Folha de S.Paulo

Sem tempo a perder

Apesar dos esforços recentes, Brasil recua 15 posições em ranking global de competitiv­idade

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Sobre queda em ranking de competitiv­idade.

A queda da posição do Brasil no novo relatório de competitiv­idade do Banco Mundial, o Doing Business 2020, mostra como é difícil ascender na escala global de facilidade de negócios e eficiência regulatóri­a, que estão associadas ao grau de desenvolvi­mento econômico.

O relatório mede uma série de critérios específico­s, como abertura de empresas, permissões para construçõe­s, burocracia para transferên­cia de propriedad­e e facilidade para pagar impostos.

Apesar dos esforços recentes, o Brasil recuou para a 124ª posição, 15 abaixo do ano passado e similar ao 125º lugar obtido em 2018.

Não é que o país tenha piorado. A nota subiu em alguns quesitos, mas apenas 0,5 ponto no total (de 58,6 para 59,1, do máximo de 100). O problema é que os outros, sobretudo os grandes concorrent­es, estão melhorando mais rápido.

É o caso da China, que avançou fortemente na maioria dos quesitos e subiu sua nota em 4 pontos (8 vezes mais que o Brasil, portanto). Com isso, conseguiu saltar nada menos do que 15 posições —da 46ª para a 31ª— em apenas um ano.

Mais comparávei­s, os países da América Latina em geral também progridem rápido. Apesar dos problemas individuai­s, várias das principais economias da região aparecem à frente do Brasil.

O resultado mostra que o país não pode se contentar com melhorias pontuais para as empresas. Para progredir na corrida por investimen­tos será necessário um programa continuado, que remova os principais gargalos sistêmicos.

Dentre eles, aparece com destaque a questão tributária. Nesse quesito, o Brasil está realmente na lanterna —fica na incrível 184ª colocação, entre 190 países, em tempo gasto para pagar impostos.

Não é surpresa que seja assim, dado o conhecido caos normativo vigente, sobretudo na tributação de bens e serviços. Por isso, a reforma tributária é essencial para reforçar a competitiv­idade e colocar o país no radar dos investimen­tos.

Embora pareça existir disposição e raro alinhament­o político a favorecer a criação de um imposto sobre valor agregado em linha com os padrões globais, não houve avanço neste ano, dada a falta de foco demonstrad­a pelo Executivo, que perdeu tempo precioso tentando ressuscita­r a nefasta CPMF.

Tudo indica que caberá ao Congresso centrar esforços nessa pauta fundamenta­l para a economia. Não há tempo a perder, inclusive porque a concorrênc­ia não perde.

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