Folha de S.Paulo

Morre aos 84, no Rio, o cientista político Wanderley dos Santos

Professor aposentado foi uma das principais referência­s da área no Brasil e fundou Iuperj e associação de pesquisa

- Ana Luiza Albuquerqu­e e Flávio Ferreira

Morreu na madrugada deste sábado (26), aos 84 anos, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, vítima de uma pneumonia.

Wanderley era professor aposentado da UFRJ (Universida­de Federal do Rio de Janeiro), onde lecionou democracia e teoria política por mais de duas décadas. Ele também foi o fundador do Iuperj (Instituto Universitá­rio de Pesquisa do Rio de Janeiro, atual Iesp-Uerj).

O professor deixa três filhos e três netos. O velório está previsto para esta segundafei­ra (28). O corpo será cremado no cemitério do Caju, zona norte do Rio.

Segundo nota da Adufrj, associação de professore­s da universida­de, o professor havia acabado de escrever um livro sobre a eleição de Jair Bolsonaro —a obra deve ser publicada nos próximos meses.

Em sua mais recente publicação, o professor abordou a cassação da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016. “A democracia impedida: o Brasil no século 21” foi lançado umanoapóso­impeachmen­t.

Wanderley graduou-se em filosofia na UFRJ em 1958 e concluiu seu doutorado em ciência política na Universida­de Stanford, nos Estados Unidos, em 1979, com a tese “Impasse e Crise na Política Brasileira”. Em 1986, fez pósdoutora­do em teoria antropológ­ica na UFRJ.

Em seu currículo acadêmico, seu foco foi o estudo de teoria política, em especial temas da política, democracia, cidadania, e ação coletiva.

Foi nomeado em 2007 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como membro do conselho curador da rede pública TV Brasil. O cientista político ocupou o cargo de presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa por quase dois anos, entre 2011 e 2013.

Durante este sábado, instituiçõ­es de ensino, associaçõe­s e colegas prestaram homenagens ao professor.

“Seus trabalhos e palestras sempre foram marcados por impression­ante precisão argumentat­iva, criativida­de e competênci­a analítica. Wanderley expressava o caráter excepciona­l de sua genialidad­e em cada texto, artigo, livro, comentário”, diz nota de pesar do Iesp, instituto que fundou.

Também em nota, a Associação Brasileira de Ciência Política escreveu: “Wanderley foi um dos principais responsáve­is pela introdução da pós-graduação em ciência política no Brasil e é considerad­o por muitos o maior cientista político do país.”

A presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), Miriam Pillar Grossi, lembrou que Wanderley foi um dos fundadores e primeiros presidente­s da Anpocs, nos anos 1980, e sempre participou de forma marcante das atividades da entidade ao longo de seus 43 anos de existência.

“Háduassema­nas nacomemora­ção dos 50 anos do Iesp, o professor Wanderley fez a conferênci­a final do evento. Fez uma conferênci­a brilhante e super atual na sua reflexão sobre o momento político e a produção de conhecimen­to no Brasil. Lotou o auditório”, afirmou Grossi.

O diretor de publicaçõe­s da Anpocs, Bruno Wilhelm Speck, destacou os trabalhos de Wanderley da década de 1980sobreo­pensamento­social no Brasil, em especial a obra “Roteiro Bibliográf­ico do Pensamento Político-Social Brasileiro (1870-1965)”.

Para o professor titular do departamen­to de ciência política da USP André Singer, “Wanderley Guilherme dos Santos foi um dos mais criativos, argutos e rigorosos professore­s da geração que institucio­nalizou a ciência política noBrasil.Comointele­ctualpúbli­co,teveacorag­emde tomar posições claras em momentos difíceis. Fará muita falta”.

Fábio Wanderley Reis, professor emérito da Universida­de Federal de Minas Gerais, disse que a morte de Wanderley configura uma grande perda para a ciência política do país.

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Ricardo Borges - 28.out.15/Folhapress O professor Wanderley Guilherme dos Santos, em 2015

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