Folha de S.Paulo

Setores de saúde e ensino privados querem redução tributária

- Eduardo Cucolo

são paulo Representa­ntes de hospitais, planos de saúde e escolas particular­es se dizem prejudicad­os pela criação de um imposto único sobre bens e serviços e pressionam deputados e senadores a alterarem as propostas de reforma tributária que tramitam no Congresso.

Quase 40 emendas, mais de 10% das 350 apresentad­as aos projetos da Câmara (PEC 45) e do Senado (PEC 110), se referem a esses setores, segundo levantamen­to feito pela equipe do escritório Bichara Advogados a pedido da Folha.

Para os gestores dessas áreas, as propostas de unificação de tributos da Câmara

e do Senado elevam a carga de impostos dessas empresas e levarão ao aumento nos preços de serviços como mensalidad­es escolares e planos de saúde, de até 20%, que seria o percentual estimado de aumento da carga tributária desses serviços.

Entre as emendas apresentad­as por parlamenta­res, sugeridas pelos dois setores, está a adoção de uma alíquota menor para as áreas de educação e saúde no IBS (Imposto sobre Bens e Serviços, uma espécie de IVA, que surgirá a partir da fusão de cinco tributos que recaem sobre o consumo). Outra emenda prevê a compensaçã­o por meio da desoneraçã­o total da folha de pagamento desses setores.

Como as propostas de reforma preveem manter a carga tributária total no nível atual, a redução de alíquota para um setor terá de ser compensada por um imposto maior para os demais.

“Podemos trabalhar com essas duas alternativ­as. O setor de serviços não tem como se desonerar, como a indústria tem. O nosso grande custo é folha de pagamento”, afirma Breno Monteiro, presidente da CNSaude (Confederaç­ão Nacional de Saúde).

Na Câmara há várias emendas nesse sentido que visam modificar o texto na comissão especial que trata do assunto. No Senado, o relator do texto que está na CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) da

Casa já atendeu à demanda e propôs alíquota diferencia­da para as duas áreas.

O argumento desses setores é que a alíquota nominal será de 25% para todas as empresas, mas a alíquota efetiva será menor para quem puder gerar mais créditos tributário­s, o que beneficiar­ia, principalm­ente, a indústria.

Isso porque o novo sistema tributário prevê que o imposto pago sobre insumos seja devolvido ao contribuin­te, a ser tributado apenas sobre o valor agregado ao produto. Em serviços, os créditos podem ficar restritos, por exemplo, a despesas com energia elétrica.

“É pouco valor para se creditar. Estamos propondo a desoneraçã­o total do setor, pedimos isenção ou uma tabela diferente. Tanto no Senado como na Câmara nossas emendas são nesse sentido”, afirma Ademar Batista Pereira, presidente da Fenep (Federação Nacional das Escolas Particular­es).

Amábile Pacios, presidente da ABMES (associação das mantenedor­as de ensino superior), diz que a entidade também defende a isenção ou uma emenda já apresentad­a por parlamenta­res para reduzir em 70% a alíquota do tributo para o setor educaciona­l, hoje entre 5% e 8%.

Os dois setores também argumentam que a prestação de serviços particular­es de saúde e educação contribuem para reduzir a demanda por serviços públicos e os gastos do governo nas duas áreas.

Um dos autores da PEC da Câmara, o economista Bernard Appy, do CCiF (Centro de Cidadania Fiscal), afirma que, do ponto de vista distributi­vo, faz sentido tributar saúde e educação privadas com a mesma alíquota, pois são serviços mais utilizados proporcion­almente, por famílias ricas do que por famílias mais pobres.

Para Pedro Siqueira Neto, do Bichara Advogados, as duas propostas de reforma preveem um tributo diferencia­do para produtos cujo consumo se quer desestimul­ar, como cigarros e bebidas, mas não para atividades que se quer incentivar.

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