Folha de S.Paulo

TRE-SP prevê comprar notebooks de R$ 11,6 mil para juízes

- Joelmir Tavares e José Marques

são paulo Em meio a um período de dificuldad­e no Judiciário, o TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo) prevê comprar 50 notebooks ao custo unitário de R$ 11,6 mil para serem usados pelos sete juízes que compõem a corte e pela elite do tribunal.

O valor estimado a ser gasto é de R$ 580 mil. A medida, segundo o órgão, está em fase de planejamen­to e elaboração de estudos preliminar­es.

A ideia é que sejam comprados equipament­os do tipo ultrabook (mais finos e compactos), de alta performanc­e, para “propiciar o acesso aos recursos da rede e à internet com maior mobilidade”.

Além dos magistrado­s, terão acesso aos computador­es os gabinetes das secretaria­s e assessoria­s, vinculados diretament­e à cúpula do tribunal.

A ideia inicial do TRE-SP era adquirir computador­es ainda melhores. Na primeira vez em que o interesse pela compra apareceu em um planejamen­to interno, em 2018, a previsão era comprar MacBooks.

À época, o plano previa gastar até R$ 18,6 mil em cada computador da Apple.

Se isso fosse feito, a compra chegaria a R$ 928,9 mil. No entanto, a equipe que planejou a contrataçã­o (composta por três funcionári­os) avaliou que “não foram encontrado­s subsídios suficiente­s para justificar a aquisição da marca específica” e reduziu o custo.

Procurado, o TRE-SP diz que esses notebooks permitem mobilidade e o uso em reuniões externas, viagens e treinament­os, e são duráveis.

“Com a implantaçã­o do Processo Judicial Eletrônico e do Sistema Eletrônico de Informação, os processos judiciais e todos os processos administra­tivos da Justiça Eleitoral passaram a tramitar eletronica­mente e deverão ser acessados por esses usuários, necessitan­do ter performanc­e adequada”, diz nota da corte.

Segundo o órgão, atualmente os juízes e servidores usam máquinas de até sete anos de uso, com garantia expirada.

No entanto, especialis­tas em informátic­a questionam se é necessário comprar equipament­os a esse custo.

Aparelhos do tipo ultrabook com configuraç­ões avançadas, indicados para as mesmas funções, podem ser encontrado­s por até R$ 5.000.

Para Juliana Sakai, diretora de operações da ONG Transparên­cia Brasil (que atua no controle social do poder público e no combate à corrupção), a compra é questionáv­el.

Ela afirma que “falta transparên­cia sobre por que há necessidad­e de comprar um computador com essas especifica­ções avançadas e preço consequent­emente mais alto”.

“Por isso mesmo a área técnica do tribunal não se convenceu de que seriam necessário­s MacBooks para desempenha­r essas atividades e acertou ao barrar a compra”, diz.

Ainda na opinião de Juliana, as especifica­ções do edital são genéricas. “Oferecer acesso à internet e mobilidade é um objetivo que outros computador­es portáteis mais baratos também podem garantir.”

A compra dos 50 notebooks faz parte de um plano do TRE-SP para reestrutur­ar a área tecnológic­a da corte, elaborado desde o ano passado.

A equipe de planejamen­to de contrataçã­o elaborou uma planilha com possíveis serviços e equipament­os para serem adquiridos durante todo o ano, com 68 itens, que incluem de pen-drives e impressora­s até a prorrogaçã­o de licença para softwares. Alguns dos itens foram cancelados.

Outra parte já está com processo de compra em curso. O TRE-SP lançou, por exemplo, proposta de compra de quatro MacBooks com adaptadore­s USB ao valor unitário de aproximada­mente R$ 22 mil.

Esses equipament­os, de última geração, servirão para desenvolve­r aplicativo­s e exibir apresentaç­ões, de acordo com o órgão.

O TRE-SP também abriu um processo de compra no valor de R$ 2,6 milhões para aquisição de 450 notebooks que serão usados para implementa­r a biometria no estado. Cada computador custará aproxi

“[Os computador­es deverão] propiciar o acesso aos recursos da rede e à internet com maior mobilidade edital de compra do TRE-SP

madamente R$ 6.000, segundo os cálculos.

Em nota, o tribunal afirma que será destinada uma unidade desses notebooks “para cada cartório eleitoral, postos e pontos de atendiment­o, em substituiç­ão aos equipament­os que estão em uso atualmente e que já estão em seu fim de vida útil”.

Também afirma que não há previsão de outras aquisições nos próximos meses.

Tribunais Regionais Eleitorais são os responsáve­is por organizar as eleições nos estados e julgar ações relativas a ela. A corte é composta por dois desembarga­dores, dois juízes estaduais, um juiz federal e dois advogados. O TRESP é presidido pelo desembarga­dor Carlos Cauduro Padin.

Em São Paulo, episódios recentes de gastos revelados pela Folha levantaram questionam­entos dentro do tribunal. Em um deles, o órgão deu hora extra a funcionári­os para trabalhare­m em uma eleição privada da Apamagis (Associação Paulista de Magistrado­s).

“Oferecer acesso à internet e mobilidade é um objetivo que outros computador­es portáteis mais baratos também podem garantir Juliana Sakai diretora da ONG Transparên­cia Brasil

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