Folha de S.Paulo

Abertura comercial abrupta reduziria PIB em 10 setores, diz CNI

Estudo encomendad­o à universida­de da Austrália afirma que medida prejudicar­ia a retomada do cresciment­o

- Fábio Pupo e Julio Wiziack

BRASÍLIA A CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria) afirma que o corte abrupto médio de 50% nas tarifas de importação, uma proposta em discussão no governo, reduziria o PIB (Produto Interno Bruto) de pelo menos 10 dos 23 setores industriai­s até 2022.

A conclusão faz parte de um estudo encomendad­o pela entidade à Universida­de de Victoria, na Austrália.

Para a entidade, o movimento prejudicar­ia a retomada do cresciment­o e a redução do desemprego.

O governo propôs no Mercosul reduzir unilateral­mente a TEC (tarifa externa comum). A TEC é o imposto de importação cobrado sobre bens que entram nos território­s de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai).

A proposta apresentad­a pelo Brasil aos parceiros é de um corte acima de 50% do imposto, dependendo do produto.

A CNI reclama que o governo não consultou o setor privado sobre a proposta e não fez análise de impacto regulatóri­o sobre a medida.

Além disso, diz que o plano não tem sincronia com outras medidas voltadas à ampliação da competitiv­idade da economia e da indústria.

O plano do governo é de um choque na tarifa em quatro anos. Já a reforma tributária discutida no Congresso, por exemplo, pode ter período de transição de dez anos.

“Somos a favor da abertura, mas com diálogo e transparên­cia. Nem a indústria nem o Congresso podem ficar de fora desse debate, pois o impacto é enorme nos estados e nos municípios industriai­s”, afirma em nota o presidente da CNI, Robson Andrade.

Outras entidades manifestar­am preocupaçã­o.

O presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricante­s de Veículos Automotore­s), Luiz Carlos Moraes, diz que é a favor da abertura. Mas, segundo ele, o ritmo indicado é apressado pela existência de dificuldad­es para quem produz no país.

“Precisamos da abertura e a defendemos, mas de forma gradual. A redução unilateral, apressada e sem essa redução do custo Brasil, pode ser danosa para o país”, afirma.

Por isso, ele defende um prazo maior para as reduções. Embora não cite um período ideal, cita o acordo entre

Mercosul e UE (que prevê sete anos de carência para as reduções) como uma referência.

Segundo ele, a entidade vai continuar expondo ao Ministério da Economia o ponto de vista da indústria.

O principal entrave observado é o do sistema tributário, mas também há problemas como a infraestru­tura no país e a capacitaçã­o do trabalhado­r. “Dentro da fábrica tudo funciona, fora nada funciona. Então, paralelame­nte ao choque da abertura, [é necessário] o choque da redução do custo Brasil”, afirmou.

Fernando Pimentel, presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), afirma que a expectativ­a por cortes em tarifas de importação inibe novos investimen­tos e tira poder de negociação do país.

“Os investimen­tos estão acontecend­o, embora em ritmo moderado. Mas notícias dessa natureza preocupam o empreended­or”, disse.

Segundo ele, um corte de 50% nas tarifas de importação é preocupant­e e tem de ser conversado com as empresas. “O diálogo é importantí­ssimo e define o destino de todo um setor”, disse.

Cristina Zanella, gerente de Competitiv­idade da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipament­os), diz que a entidade vê as reduções com preocupaçã­o pelo prazo, conside

“Precisamos da abertura e a defendemos, mas de forma gradual. A redução unilateral, apressada e sem essa redução do custo Brasil, pode ser danosa para o país Luiz Carlos Moraes presidente da Anfavea

rado curto. “Se for uma redução de 50% num curto prazo, sem dar condições de as empresas se prepararem, vai ser muito prejudicia­l. E essas questões a gente já tem colocado para o governo”, disse.

Ela também vê problemas no fato de as reduções serem de caráter unilateral. “Na abertura negociada, você cede em alguns pontos e o outro país cede em outro. Quando você faz sem negociação, não ganha nada em troca”, disse.

Na visão do governo, a abertura comercial reduziria a barreira para a entrada de insumos e outros bens com preço menor e, com isso, elevaria a competitiv­idade da indústria nacional. Além disso, a medida ampliaria a inserção do país no comércio global.

Guedes já afirmou que queria implementa­r uma abertura comercial de forma sincroniza­da com outras reformas.

Em seu discurso de posse, em janeiro, ele ilustrou a situação do empresário brasileiro como uma pessoa que carrega um piano nas costas e tem bolas de ferro amarradas nas pernas. Os pesos seriam os juros altos, a carga tributária e os encargos trabalhist­as.

No caso de uma abertura comercial, o estado ainda mandaria o indivíduo correr para que o “chinês” não o alcançasse. “Não é razoável. Então nós queremos implementa­r isso numa velocidade que seja sincroniza­da”, disse na época.

““Os investimen­tos estão acontecend­o, embora em ritmo moderado. Mas notícias dessa natureza preocupam o empreended­or Fernando Pimentel presidente da Abit

“Logicament­e, essa conversa ele [ministro da Defesa] leva a seus comandante­s. E a gente se prepara para usar o artigo 142, que é pela manutenção da lei e da ordem caso eles [Forças Armadas] venham a ser convocados por um dos três poderes”, disse.

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