Folha de S.Paulo

A Argentina e as leis da política

Hélio Schwartsma­n

- helio@uol.com.br

SÃO PAULO Não foi o massacre que se antecipava, mas Alberto Fernández venceu com folga a eleição presidenci­al argentina. Operou aí a mais previsível e implacável das leis da política: quando o eleitor está insatisfei­to com a performanc­e da economia, ele troca o governante, pouco importando se a punição é justa ou injusta, se resolve ou agrava os problemas.

Curiosamen­te, o atual presidente, Mauricio Macri, ascendera ao poder no rastro da destruição econômica legada pela ex-presidente Cristina Kirchner. Como não arrumou a casa em quatro anos, é agora deposto pela mesma insatisfaç­ão que o elegera.

Numa caricatura da lei do movimento pendular da política, Kirchner volta ao entorno do poder, na condição de vice-presidente. Sabendo que seu nome divide o país em duas bandas agressivam­ente antagônica­s, ela optou por não disputar a Presidênci­a, colocando-se como vice de Fernández. O fato de o pleito ter sido mais apertado do que se supunha mostra que seu cálculo fazia sentido.

A pergunta que muitos se fazem agora é se é ela ou ele que vai mandar. Outra lei de ferro da política é a que assegura que o vice raramente apita. Ele pode até comandar facções poderosas, mas, quando a coisa aperta, é a caneta do titular e não a do substituto que exala poder. Mesmo na Argentina de Isabelita Perón (uma vice que sucedeu seu marido morto), histórias de rompimento entre presidente e vice são mais comuns do que as de submissão do titular ao substituto.

Outra incógnita é a relação entre Fernández e Bolsonaro. A coisa começou mal, por culpa do brasileiro, que feriu outra lei da política: candidatos até podem se posicionar em relação a lideranças da região, mas, uma vez eleitos, devem se abster de interferir em questões internas de vizinhos democrátic­os. Bolsonaro foi o primeiro a se meter onde não devia, ao comentar as prévias de setembro. Agora toma o troco. Perdem Brasil e Argentina.

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