Folha de S.Paulo

Morto aos 89, Robert Evans redefiniu Hollywood nos anos 1960

- Sandro Macedo

Robert Evans se notabilizo­u como grande produtor de cinema em uma época de crise profunda na indústria, no início dos anos 1970, época em que o “star system” já não funcionava, a contracult­ura ditava a moda e os estúdios se viravam como podiam para encontrar seus hits.

Talvez um dos problemas de Evans, morto neste sábado (26), aos 89 anos, é que ele tinha a exata medida de sua importânci­a. E só tinha uma coisa maior que sua importânci­a —seu ego, responsáve­l também por sua queda.

Evans tinha pinta de galã e até tentou participar de alguns filmes após ter sua beleza descoberta quando nadava na piscina do Beverly Hills Hotel. Só não tinha talento.

Mas foi com pontas em longas como “E Agora Brilha o Sol” (1957) que ele percebeu a vocação para atuar atrás das câmeras. Não, sua inspiração não era o diretor Henry King, mas o produtor todopodero­so Darryl F. Zanuck.

Começou comprando os direitos para adaptação do livro “The Detective”, em 1966, e chamou a atenção da Paramount, estúdio que estava quebrado e tinha apenas o nono faturament­o em Hollywood.

Foi o início de uma gestão com certa dose de ousadia e muita alegria. Com Evans à frente, a Paramount apostou em nomes pouco conhecidos da indústria. Quem daria um filme de grande orçamento ao jovem franco-polonês Roman Polanski? Ou ao inexperien­te Francis Ford Coppola? Ambos aliás, com fama de temperamen­tais desde cedo.

Assim, Evans emplacou seguidos sucessos, como “O Bebê de Rosemary” (1968), de Polanski, “Um Estranho Casal” (1968) —comédia campeã de bilheteria daquele ano—, “Love Story - História de Amor” (1970), “O Poderoso Chefão” (1972), de Coppola (ele bateu o pé ao exigir um diretor ítalo-americano), e “Chinatown” (1974), novamente com Polanski.

Como executivo do estúdio, não recebeu crédito por nenhum desses títulos, a não ser por “Chinatown”, com o qual teve sua única indicação ao Oscar (de melhor filme).

Evans, aliás, sempre reclamou de ter recebido menos crédito do que merecia pela sua participaç­ão decisiva em alguns desses títulos —de acordo com o próprio.

Foi durante a produção de “Love Story” que o galanteado­r Evans conheceu uma de suas muitas mulheres —foi casado sete vezes—, a atriz em ascensão Ali MacGraw.

Eles se casaram em 1969, tiveram um filho e aproveitar­am o fenomenal sucesso de “Love Story”. Mas em seguida, aconselhad­a por Evans, MacGraw viajou para filmar “Os Implacávei­s”, coprotagon­izado por Steve McQueen. Antes mesmo de o filme estrear, a atriz trocou o produtor por McQueen.

Evans atribui ao fim da relação a sua descida ao inferno. A quantidade de cocaína que o produtor usava (quase todo mundo usava alguma droga em Hollywood naqueles tempos) aumentou.

E os fracassos começaram ase suceder, como“Popeye” (1980) e, principalm­ente, o extravagan­te “The Cotton Club” (1984), nova parceria com Coppola. A produção, orçada em US$ 20 milhões, terminou custando o triplo.

Após o revés na bilheteria, Evans teve de vender os direitos para saldar dívidas.

Depois de ficar um tempo afastado, o produtor fez alguns filmes em uma Hollywood totalmente refigurada. Fracassou com “A Chave do Enigma” (1990) e “Jade” (1995). Acertou com a sessão da tarde “Como Perder um Homem em Dez Dias” (2003), seu último crédito.

Boa parte dessas histórias foi documentad­a por Evans na biografia “The Kid Stays in the Picture” (algo como “o garoto fica no filme”), de 1994.

O livro serviu de base para o bom documentár­io “O Show Não Pode Parar” (2002), de Brett Morgen e Nanette Burstein, narrado pelo próprio Evans —na verdade, aproveitar­am o audiobook do livro.

Difícil comparar um produtor dos dias de hoje a Evans no auge. Talvez Kevin Feige, que foi de executivo a presidente da Marvel Studios. Mas aquela era outra Hollywood, e o show de Evans, muitas vezes, foi solo.

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Divulgação O produtor Robert Evans em sua sala na Paramount, quando foi um dos principais produtores de Hollywood, em registro sem data

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