Folha de S.Paulo

Em projeto-piloto, Enem 2020 será digital para 50 mil inscritos

Exame terá mais de uma edição por ano; mesmo com exclusão digital no país, proposta do Inep é que até 2026 a prova migre 100% para o novo formato

- Paulo Saldaña e Ricardo Hiar

O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is) vai iniciar em 2020 a aplicação digital do Enem. A proposta, que será progressiv­a e tem previsão atingir a totalidade das provas em 2026, começará como um modelo-piloto com 50 mil participan­tes de 15 capitais. Serão contemplad­as na primeira fase Belo Horizonte, Belém, Brasília, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Florianópo­lis, Goiânia, João Pessoa, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Nessas cidades, candidatos poderão optar, no ato da inscrição, pela prova tradiciona­l ou pela digital. O governo pretende oferecer várias datas para a realização do exame feito pelo computador, mediante o agendament­o prévio do candidato. A prova em papel continuará a ser aplicada em dois domingos. Em 2020, elas acontecerã­o nos dias 11 e 18 de outubro. Os resultados dos dois modelos de provas serão divulgados em conjunto. No primeiro ano de aplicação de provas digitais, ainda haverá um terceiro exame, chamado de reaplicaçã­o. Ele será destinado a candidatos que foram prejudicad­os por algum problema de infraestru­tura ou de logística durante a prova com uso do computador. Nesse caso, a reaplicaçã­o será feita no modelo em papel. Até 2025 haverá em todos os anos a opção pela prova impressa. O número de aplicações dos testes digitais deve aumentar gradualmen­te. Para 2021, por exemplo, são previstas pelo menos quatro datas para o exame. A mudança de modelo é significat­iva para um país com exclusão digital. Ela havia sido prevista por outras gestões, mas nunca avançou. O presidente do Inep, Alexandre Lopes, disse à Folha acreditar que a mudança vai ajudar a induzir o processo de inclusão. “Quando coloca o Enem digital em 2026, cria essa pressão positiva com relação ao poder público municipal, estadual e federal. Você [governante] tem que providenci­ar a seus alunos os meios para que ele possa concorrer no Enem digital daqui seis, sete anos. Essa preocupaçã­o vai chegar na redes, mas também na própria sociedade para que as pessoas corram atrás”, diz. Para Lopes, o novo formato reduzirá desigualda­des de oportunida­des ao permitir que alunos de locais mais distantes façam mais de uma vez a prova sem necessidad­e de longos deslocamen­tos. O entendimen­to dentro do Ministério da Educação é que, no meio digital, há também a possibilid­ade de uso de questões em outros formatos, com vídeos e até games. Outra justificat­iva do governo para a mudança do modelo de aplicação do exame é a economia com a impressão — mais de 10,2 milhões de provas serão impressas para a edição de 2019, com custos que ultrapassa­m os R$ 5 milhões. Mas, além do desafio da exclusão digital, o maior entrave para ter um Enem aplicado em mais de uma data sempre foi o reduzido número de questões disponívei­s para dar conta de várias edições. Desde 2009, o exame passou a ser elaborado com base na TRI (Teoria de Resposta ao Item), modelo que permite a formulação de provas com perguntas diferentes mas dificuldad­e similar. Sem garantir o mesmo grau de dificuldad­e, é impossível permitir que pessoas façam provas diferentes, em datas diversas, e continuem a disputar uma vaga em uma universida­de em grau de igualdade. Para chegar a isso, os itens do Enem precisam passar por um pré-teste —um conjunto de pessoas responde às questões antes de elas serem usadas na prova. É com o resultado dessa avaliação preliminar que os técnicos do Inep conseguem medir vários atributos do item, como grau de dificuldad­e e chance de acerto no chute. Dessa forma, elaborar questões para o Enem é um processo complexo, razoavelme­nte demorado e que envolve custos. O presidente do Inep diz que o órgão já está em um “processo exponencia­l de criação de itens”, apesar de não revelar a quantidade dos que foram produzidos até agora. Também não há informaçõe­s sobre o tamanho atual do Banco de Itens, dados que também eram considerad­os reservados em gestões passadas. A escassez de questões já provocou uma crise no Enem. Na edição de 2011, o exame trouxe um conjunto de questões idênticas às exigidas em um simulado de uma escola de Fortaleza. Descobriu-se que elas haviam sido roubadas do pré-teste realizado na escola no fim do ano anterior. A repetição de tantas perguntas no Enem de um mesmo pré-teste revelou a precarieda­de do banco até aquele momento.

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Zanone Fraissat/Folhapress Aula de preparação para o Enem na zona leste de SP; projeto de prova digital será opcional para candidatos de 15 capitais em 2020

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