Folha de S.Paulo

Queiroz e as uvas

- Alvaro Costa e Silva

rio de janeiro O Queiroz parece a Magda. No melhor estilo da personagem de Marisa Orth no humorístic­o “Sai de Baixo”, ele se vangloriou de seu capital político e influência na indicação de nomes para o Legislativ­o: “Salariozin­ho bom desse aí, cara, pra gente que é pai de família, cai como uma uva”.

Apesar da burrice, a mensagem é de fácil entendimen­to. Quem recebeu o áudio de WhatsApp (tinha de ser WhatsApp, o software da nossa nova era) sabe muito bem do que ele está falando e pouco se importa com a confusão entre uva e luva. Em outra gravação, na qual o ex-policial se mostra preocupado com as investigaç­ões do Ministério Público do Rio, a linguagem é semelhante à de Caco Antibes, o personagem pilantra interpreta­do por Miguel Falabella: “O MP tá com uma pica do tamanho de um cometa para enterrar na gente”.

Assessor de Flávio Bolsonaro na Alerj entre 2007 e 2018, Fabrício Queiroz é suspeito de praticar “rachadinha” —quando um servidor comissiona­do devolve parte do salário. A pedido da defesa de Flávio, o presidente do STF, Dias Toffoli, suspendeu as investigaç­ões abertas a partir de relatórios do Coaf —com o que, numa penada só, travou outras 700 investigaç­ões e processos judiciais baseados em informaçõe­s de órgãos de controle como a Receita e o Coaf (este até mudou de nome).

Queiroz continua em atividade —dando consultori­as, comentando a atuação do presidente, quem sabe ainda “rachando”. Para ficarmos na mesma fruta citada no áudio, sua atuação nos bastidores do poder lembra o samba “Uva de Caminhão”, de Assis Valente, sucesso de Carmen Miranda: “Já me disseram/ Que você andou pintando o sete/ Andou chupando muito uva/ E até de caminhão”.

Questionad­o sobre o amigo, Bolsonaro soltou uma frase que aparenteme­nte não diz nada, mas pode significar tudo: “Ele cuida da vida dele e eu cuido da minha”. Só faltou gritar: “Cala a boca, Magda!”.

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