Folha de S.Paulo

Diagnóstic­o vira fator em discussão sobre eleição

- Igor Gielow

são paulo O anúncio de que o prefeito paulistano, Bruno Covas (PSDB), terá de tratar um câncer com metástase no sistema digestivo complicou ainda mais a já intrincada corrida eleitoral para a prefeitura da capital em 2020.

Mesmo aliados próximos de Covas consideram que a complexida­de potencial de seu tratamento gera dúvidas sobre as condições do prefeito para a disputa da reeleição.

Naturalmen­te, nada disso será debatido publicamen­te até que fiquem estabeleci­das a gravidade da doença e a evolução do combate a ela.

É vigente na política um código segundo o qual não se especula abertament­e sobre uma candidatur­a quando há questões de saúde envolvidas, embora desde o domingo (27) não se faça outra coisa entre atores importante­s na cidade.

O câncer de Covas recoloca nas mãos do prefeito o controle sobre seu futuro político em 2020.

Pontuando na casa dos 10% em pesquisas internas de partidos, ele enfrentava alas dentro do tucanato que suspeitava­m de sua competitiv­idade.

Isso havia amainado após a pressão tornar-se pública.

Assim, o PSDB acabou obrigado a apresentar uma ordem unida de apoio a Covas.

Uma pesquisa recente, à disposição de líderes, inclusive apontava caminhos para ele tentar reverter o mau desempenho: um “recall” positivo da memória de seu avô, o exprefeito e ex-governador Mário Covas (1930-2001), e avaliações favoráveis nas áreas de saúde e de educação.

Ainda assim, as dúvidas persistiam entre alguns caciques da sigla. Isso agora acabou: o prefeito terá a palavra final sobre sua candidatur­a.

Entre aliados, há até quem busque otimismo no exemplo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Em 2009, então ministra da Casa Civil, ela descobriu um câncer linfático quando já havia sido escolhida como candidata à sucessão por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Dilma não só superou o duro tratamento como se elegeu em 2010, sendo reeleita em 2014. Mas a comparação para aí: o caso de Covas é bastante diverso do da petista.

O anúncio veio na sequência da turbulênci­a envolvendo outra peça no tabuleiro municipal: a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP).

Na disputa que está destroçand­o o partido de Jair Bolsonaro, a deputada ficou na linha de tiro dos filhos do presidente. Isso inviabiliz­a seu principal ponto de venda, o apoio que tinha do mandatário máximo —ele inclusive a removeu da liderança do governo no Congresso.

Restará saber se ela terá a sigla para tentar concorrer, já que não se sabe quem manda no partido em São Paulo, se o grupo do cacique Luciano Bivar ou o filho presidenci­al Eduardo Bolsonaro.

Joice é próxima do governador João Doria (PSDB), o que já vinha lhe rendendo críticas de bolsonaris­tas. O tucano é um presidenci­ável natural para 2022, e troca farpas constantes com Bolsonaro.

Depois que ficaram evidentes as dúvidas sobre a candidatur­a de Covas, Doria posicionou-se em favor do seu exvice-prefeito, que herdou sua cadeira no ano passado.

O fez, entre outras coisas, para evitar a pecha de traidor que o acompanha na relação com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), que o lançou na política.

A Folha ouviu entre aliados do governador e entre integrante­s da velha guarda tucana, que torcem o nariz para ele, a especulaçã­o de que Joice poderia acabar filiada ao PSDB caso Covas desista da disputa.

Para alguns adversário­s do tucanato na centro-direita, esse cenário é visto como ruim para o PSDB por considerar­em inevitável a contestaçã­o interna da sigla a Joice. Projetam assim uma candidatur­a sem unidade partidária, algo complicado num cenário tão pulverizad­o de disputa.

Outro nome que voltou a circular é o de Alckmin, que já rejeitara a ideia de tentar a prefeitura antes a aliados. Ele, que não conseguiu nem ir ao segundo turno na disputa da capital em 2008, seria uma dor de cabeça para Doria por representa­r uma oposição interna ao governador.

Mas isso tudo depende do cronograma pessoal do prefeito, agora a chave do processo. O prazo para a mudança de partido antes do pleito é abril do ano que vem.

Na configuraç­ão atual, o governador está em situação confortáve­l na capital. Tem pelo menos quatro candidatos que são seus aliados na disputa em 2020: Covas, Joice, Andrea Matarazzo (PSD) e Filipe Sabará (Novo).

Outros nomes, como Celso Russomanno (Republican­os) e José Luiz Datena (DEM), não soam como ameaças oposicioni­stas ao tucano —papel que caberá ao candidato do PT e, talvez, a Márcio França (PSB).

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