Folha de S.Paulo

A partir dos 50 anos, risco de cair na informalid­ade cresce

- Andre Luiz Marques Andre Luiz Marques é coordenado­r do Centro de Gestão e Política Públicas do Insper

são paulo A reformada Previdênci­a foi finalmente aprovada. Um dos seus pilar e sé a a idade mínima para aposentado­ria. A maioria dos países já havia adotado essa medida e o fizeram pelo mesmo motivo brasileiro: fecha raconta.

Aqui, a poupança feita pelo trabalhado­r, por meio das contribuiç­ões, é insuficien­te para custear sua aposentado­ria. E esse cenário se agravou nas últimas décadas por dois motivos: aumento da expectativ­a de vida e redução da taxa de fecundidad­e.

O aumento da expectativ­a de vida é sempre uma boa notícia. Porém, se o tempo de contribuiç­ão permanece fixo e o de utilização do benefício cresce, fica mais difícil fechar a conta. A alternativ­a é elevar o tempo de contribuiç­ão, minimizand­o a aposentari­a de uma pessoa com idade baixa e ainda muitos anos produtivos.

Aquedada taxa de fecundi da deé um segundo desafio. Em 1950, o Brasil tinha 19 pessoas em idade ativa para cada uma acima de 65 anos. No ano que vem, este índice estará em 7 e, em 2060, em 2,2. Essa redução implicará em uma menor geração de receita para o pagamento das aposentado­rias.

Combinados, esses efeitos têm um impacto maior. Antes da reforma, quem começasse a contribuir aos 18 anos poderia se aposentar aos 53. Em 2017, sua expectativ­a de vida era de 81 anos. Com isso, teria contribuíd­o por 35 anos e usufruído o benefício por 28, em média.

Se os valores fossem equivalent­es, não haveria problema. Mas a contribuiç­ão é bem inferior ao recebiment­o. Por isso, a idade mínima era necessária para fechar a conta.

O Brasil, porém, ainda tem outra grande tarefa. Em 2060, o número de idosos será o triplo do atual. Os desafios relacionad­os ao assistenci­alismo e emprego para essa população, que já se mostram grandes, só tendem a aumentar.

Quanto maior a idade, maior a tendência de gastos com saúde. Proporcion­ar a essas pessoas uma forma de vida saudável pode reduzir a pressão sobre os gastos nessa área.

O mercado de trabalho é outro desafio. Em setembro, havia 12,6 milhões de desocupado­s. O número vem decrescend­o, mas diretament­e relacionad­o ao aumento do trabalho informal, que atingiu 11,7 milhões de brasileiro­s, maior patamar da série histórica.

Esses informais não contribuem para a Previdênci­a. Com isso, o acesso ao benefício para eles parece ainda distante.

Historicam­ente, as maiores taxas de desemprego estão entre os jovens —a probabilid­ade de não estar empregado decresce até o homem atingir os 50 anos de idade.

Masa partir daí a chan cede emprego cai, e a informalid­ade passa a ser uma alternativ­a cada vez mais procurada pelos mais velhos, o que torna essa faixa etária vulnerável também sob o aspecto do trabalho.

A reforma previdenci­ária era mais do que necessária. Mas é somente um dos passos para o avanço do país. Agora, fora as demais reformas que o país precisa, precisamos construir um ambiente acolhedor para a população que chegará a idades mais avançadas. Essa população somos nós e nossos filhos. E não mais ade um futuro distante co moem 1950.

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