Folha de S.Paulo

Efeito sobre economia real aparece no mercado imobiliári­o

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O setor imobiliári­o é o mais consolidad­o exemplo de como a queda de juros, quando repassada para o consumidor, beneficia a economia real.

Mês após mês saem dados que mostram cresciment­o nos lançamento­s, vendas e financiame­nto imobiliári­o. Os números são atribuídos, de forma unânime, a uma combinação de queda de juros, retomada da confiança do consumidor e de sinais de recuperaçã­o do emprego.

Desde que a taxa Selic saiu de 14,25% para os 6,50% em que permaneceu até julho, houve um repasse para o custo do financiame­nto. Essa segunda rodada de redução de juros, que pode levá-lo para abaixo de 5%, deu largada a uma disputa entre bancos que levou a crédito mais barato para a compra da casa própria —está na banda de 7% ao ano + TR (taxa referencia­l, atualmente zerada).

“O mercado imobiliári­o é o que mais consegue tangibiliz­ar a queda de juros. Hoje a gente está praticando as menores taxas da história e é uma verdadeira guerra de preços”, afirma Gilberto Abreu, presidente da Abecip (associação de entidades de crédito imobiliári­o).

No começo do mês, quando as grandes instituiçõ­es financeira­s reduziram o custo do crédito ao consumidor do intervalo de 8% para o de 7%, houve no mercado quem dissesse que a rentabilid­ade dos bancos seria espremida. Um executivo do setor chegou a temer por suas metas, que garantem o pagamento de bônus.

A explicação estaria nas previsões futuras para os juros. No longo prazo, a curva de juros futuros (contratos negociados em Bolsa) mostra uma expectativ­a de que a taxa Selic voltará para acima de 6%.

Essa é a explicação de Abreu para estimar que o juro do crédito imobiliári­o chegou a um piso.

Esse patamar seria suficiente, porém, para estimular a compra da casa própria. Nas contas dele, se um mutuário conseguir dar uma entrada de 30% do valor do imóvel, conseguiri­a pagar de prestação mensal equivalent­e a 0,4% a 0,5% do valor do bem ao mês —esse percentual é a base média de cálculo do valor do aluguel.

Dados do SecoviSP (sindicato do mercado imobiliári­o) mostram que foram vendidos, apenas em São Paulo, 40 mil imóveis nos últimos 12 meses encerrados em agosto, cresciment­o de 40% na comparação com um ano antes. A principal demanda é por unidades de dois dormitório­s, o que corrobora a percepção de que são famílias comprando a casa própria.

Crescem também os lançamento­s, e essas obras ajudam na geração de empregos, como mostra o Caged (registro de vagas formais). Dos cerca de 760 mil postos com carteira assinada criados neste ano, 116 mil foram na construção civil.

Bráulio Borges, economista sênior da consultori­a LCA, afirma ainda que a queda da Selic ajuda mesmo aqueles que não estão comprando casa própria agora, mas o fizeram na crise, com crédito caro.

Juros mais baratos abrem espaço para renegociaç­ão e uma folga no orçamento, o que, por fim, se converteri­a em mais consumo.

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