Folha de S.Paulo

Abrir e competir

Ainda a ser detalhado, plano para expor empresas brasileira­s à competição externa é bem-vindo

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Sobre plano de reduzir tarifas de importação.

O Brasil deveria caminhar para tornar-se uma economia competitiv­a e uma sociedade inclusiva. Esses objetivos só serão alcançados mediante uma série de reformas que retirem entraves e privilégio­s do setor produtivo e que, do outro lado, condicione­m o Estado como alavanca de ascensão social para dezenas de milhões de brasileiro­s.

Nessa marcha, o governo fará melhor se transferir as decisões e os riscos de produzir para a iniciativa privada, enquanto se especializ­a em zelar para que as regras do jogo econômico sejam simples, estáveis, não discrimina­tórias —e estimulem, assim, a competição.

Essa convicção tem levado a Folha a apoiar, em seus editoriais, projetos liberaliza­ntes em todos os governos e legislatur­as que se sucederam neste ciclo democrátic­o. Não é diferente agora, com a agenda de modernizaç­ões abraçada pelo Ministério da Economia e pelas lideranças da Câmara e do Senado.

Vencida a mudança na Previdênci­a, cujo efeito na redução de desigualda­des no acesso a esse bem público é ao menos tão importante quanto a economia para o erário, o ministro Paulo Guedes indica que pretende abrir mais a economia à concorrênc­ia internacio­nal.

Pelo que foi ventilado até agora, haveria um ambicioso programa de reduções unilaterai­s do imposto de importação, que faria a proteção média da indústria cair, ao longo de quatro anos, dos atuais 13,6% para 6,4% do preço do bem adquirido de empresa estrangeir­a.

Essa média geral embute, como se noticiou, reduções acentuadas em segmentos como automóveis e calçados, borracha e aço. Associaçõe­s que representa­m interesses industriai­s reclamam da profundida­de e da velocidade propostas.

Não se pode descartar a hipótese de que o governo de Jair Bolsonaro (PSL), ao dar tais sinais, deseja na verdade pressionar os parceiros no Mercosul —Argentina, Paraguai e Uruguai— a preservar uma política de abertura conjunta.

Não há dúvida, no entanto, que interessa ao Brasil abrir-se ao comércio externo com certa rapidez, dado o seu atraso nessa agenda. A melhor teoria e a melhor evidência concordam que estimular a troca de bens e serviços entre países impulsiona a produtivid­ade e a prosperida­de de suas populações.

Mas é preciso atentar para o fato de que investimen­tos foram feitos sob regras de proteção, que não deveriam ser subvertida­s da noite para o dia, sem regimes de transição. Arrancar de parceiros comerciais concessões para as exportaçõe­s brasileira­s nesse processo, quando possível, também é boa diretriz.

Quanto ao Mercosul, a alternativ­a de reduzi-lo a um acordo de livre comércio —o que liberaria o Brasil para determinar suas próprias tarifas de importação— tampouco deveria ser descartada pelas autoridade­s brasileira­s.

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