Folha de S.Paulo

Soderbergh está distante da velha forma em ‘A Lavanderia’

- Teté Ribeiro

A Lavanderia *****

Estados Unidos, 2019. Direção: Steven Soderbergh. Elenco: Gary Oldman, Antonio Banderas e Meryl Streep. Disponível na Netflix. 16 anos. Há tantos filmes baseados nos escândalos financeiro­s recentes ou em vazamentos que os revelaram que poderia ser criado um subgênero no cinema apenas para a categoria. Alguns são memoráveis, caso de “Margin Call - O Dia Antes do Fim” (2011), com Kevin Spacey e Paul Bettany.

Outros são apenas ok, como “A Grande Aposta” (2015), com grandes atores que vão de Ryan Gosling a Steve Carell, mas sem alma. “A Lavanderia”, de Steven Soderbergh, que estreou na última sexta na Netflix, infelizmen­te se encaixa nesta última categoria.

Inspirado num dos maiores vazamentos de dados sigilosos da história recente, o chamado caso Panamá Papers, conta a história de como um escritório de uma dupla de advogados baseado naquele país dava respaldo jurídico internacio­nal para dezenas de milhares de negócios na fronteira entre a elisão e a evasão fiscal que reunia no mesmo grupo mandatário­s estrangeir­os, expoentes do PIB mundial e até a empreiteir­a brasileira Odebrecht, segundo acusações repetidas pelo filme.

O vazamento é fruto de documentos enviados por uma fonte anônima para jornalista­s do diário alemão Süddeutsch­e Zeitung, em 2015, e depois garimpa dopo rum ano por um consórcio internacio­nal de reportagem em Washington.

O filme tema pretensão de explicar didaticame­nte como se deu o escândalo, elegendo um punhado de histórias human aspara darr os toà papelada. A melhor delas, fio condutor danar rativa,éa da viúva interpreta­da por Meryl Streep, que perde o marido num acidente de barco nos EUA e descobre que o dinheiro da indenizaçã­o da empresa náutica e o apartament­o que compraria com ele estão ligados à trama regida pelo escritório Mossack Fonseca.

Os dois advogados que emprestam o sobrenome à empresa e estão no centro do escândalo são vividos respectiva­mente pelos ótimos Gary Oldman e Antonio Banderas.

A dupla começa o filme narrando como e por que foi criado o dinheiro, depois o crédito, daí os impostos, depois os juros, até chegar nas contas off-shore, criadas para evitar legalmente o pagamento de impostos (elisão), sonegálos ilegalment­e (evasão) ou simplesmen­te lavar dinheiro.

Completam a trama um empresário africano (Nonso Anozie) que vive nos Estados Unidos e é pego numa traição pela filha com sua melhor amiga e um banqueiro alemão (Matthias Schoenaert­s) que tenta chantagear a mulher (Rosalind Chao) de um poderoso membro do Politburo chinês. O final de todos não é feliz, mas revelá-lo seria dar vários spoilers.

“A Lavanderia” só não é totalmente passável pelo elenco, sempre bom, e por ter sido dirigido por Steven Soderbergh, que descumpre a promessa de se aposentar desde 2013. Dá sempre uma vontadezin­ha de ver se o autor dos clássicos cult “Sexo, Mentiras e Videotape” e “Erin Brockovich” e da trilogia blockbuste­r que começa com “Onze Homens e um Segredo” voltou à velha forma.

Uma pena, mas não voltou.

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Divulgação Os atores Gary Oldman e Antonio Banderas em ‘A Lavanderia’, disponível na Netflix

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