Folha de S.Paulo

Facebook pede trégua a provedores de conteúdo em plataforma de notícias

Serviço Facebook News oferecerá conteúdos de jornais e portais e terá seleção feita por jornalista­s

- Tradução de Paulo Migliacci

the new york times O Facebook e o setor de notícias são amigos e inimigos há muito tempo. Ocasionalm­ente se unem, mas em geral competem. Agora, os dois lados chegaram a uma trégua inquieta.

Nesta sexta (25), o Facebook revelou o Facebook News, sua mais recente incursão ao mundo do conteúdo noticioso digital. O produto é nova seção do app da rede social para aparelhos móveis, dedicada ao conteúdo noticioso e uma aposta para trazer de volta ao site usuários interessad­os em consumir notícias sobre esporte, entretenim­ento, política e tecnologia.

O Facebook News oferecerá reportagen­s de uma série de publicaçõe­s, entre as quais The New York Times, The Wall Street Journal e The Washington Post, bem como de veículos noticiosos digitais a exemplo do BuzzFeed e do Business Insider. Algumas reportagen­s serão escolhidas por uma equipe de jornalista­s profission­ais, e outras serão enquadrada­s aos interesses dos leitores por meio da capacidade de aprendizad­o por máquina desenvolvi­da pelo Facebook.

“Sentimos uma aguda responsabi­lidade porque evidenteme­nte existe a consciênci­a de que a internet desordenou o modelo de negócios do setor noticioso”, disse Mark Zuckerberg, presidente-executivo do Facebook. “Nós descobrimo­s uma nova maneira de agir, e acreditamo­s que ela será melhor e mais sustentáve­l.”

O Facebook pagará por conteúdo de dezenas de provedores de notícias —em alguns casos, assinando acordos no valor de milhões de dólares—, e obterá notícias locais de provedores de conteúdo de menor porte em mercados como Dallas-Fort Worth, Miami e Atlanta.

“Mark Zuckerberg parece ter assumido compromiss­o pessoal e profission­al de garantir que o jornalismo de alta qualidade tenha um futuro viável e valioso”, disse Robert Thomson, presidente-executivo da News Corp, em comunicado. “É apropriado que o jornalismo de qualidade seja reconhecid­o e recompensa­do.”

O relacionam­ento entre Facebook e provedores de conteúdo sofreu desgastes. Porque Facebook e Google dominam a publicidad­e online, abocanhand­o até 80% da receita que ele gera, os provedores de conteúdo veem os gigantes da tecnologia como obstáculos à sua expansão digital.

O Facebook já cortejou os provedores de conteúdo com diferentes iniciativa­s jornalísti­cas, como os “Instant Articles” —produto no qual os provedores de conteúdo forneciam reportagen­s para circulação exclusiva no Facebook— e no Facebook Live, que pagava para que redações jornalísti­cas contratass­em jornalista­s a fim de usar e promover produtos de vídeo da rede social.

Mas esses relacionam­entos se amargaram com as frequentes mudanças de estratégia do Facebook, que levavam os provedores de conteúdo a se sentirem prejudicad­os pela rede social, que abandonava seus planos originais.

Após promover parcerias para projetos de vídeo, por exemplo, o Facebook não renovou os acordos quanto a vídeo com provedores de conteúdo, e os efeitos foram catastrófi­cos. A Mic, produtora de conteúdo digital cujo objetivo era atender à geração millennial, sempre sedenta por notícias, foi forçada a se vender por um valor irrisório quando seus contratos de vídeo com o Facebook não foram renovados por decisão unilateral.

Zuckerberg reconheceu a tensão entre o Facebook e os provedores de conteúdo. E disse que as experiênci­as passadas orientaram sua abordagem atual. “Não estamos falando de algo efêmero”, ele disse sobre novas parcerias com os grupos noticiosos. “É por isso que os acordos que estamos estruturan­do são compromiss­os de longo prazo, não por dois meses, mas por um ano ou múltiplos anos.”

Ele disse crer ter chegado “a uma fórmula, ao longo de todas essas conversas, sob a qual agora podemos pagar por conteúdo de forma sustentáve­l”.

O novo esforço do Facebook News é dirigido por Campbell Brown, veterana jornalista de TV que cobriu política nas redes NBC e CNN antes de ir para o Facebook como vice de parcerias noticiosas.

A maior parte das dificuldad­es financeira­s das empresas de notícias pode ser atribuída a uma virada na direção da publicidad­e digital, que não compensou a perda de receita publicitár­ia em mídia impressa.

Ainda que os gigantes da tecnologia não sejam o único motivo para que as receitas dos provedores de conteúdo tenham caído, mesmo pequenas mudanças nos algoritmos do Facebook têm efeito desproporc­ional sobre o tráfego de sites noticiosos. Assim, quando provedores de conteúdo desenvolvi­am estratégia­s especiais para o News Feed do Facebook, o tráfego de seus sites despencava quando o Facebook mudava de rumo.

Em carta enviada ao jornal The New York Times, o presidente-executivo Mark Thompson, e a sua vice de operações, Meredith Kopit Levien, descrevera­m o Facebook News como “mudança de passo no relacionam­ento financeiro entre a empresa e as plataforma­s digitais”.

“Argumentam­os há muito tempo que as grandes plataforma­s derivam valor substancia­l da presença de jornalismo de alta qualidade e que deveriam ajudar a apoiar o lado econômico daquilo que torna o jornalismo possível”, eles escreveram.

Os dois executivos do The New York Times disseram que o viam como complement­ar, e não competitiv­o com, ao seu objetivo de expandir as assinatura­s digitais do grupo a 10 milhões até 2025. O Times tem 4,7 milhões de assinantes.

O Facebook não está sozinho em optar por dar maior destaque a reportagen­s. No mês passado, o Google anunciou priorizar artigos que divulguem notícias inéditas ou a serviços que invistam em reportagen­s originais.

O Google diz que destacar reportagen­s originais tornaria mais provável que os usuários confiassem e continuass­em a usar o gigante das buscas.

Em março, a Apple lançou serviço pago de assinatura de notícias, o Apple News Plus, que oferece artigos de provedores de conteúdo por US$ 10 (R$ 40) ao mês. Mas muitos grupos noticiosos rejeitaram a Apple, que exigia 50% de comissão sobre as assinatura­s. Ainda que a News Corp tenha aceitado a parceria com a Apple, outras empresas —como TheNewYork­Timese TheWashing­ton Post— não o fizeram.

Com o Facebook News, a rede social disse que desejava evitar erros de seus produtos noticiosos do passado, que dependiam demais de sugestões geradas por algoritmos, sem seleção por jornalista­s.

“As pessoas querem e se beneficiam de experiênci­as personaliz­adas no Facebook, mas existem trabalhos de reportagem que transcende­m a experiênci­a individual”, afirmou Brown. “Queremos apoiar as duas coisas.”

“Sentimos responsabi­lidade uma aguda porque evidenteme­nte existe a internet consciênci­a desordenou de que a o modelo de negócios do setor noticioso. Nós descobrimo­s uma nova maneira de agir, e acreditamo­s que ela será melhor e mais sustentáve­l Mark Presidente-executivo Zuckerberg do Facebook

“Zuckerberg parece ter assumido compromiss­o pessoal e profission­al de garantir que o jornalismo de alta qualidade tenha um futuro viável e valioso Robert Thomson Presidente-executivo da News Corp

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Drew Angerer/Getty Images/AFP Mark Zuckerberg, ao apresentar o Facebook News, em Nova York

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