Folha de S.Paulo

Alunos de cursinhos populares de SP pressionam prefeitura por passe livre

- Fabrício Lobel

são paulo Kelly Cristina de Oliveira Silva, 27, estudava em cursinho vestibular popular no centro de São Paulo até agosto, quando teve de parar de assistir as aulas. O problema: o custo do transporte em seu orçamento.

Para tentar reverter esse fenômeno, estudantes de cursinhos universitá­rios populares e comunitári­os pressionam a Prefeitura de São Paulo pela sanção de um projeto de lei que concede passagens gratuitas de ônibus a esse público.

O preço do transporte público é visto por esses cursinhos como um dos principais motivos de evasão dos alunos de baixa renda que tentam ingressar no ensino superior. Na última sexta-feira (25), estudantes fizeram uma manifestaç­ão em frente à prefeitura.

Moradora de Jardim Souza, próximo à represa Guarapiran­ga, na zona sul, Kelly costumava gastar 1h40 no ônibus para chegar às aulas na Liberdade.

Um trajeto mais rápido poderia ser feito usando, além do ônibus, o Metrô. Mas a integração sai mais cara.

“Condução é um gasto muito alto. Tinha também o custo do lanche, às vezes precisava ir para alguma exposição ou museu para complement­ar o estudo.” O aperto foi assim até que o dinheiro acabou; hoje Kelly estuda para o Enem em casa.

O caso é semelhante ao de Katharina Nascimento, 17, que também saiu de um cursinho comunitári­o por não ter dinheiro para o transporte. Hoje ela também estuda em casa, enquanto cuida do irmão.

A expectativ­a dos alunos de cursinhos populares se baseia no projeto de lei aprovado neste mês pela Câmara Municipal de São Paulo. O projeto concede gratuidade no transporte municipal aos estudantes de cursinhos comunitári­os, de cursinhos prévestibu­lar em geral e aos alunos de cursos técnicos.

Segundo o projeto, a gratuidade deverá ser destinada aos alunos com renda familiar per capita de até R$ 1.182. O projeto de lei ainda prevê convênios com o Estado para que os estudantes possam ter passe livre também no Metrô e na CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolit­anos).

O projeto aguarda sanção do prefeito Bruno Covas (PSDB), internado com câncer.

Durante a tramitação, o projeto recebeu apoio de vereadores de diferentes partidos como PT, PSOL e até do PSDB, com o voto do presidente da Câmara, Eduardo Tuma.

Segundo a Frente de Cursinhos Populares, anualmente cerca de 15 mil estudantes frequentam cursinhos populares em 101 instituiçõ­es na cidade. A instituiçã­o calculou entre R$ 11 milhões e R$ 14 milhões os custos da cidade com a gratuidade para esses estudantes. Para os cursinhos, o valor é baixo frente ao orçamento do município e ao impacto que teria sobre a educação.

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