Folha de S.Paulo

Game que ecoa os filmes de Tim Burton usa néon mágico para combater bullying

‘Concrete Genie’ também lembra ‘Onde Vivem os Monstros’ e pode ser zerado em cerca de cinco horas

- Eduardo Moura

Deu no Denska Tribune, jornalzinh­o local: “Delinquent­es juvenis agora dominam a vila de pescadores abandonada”.

Depois de um derramamen­to de óleo, o que costumava ser uma cidade portuária próspera e animada se tornou poluída e sombria. Convém, claro, mencionar que estamos falando de um lugar fictício.

Em “Concrete Genie”, o protagonis­ta Ash perambula pelas ruas de Denska tentando se esquivar dos valentões que o perseguem, enquanto rabisca desenhos no seu caderno. Do papel, o artista urbano parte para as paredes.

“O enredo é sobre a imaginação de um garoto e sobre como ele se salva do bullying usando a criativida­de”, diz Jeff Sangalli, diretor de arte.

Os desenhos acabam ganhando vida. São “gênios”, criaturas amigáveis que ajudam seu solitário amigo humano. Lembram “Onde Vivem

os Monstros” —tanto o livro de Maurice Sendak quanto o filme de Spike Jonze—, só que numa versão bidimensio­nal em néon.

“No início eu achei que era um filme”, escreveu um usuário num vídeo de gameplay de “Concrete Genie” no YouTube. Mas narrativa é um jogo de PlayStatio­n 4.

Cabe ao jogador desenhar, nas paredes da cidade, cenários e criaturas que vão ajudar Ash em sua jornada. Dá para criar os monstrengo­s mais bizarros e desproporc­ionais possíveis, fica a critério do freguês.

Os bichos soltam grunhidos que lembram um Chewbacca mais comportado —aliás, foi na Lucasfilm que Sangalli e o diretor do jogo, Dominic Robilliard, se conheceram.

É possível zerar o jogo em menos de cinco horas, o que, em termos de duração, o põe mais próximo a um longametra­gem do que a outros lançamento­s de PS4 deste ano —“Marvel’s Spider Man” e

“Control”, por exemplo, giram em torno de 20 horas de gameplay, a depender das escolhas e da habilidade de quem joga.

“A gente ama cinema e animação, mas não foi nosso objetivo fazer algo que ecoasse um filme”, diz Sangalli.

“Nossa equipe é pequena, tem umas 20 pessoas. Você tem que ser realista quanto ao tamanho e ao escopo do projeto que consegue realizar”, diz Brent Gocke, produtor do jogo, ao explicar a duração do game. “Sendo bem honesto, ‘Concrete Genie’ é bem ambicioso para o tamanho da nossa equipe.”

“Nos inspiramos em qualquer trabalho de arte que celebra a imaginação”, diz Sangalli, que concorda com a comparação com “Onde Vivem os Monstros”, mas também cita Jim Henson, criador dos Muppets, e Tim Burton.

O game foi desenvolvi­do pela Pixelopus, um estúdio que, apesar de ser pequeno, está debaixo das asas da Sony. Originou-se de um grupo de estudantes da universida­de Carnegie Mellon que foi absorvido pela SIE Worldwide Studios, braço da fabricante japonesa dedicado ao desenvolvi­mento de jogos que também detém nomes como a Naughty Dog (da franquia “Crash Bandicoot” e “The Last of Us”).

O primeiro jogo do estúdio, de 2014, foi “Entwined”, nome que pode ser traduzido para “entrelaçad­os”. Numa estética bem mais experiment­al que “Concrete Genie”, o jogador controla um pássaro e um peixe estilizado­s num cenário etéreo. A recepção do game pelos críticos não foi das melhores.

O novo jogo da Pixelopus, lançado em 9 de outubro de 2019, já acumula resenhas positivas. “Concrete Genie” não é filme, mas está no IMDb, base de dados virtual do audiovisua­l, e, até o fechamento desta edição, tinha uma nota bem favorável —7,2, baseada em 17 avaliações de usuários.

No site, filmes e animações puro-sangue costumam ter uma quantidade de avaliações exponencia­lmente maior, mas fica aqui uma comparação: “Onde Vivem os Monstros”, de Spike Jonze, tem nota 6,7 e “A Noiva-Cadáver”, de Tim Burton, tem 7,3.

Concrete Genie

EUA, 2019. Diretor: Dominic Robilliard. Disponível para PlayStatio­n 4. R$119,90

 ?? Divulgação ?? Cena do jogo ‘Concrete Genie’
Divulgação Cena do jogo ‘Concrete Genie’

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