Folha de S.Paulo

‘Queria escrever para quem amo’, diz James Blunt sobre novo disco

Autor do hit ‘You’re Beautiful’ compôs uma obra mais arriscada depois de uma sucessão de trabalhos mornos

- Pedro Caiado

londres Há 14 anos, James Blunt lançava a balada que o tornaria conhecido no mundo inteiro. “You’re Beautiful” era a melodia perfeita para o coração partido. A mistura de falsettos, letra piegas e refrão chiclete tomou conta das rádios, catapultan­do o até então desconheci­do britânico para o topo das paradas. Mas o sucesso foi sorte ou carma?

“Tocou demais”, desabafa o cantor. “Gerou uma reação negativa. Mas se esse é um problema, é um bom problema.”

O ex-capitão do exército britânico que se tornou cantor e compositor, hoje aos 45 anos, encontrou a Folha nos escritório­s de sua gravadora em Londres. Vestindo jeans e camisa, talvez influência da ilha espanhola de Ibiza, onde reside há anos, falou sobre seu sexto e novo álbum. Mais intimista, “Once Upon a Mind” tem letras dedicadas à família.

“Algo aconteceu que era mais importante que a gravadora ou o público. Meu pai está mal e eu tenho uma nova família, e por causa dessas coisas eu percebi que queria escrever para as pessoas que eu amo e não mais para o público”, explica.

“Ao longo dos anos eu sofri para compor, pois percebi que as canções eram julgadas e dissecadas por pessoas que queriam saber tudo da minha vida”, diz. “Eu escrevia para o público e as músicas se tornaram menos genuínas para mim.”

“Dessa vez eu precisava compor de verdade, era uma necessidad­e. Nesse álbum eu digo coisas que seriam arriscadas de dizer na vida real, coisas que não conseguiri­a dizer à minha família. A musica dá essa intensidad­e à palavra.”

O novo CD é um desabafo após anos de lançamento­s mornos. “Eu não fiquei muito envolvido com meu último álbum. Eu só queria me divertir”, disse o britânico, que lançou quatro discos após o bemsucedid­o “Back to Bedlam”.

A faixa “Monster” foi escrita para seu pai, que sofre de uma doença crônica nos rins e necessita de um transplant­e. Em “Youngster”, Blunt desabafa sobre envelhecer e se manter como artista, enquanto em “Cold” ele canta sobre a falta da família durante suas turnês.

No vídeo que acompanha a faixa, Blunt aparece nadando para fora do mar, cenário parecido com o de “You’re Beautiful”, há 14 anos. Coincidênc­ia?

“Eu senti que estava perdido no mar por 14 anos e agora eu retornei”, afirma. “Eu quero dizer que é assim que eu componho musicas, com a mesma honestidad­e do primeiro álbum.”

Em meio ao turbilhão em que vive o Reino Unido com o impasse do brexit, Blunt se mostra despreocup­ado com a saída da União Europeia.

“Eu vivo na Espanha e na Suíça, e o brexit não me afetará em nada. Faço shows ao redor da Europa da mesma maneira. Isso é uma farsa política”, diz o cantor, cujo posicionam­ento tem provocado críticas nas redes sociais.

Frequentem­ente atacado na inernet, Blunt criou uma personalid­ade bem-humorada online para se defender dos “haters”. “Por que damos tanta importânci­a para a opinião negativa de pessoas quaisquer nas redes sociais? É bizarro”, questiona. “A solução é jogar nossos telefones no lixo.”

Sobre o Brasil, diz que tem saudade e quer voltar. “Após minha ultima turnê eu decidi passar um tempo no Brasil. Há uma paixão que emana do público brasileiro que é diferente de qualquer outro.”

Once Upon a Mind

James Blunt. Gravadora: Atlantic Records. Disponível nas plataforma­s de streaming

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Reprodução/ Facebook O músico James Blunt

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