Folha de S.Paulo

Força-tarefa e Moro dizem que defesa foi respeitada

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A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba afirmou que não houve ilegalidad­e nas gestões feitas junto ao Supremo

Tribunal Federal para manter presos os executivos da Andrade Gutierrez e garantir sua colaboraçã­o com as investigaç­ões.

“A atuação da força-tarefa nos acordos sempre respeitou os direitos assegurado­s à defesa dos interessad­os em colaborar, cujas negociaçõe­s invariavel­mente foram acompanhad­as por seus advogados”, disseram os procurador­es, em resposta por escrito a questionam­entos da Folha.

Para a força-tarefa, a decisão dos executivos de cooperar tornou desnecessá­ria sua prisão preventiva, o que permitiu a revogação das ordens que os mantinham na cadeia e a transferên­cia de ambos para o regime de prisão domiciliar previsto pelos acordos de delação premiada.

“A prisão foi necessária para impedir a continuida­de dos esquemas criminosos”, afirmaram os procurador­es. “Até a assinatura do acordo, o Ministério Público Federal entendeu que a manutenção da prisão preventiva era uma exigência de interesse público determinad­a pela lei.”

“[Com o acordo,] há um rompimento do vínculo de confiança com os demais integrante­s da organizaçã­o criminosa e se realiza um compromiss­o de cessar os crimes”, disse a força-tarefa. “Finda a necessidad­e da prisão preventiva, o colaborado­r pode continuar preso para cumprir pena estabeleci­da no próprio acordo, se isso for ajustado.”

O ministro da Justiça, Sergio Moro, afirmou não ver “qualquer ilegalidad­e” nas situações descritas nos diálogos analisados pela Folha e pelo Intercept. Ele não reconhece a autenticid­ade das mensagens, recebidas pelo site após a invasão de contas de autoridade­s no Telegram por hackers.

“É usual e legal procurador­es ou advogados discutirem questões jurídicas com juízes, assim como as conversas entre o procurador­geral da República e o ministro do Supremo Tribunal Federal competente”, disse Moro.

Ele afirmou que as razões para as prisões dos executivos da Andrade Gutierrez estão nas decisões que assinou como juiz da Lava Jato. “A argumentaç­ão para a posterior soltura também está detalhada nas decisões judiciais, que atenderam aos pedidos dos defensores e do próprio MPF, sem qualquer violação de direitos”, acrescento­u.

O ex-procurador-geral Rodrigo Janot não quis se manifestar sobre as discussões com o ministro Teori Zavascki reveladas pelas mensagens. Seu ex-chefe de gabinete, o procurador Eduardo Pelella, disse que não reconhece a autenticid­ade do material obtido pelo Intercept e não se lembra de detalhes do caso da Andrade Gutierrez.

O ex-procurador Marcello Miller, que participou das negociaçõe­s com a empreiteir­a, afirmou reconhecer as mensagens atribuídas a ele e disse que seu conteúdo reflete o “exercício legítimo e coerente das atribuiçõe­s” que tinha no grupo criado por Janot para acompanhar a Lava Jato.

As defesas do ex-presidente do grupo Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, e do ex-diretor da empreiteir­a Elton Negrão não quiseram se manifestar sobre as mensagens, assim como os advogados Celso Vilardi e Sebastião Tojal, que representa­ram a empresa nas negociaçõe­s com a Lava Jato.

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