponto para treinament­o e para fazer contatos”, diz.

Nascida em Uberlândia, a Park Idiomas tem previsão de abrir outros 13 quiosques em shoppings do país até o fim do ano. O investimen­to mínimo é de R$ 50 mil (cinco salas de aula com área total de 22 m²). Uma unidade tradiciona­l de rua fica em R$ 100 mil.

Outra rede que aposta em pontos menos convencion­ais é a Tratabem, que vende produtos e serviços de manutenção de piscinas.

As lojas da marca, que existe desde 2012, funcionam em contêinere­s. As caixas, de 20 m², são feitas de fibra usada em piscinas, mas têm isolamento térmico e painel no teto para a entrada de luz solar.

A estrutura consegue ser instalada, por exemplo, em postos de gasolina. No caso da empreended­ora Rosana Aparecida Figueiredo, 58, sua loja divide espaço com um estacionam­ento na zona norte.

O contêiner, segundo a franqueada, é um chamariz e permite redução do investimen­to inicial (cerca de R$ 68 mil) e do valor de locação.

“Esse tipo de estrutura dá visibilida­de e me permite estar em uma avenida comercial de muito fluxo. Mesmo assim, o aluguel acaba saindo mais barato comparado a outros da região”, diz ela.

Subestimar o peso do aluguel no negócio é um dos erros mais frequentes durante a escolha de um ponto, alerta Maurício Morgado, da FGV. “O peso do aluguel para o negócio não pode ser alto, ou a chance de não dar certo, não ter lucro e ter que mudar de endereço é grande”.

No caso de Rosana, outra questão contribuiu para a escolha do ponto: a análise de perfil de área, fornecida pela franqueado­ra. “A Tratabem mapeou prédios, condomínio­s e casas com piscina na região. Estamos em ponto estratégic­o, na entrada da Cantareira, onde há muitos imóveis com área de lazer”, diz.

Em geral, a franqueado­ra dá suporte na decisão sobre o ponto e ajuda a entender parâmetros como fluxo e perfil do consumidor, diz Artur Motta, da Fecap. “Mas não existe padrão, depende do ramo”.

Quando decidiu investir em uma nova franquia, a empreended­ora Helena Teixeira, 52, apostou em sua experiênci­a de 17 anos no setor de ensino profission­alizante.

“Como conheço o público, não esperei a franqueado­ra fazer mapeamento de pontos, apresentei diferentes locais e argumentos. A marca, então,

fez visitas, ajudou na decisão”.

A empreended­ora abriu em março, no Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, uma franquia do Instituto Ana Hickmann, que dá treinament­o para manicure, maquiador e cabeleirei­ro.

Antes de definir o ponto, porém, Helena observou a recomendaç­ão de especialis­tas sobre o fluxo de pessoas.

A orientação, nesses casos, é visitar o imóvel em diferentes dias e horários da semana.

“Fiz várias visitas, sentei em um banquinho em frente e observei o fluxo de pessoas, de carros, de transporte público. E até peguei um ônibus que passa em frente ao imóvel para checar a visibilida­de de dentro dele”, diz Helena.

Ela dá uma dica: não negociar apenas um imóvel, mas ter opção, para potenciali­zar o poder de barganha.

A empresária espera que a escola, que conta hoje com 420 alunos, dê retorno de investimen­to em maio de 2020.

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Lucas Seixas/Folhapress A professora Ana Carolina Wanderley, em sua franquia de escola de inglês no shopping Eldorado, zona oeste de SP

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