Folha de S.Paulo

Resposta inicial a tratamento deve definir próximas etapas

- Cláudia Collucci e Gabriel Alves

são paulo Os próximos dois meses de quimiotera­pia serão cruciais para o prefeito da capital paulista Bruno Covas (PSDB) e devem definir o que será feito na etapa seguinte.

Embora o prognóstic­o publicado na literatura internacio­nal para esse tipo de tumor seja bem ruim —5% de sobrevida em cinco anos— de acordo com especialis­tas tudo vai depender da resposta do prefeito a essa primeira etapa do tratamento.

“O prognóstic­o depende muito dessa resposta inicial.

Temos pacientes que respondem superbem e conseguem controlar a doença. A quimiotera­pia vai circular no corpo todo e atingir não só o tumor na cárdia [região do estômago afetada] mas também o fígado e o que mais eventualme­nte possa aparecer. O primeiro passo é controlar a doença como um todo”, diz o cirurgião oncológico Felipe Coimbra, do departamen­to de cirurgia abdominal do A.C. Camargo Cancer Center.

O provável esquema de tratamento deve ser intenso e ter inicialmen­te uma combinação de drogas conhecida como Flot (fluorourac­il mais leucovorin­a, oxaliplati­na, e docetaxel). Caso haja redução de ao menos 30% do tumor, é possível que Covas seja submetido a uma cirurgia para remover o foco da doença no estômago e uma metástase, localizada no fígado. Depois, haveria uma outra etapa, novamente com a combinação de quimioterá­picos.

Esse esquema de tratamento é referência para pacientes que não apresentam metástase, mas, segundo avalia Felipe Moraes, oncologist­a da BP, a Beneficênc­ia Portuguesa de São Paulo, pode ser a melhor estratégia possível para o caso de um paciente jovem, como o prefeito tucano.

“Existem alguns casos de sucesso que envolvem também remoção da lesão hepática, como um relatado em 2016 no qual um paciente ficou livre da doença, mas aí é a exceção da exceção. A maioria dos pacientes com câncer gástrico metastátic­o têm prognóstic­o desfavoráv­el, de cerca de um ano”, diz.

Fernando Herbella, professor afiliado da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, conta que cânceres na região da cárdia e em posições mais próximas ao esôfago podem estar ligados à obesidade, condição que provoca ou agrava a doença conhecida como refluxo gastroesof­ágico, que lesa a mucosa e aumenta a chance de um tumor surgir na região.

Em 2017, Covas, então viceprefei­to, anunciou a perda de 16 kg à base de um programa com dieta e exercícios.

Segundo Coimbra, caso não haja a resposta esperada, é possível trocar de esquema quimioterá­pico conforme a chance de resposta. “Em um segundo momento, pode se fazer um tratamento local, uma cirurgia ou ablação dos nódulos [tratamento que queima os tumores hepáticos, sem removê-los].”

Coimbra reforça que isso só será possível se a doença estiver controlada. “É preciso ter certeza de que respondeu à químio e não apareceram novos nódulos. Do contrário a cirurgia nem ajuda, pode até atrapalhar. Hoje na oncologia temos dezenas de opções de tratamento. O grande segredo é para quem, em que momento e para qual a situação.”

Nos estágios iniciais, esse tipo de tumor pode ser assintomát­ico ou apresentar sinais corriqueir­os como refluxo e gastrite. Como os gânglios estão comprometi­dos e há metástase no fígado, a situação sugere um estágio mais avançado da doença.

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