Doença gera comoção entre aliados e rivais do prefeito
Consequências na imagem e impacto no ninho tucano são tema de conversas
são paulo O diagnóstico de câncer no sistema digestivo recebido pelo prefeito Bruno Covas (PSDB) nesta segunda (28) disparou reações públicas de comoção de aliados e também de adversários políticos.
Nas redes sociais, figuras distantes do tucano no espectro político e mesmo potenciais concorrentes na eleição de 2020 publicaram mensagens para desejar boa sorte e pronta recuperação.
No núcleo político interessado que rodeia Covas, cálculos políticos começaram a ser feitos timidamente, tendo em vista o pleito do ano que vem.
As consequências do tratamento na imagem pública de Covas e o impacto no ninho tucano transformaram-se em tema de conversas na coxia.
Nas redes sociais, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL) escreveu ao prefeito: “receba minha solidariedade. Rogo a Deus que possa se recuperar o mais rápido possível. Tenha fé e força”. Hasselmann tem se colocado como pré-candidata à prefeitura contra Covas, a quem já criticou em diferentes ocasiões.
Outro pré-candidato à prefeitura, o ex-governador Márcio França (PSB), disse que Covas poderá ser seu “’adversário provisório’ em pouco tempo”, mas que o considera um amigo. “Sei que você tem DNA de madeira do Rosarinho, que cupim não rói. Meu sincero desejo de pronta recuperação”.
Na mesma condição de postulante ao cargo hoje ocupado por Covas, Andrea Matarazzo, do PSD, disse estar “na torcida” para que os “momentos desagradáveis” passem logo.
Antecessor da chapa tucana na Prefeitura de São Paulo, o petista Fernando Haddad escreveu com desejo de “pronto restabelecimento” e “força” para Covas.
Entre os tucanos, a primeira reação foi a de tentar buscar traços de otimismo numa situação bastante grave.
Aliados de Covas agarramse, por exemplo, ao fato de a doença ter sido descoberta em estágio relativamente inicial e na condição de Covas, 39, que é jovem e faz intensa atividade física.
Covas mostrou-se disposto a enfrentar a doença e a não reduzir o ritmo de trabalho, o que é considerado ponto positivo. Ele deu ordem para manter agenda de inaugurações e reuniões do secretariado.
Na tentativa de se apegarem a algo positivo, aliados calculam que a doença pode trazer alguns pontos de alento político ao prefeito.
O PSDB, que tinha setores pouco entusiasmados com sua candidatura à reeleição, tende a se unir em torno do nome de Covas, ao menos num primeiro momento.
Eleitores mais velhos tenderiam a associar o drama de Bruno com o de seu avô Mário Covas (1930-2001), que também enfrentou um câncer, no caso, na bexiga.
Já a percepção junto à opinião pública dependerá dos próximos meses. A avaliação é que Covas, por ter herdado a prefeitura de Doria, ainda não tem uma marca consolidada junto à população. Ele vinha se preparando para disputar uma reeleição colocando-se como um político de centro, moderado, avesso a radicalismos da direita e da esquerda.
Se o tratamento quimioterápico for bem-sucedido e a doença desaparecer, a avaliação é de que haverá um ganho de imagem para o prefeito, que terá enfrentado o câncer com altivez sem abrir mão de suas responsabilidades.
O fato de ser pouco conhecido do eleitorado poderia ser, paradoxalmente, mitigado com o noticiário sobre o caso.
Por outro lado, se o tumor entrar pelo primeiro semestre de 2020, pode cristalizar a percepção de que um voto no tucano seria arriscado pela sua condição de saúde.
A possibilidade de que Covas desista da reeleição para se tratar, por fim, coloca-se como promessa de turbulência nos redutos tucanos.
A doença surpreende Covas em momento que ele havia iniciado ritmo de pré-campanha, com muitas inaugurações à vista, incluindo de CEUs (Centros Educacionais Unificados) a grandes obras no centro, como Vale do Anhangabaú e largo do Arouche.
Do hospital, ele mandou avisar o secretariado que, independentemente da situação dele, as inaugurações devem continuar. Pelo menos até agora, o tucano deu sinais de que tentará manter o ritmo, dentro das limitações da doença. em caso de cassações e impugnações. Por isso, elas não valem para casos de afastamentos devido a doenças.
“A Constituição Federal define que o município tem competência para legislar sobre assuntos de interesse local. Votação sucessória põe-se no âmbito de autonomia local no caso de dupla vacância”, afirma o advogado Guilherme Ruiz Neto, especializado em direito eleitoral.
“Quem votam são os vereadores. Agora, em tese, os candidatos poderiam ser as mesmas pessoas aptas a se candidatar para qualquer eleição”, afirma Diogo Rais, professor de direito eleitoral da Universidade Mackenzie.
Também especialistas no tema, os advogados João Fernando Lopes de Carvalho e Renato Ribeiro de Almeida afirmam que o mandato é tampão, isto é, vale só pelo período em que ficaria o atual titular da vaga. Depois, são realizadas novas eleições. Não há empecilho para que o possível escolhido se candidate novamente, diz Carvalho.
Os especialistas afirmam que, caso o prefeito decidisse apenas se licenciar do cargo, isso não geraria vacância. Períodos mais longos precisam de aprovação da Câmara.
Tuma, que assume em caso de licença de Covas, tem 38 anos, é advogado, doutor em Filosofia do Direito e professor universitário. É presidente da Câmara desde janeiro.
É um dos membros mais jovens de tradicional linhagem política paulista, da qual despontam o ex-senador Romeu Tuma, seu tio; o ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Júnior, seu primo; e Renato Tuma, seu pai, que foi secretário de Administração da gestão Celso Pitta.
Evangélico, é frequentador da igreja Bola de Neve. Seu site o define “defensor da Igreja de Jesus Cristo”. A página diz que ele é líder da bancada evangélica e criou a Frente Parlamentar Cristã. Costuma declaradamente assumir a posição de defensor das igrejas.