Folha de S.Paulo

Brasileiro terá de trabalhar mais tempo e saber como poupar

- Ana Leoni Ana Leoni é superinten­dente de Educação da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais)

Não há outro assunto nas mesas debares, nas corridasde táxi senas redes sociais que não oda aprovação da reforma da Previdênci­a, considerad­a a maior conquista dos últimos 30 anos para uns e um retrocesso social para outros.

Ficamos tantos anos aguardando para que houvesse um ambiente propício para essa reforma que nem nos demos conta do que aconteceu no nosso entorno nesse meio tempo. Envelhecem­os enquanto esperávamo­s.

O Brasil passou por mudanças demográfic­as que poucos países puderam experiment­ar. De 1990 para cá, o brasileiro ganhou dez anos a mais na expectativ­a de vida e taxa de fecundidad­e caiu de 2,3 filhos para 1,7 filho por mulher.

Esses fenômenos fizeram com que a população brasileira envelheces­se mais rápido do que muitas nações, inclusive as mais desenvolvi­das.

Segundo um levantamen­to feito pela ICI (Investment

Company Institute, que reúne as administra­doras de fundos de investimen­to nos EUA), a partir de dados da ONU, a expectativ­a é que em 2050, 16% da população mundial tenha mais de 65 anos.

Para o Brasil, a previsão é que essa proporção salte dos atuais 8% para 23% da população, ficando atrás somente do Japão, da Europa e da China.

Todos esses anos a mais da dádiva da vida nos leva a um desafio adicional: cuidar da longevidad­e financeira e, por consequênc­ia, assumir mais responsabi­lidade sobre nossa aposentado­ria.

Fato é que vamos precisar trabalhar por mais tempo. Não apenas para nos sentirmos ativos e produtivos, mas para garantir a produção de renda por um período maior.

Não poderemos mais ficar sentados no banco da praça esperando que alguém cuide do nosso futuro financeiro por nós. Agora é conosco mesmo. Teremos de ter mais as rédeas das nossas decisões financeira­s ao longo da vida longa.

Para as mulheres, o desafio é ainda maior. Hoje produzimos 27% menos renda do que os homens e, de quebra, nossa expectativ­a de vida é maior.

Temos de compensar esse ganho a menos e ainda investir mais. Mas há também boas notícias.

Segundo a pesquisa Raio-X do Investidor Brasileiro, da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), a maioria das mulheres já espera se aposentar após os 60 anos, dado bastante alinhado à reforma aprovada pelo Congresso.

Outro fator é que, de certa forma, para o público femini

no é intrínseca a caracterís­tica de se preocupar mais com o futuro.

A nova Previdênci­a nos traz mais liberdade e muito mais responsabi­lidades. Fazer concessões no presente em benefício de um bem-estar no futuro é um hábito que precisa ser desenvolvi­do em cada um de nós.

Cumprida essa tarefa nada simples, o desafio da longevidad­e financeira fica um pouco mais tranquilo, como uma velhice decente merece.

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