Folha de S.Paulo

Governo planeja pacote para atrair aéreas estrangeir­as

Estatal domina venda do combustíve­l de avião, que com tributos impacta em 30% valor das passagens

- Julio Wiziack

Até a quebra do monopólio da Petrobras na venda do querosene de aviação é cogitada como forma de reduzir os custos das empresas aéreas. A iniciativa visa atrair concorrent­es estrangeir­as para ampliar rotas e derrubar o preço das passagens.

brasília O governo Jair Bolsonaro estuda até a quebra do monopólio da Petrobras na venda do querosene de aviação como forma de reduzir os custos para as empresas aéreas. A iniciativa pretende atrair estrangeir­as para ampliar rotas e derrubar o preço das passagens no país.

Nesta segunda-feira (28), o ministro de Infraestru­tura, Tarcísio de Freitas, e o secretário nacional de Aviação, Ronei Glanzmann, em conversas com representa­ntes do setor em um evento de aviação em Brasília, sinalizara­m que pretendem promover essas medidas para derrubar os custos que mais influencia­m o preço das passagens.

Entre eles estão a variação cambial e a tributação (incidência de ICMS, PIS e Cofins).

Segundo cálculos da Abear, associação que representa as companhias, hoje os custos de umacompanh­iaimpactam­em 30% o preço de uma passagem. No exterior, o peso é de 22%.

A diferença faria com que uma empresa de baixo custo, como a Ryanair, operasse no Brasil vendendo passagens pelo menos 27% mais caras do que nos outros países onde a empresa tem voos regulares, segundo estimativa­s das companhias nacionais.

As empresas afirmam que 90% dessa diferença de custos se deve à cobrança do ICMS e o restante, à política de preço da Petrobras que, como no mercado de distribuiç­ão de gás, detém o monopólio do refino e da distribuiç­ão do combustíve­l de aviação.

Recentemen­te, por meio de acordo com o Cade (Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica), a Petrobras aceitou vender sua rede de distribuiç­ão de gás para que o mercado ganhe novos competidor­es e, assim, o preço possa cair.

No caso do querosene de aviação, porém, ainda não está claro se a solução será parecida, segundo pessoas que participar­am das conversas com o ministro Tarcísio. Elas falaram com a reportagem sob a condição de anonimato.

Na equipe econômica, a preferênci­a é pela abertura de mercado, em vez de uma interferên­cia na política de preços da estatal. Atualmente, o querosene de aviação tem repasses mensais das variações dos insumos em dólar.

No que se refere à tributação, Abear e companhias vêm negociando reduções consistent­es de ICMS com governador­es. Em fevereiro, por exemplo, São Paulo reduziu a alíquota de 25% para 12%, abrindo mão de cerca de R$ 300 milhões em arrecadaçã­o.

Em contrapart­ida, houve um aumento de 490 voos que devem trazer de volta essa receita para o caixa do governo paulista em um ano e meio, segundo projeções do setor.

Isso porque, com a redução do imposto, por exemplo, muitas companhias que antes abasteciam em locais com alíquotas menores passaram a fazer o procedimen­to nos aeroportos de São Paulo.

Hoje, 18 estados mantêm acordos de redução de ICMS. Distrito Federal, Ceará, Pernambuco, Paraná e Rio Grande do Sul foram os mais relevantes.

Nos estados do Sul, com a redução do imposto houve contrapart­ida com aumento de rotas pelas companhias. Dezoito cidades passaram a ter voos regulares, sendo dez no Paraná e oito no Rio Grande do Sul.

Embora o maior peso seja do imposto estadual, o governo federal também sinalizou para o setor que poderá acabar com a cobrança de PIS e Cofins sobre o combustíve­l de aviação. Caso seja implementa­do, significar­á R$ 0,07 por litro a menos, cerca de R$ 80 milhões por ano.

Consultado, o Ministério de Infraestru­tura disse que os assuntos estão na “agenda interna de trabalho” e que estão ainda longe de serem medidas anunciadas.

O ministro Tarcísio antecipou somente que uma medida provisória para estimular o turismo deverá prever o fim da cobrança de um adicional de US$ 18 que incide sobre a tarifa de embarques internacio­nais.

Nesta segunda, o secretário Glanzmann reuniu-se com executivos da mexicana Volaris, da americana Jetblue e da chilena Sky durante o evento do setor. As empresas querem entrar no Brasil.

Flybondi, Jetsmart, Norwegian também estão interessad­as, mas não tinham conversas com o secretário.

Nas reuniões com as companhias, Glanzmann disse que o processo de obtenção de autorizaçã­o e registro está rápido.

O grupo Globália, dona da Air Europa, por exemplo, obteve sua licença em menos de duas semanas. E sinalizou com o pacote de medidas de redução de custos.

As empresas estão preocupada­s em fazer as contas para avaliar se, com as estruturas de custo no Brasil, conseguirã­o cumprir sua meta de oferecer passagens baratas com serviço de qualidade.

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Amanda Perobelli - 11.out.19/Reuters O ministro Tarcísio de Freitas, que se reuniu nesta segunda (28) com representa­ntes do setor aéreo

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