Folha de S.Paulo

Bolsonaro adota tom pragmático sobre Argentina

Antes de resultado das eleições, presidente brasileiro afirma que ‘quer ampliar qualquer comércio com país vizinho’

- Ana Estela de Sousa Pinto

abu dhabi O presidente Jair Bolsonaro adotou um tom mais conciliató­rio e voltado para interesses comerciais brasileiro­s ao comentar a situação política na Argentina e na Bolívia, em entrevista após seminário de negócios nos Emirados Unidos, na manhã deste domingo (27).

Em relação à Argentina, que elegeu o opositor de esquerda Alberto Férnandez, Bolsonaro afirmou que pretende “ampliar qualquer comércio com a Argentina” e espera que o kirchneris­ta não se oponha à abertura comercial pregada pelo Brasil. A declaração foi feita antes da definição do pleito argentino.

Os planos da equipe econômica para o Mercosul, porém, enfrentam oposição mesmo dentro do Brasil. Segundo a CNI (confederaç­ão industrial), isso afetaria os negócios com o segundo mercado para bens manufatura­dos brasileiro­s.

Na passagem pelo Japão, há uma semana, Bolsonaro aventou a possibilid­ade de a Argentina ser suspensa do bloco caso mantivesse a oposição aos planos brasileiro­s.

A relação entre o presidente eleito e o mandatário brasileiro não é boa. Fernández já chamou Bolsonaro de “racista, misógino e violento”.

Depois, passou a adotar tom mais moderado e a dizer que não falaria mais sobre o brasileiro nem responderi­a a provocaçõe­s. Ainda durante a campanha, em julho, o candidato argentino visitou o ex-presidente L ulana prisão, em Curitiba.

Num programa de TV um dia depois de vencer as eleições primárias, Fernández defendeu o petista e afirmou que gostaria de dizer a Bolsonaro que “Lula deveria estar livre para poder concorrer a uma eleição com ele”.

Bolsonaro, por sua vez, afirmou após a vitória da chapa opositora nas primárias que “bandidos de esquerda começaram a voltar ao poder”.

Depois de evitar comentar as eleições bolivianas no sábado (26), o presidente brasileiro disse no domingo que quer que a Bolívia “permaneça

um país amigo nosso”.

“Temos muitos negócios com ele, muito em especial na questão do gás. Mas não abrimos mão da questão democrátic­a”, disse o presidente.

No sábado, Evo Morales desafiou seus oponentes e a comunidade internacio­nal a provar uma suposta fraude na eleição que lhe deu seu quarto mandato consecutiv­o.

Diversas nações, entre as quais os EUA e o Brasil, questionar­am o resultado e solicitara­m um novo pleito para esclarecer dúvidas sobre a contagem de votos, que foi marcada por muitas idas e vindas.

Em postagem no Twitter, o Itamaraty afirmou que não reconhece a vitória de Evo “neste momento”. A missão de observação eleitoral da OEA (Organizaçã­o dos Estados Americanos) também recomendou outro pleito entre o atual presidente e o candidato Carlos Mesa como a “melhor opção” para resolver o imbróglio.

Bolsonaro afirmou que o país apoia a decisão da OEA de pedir recontagem e já recomendou um segundo turno.

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