Folha de S.Paulo

Citação a Bolsonaro é falsa, afirma Ministério Público

PGR diz que menção a presidente, um ‘factoide’, já havia sido arquivada no STF

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O Ministério Público do Rio declarou que um porteiro deu informação falsa ao citar Jair Bolsonaro (PSL) em depoimento na investigaç­ão das mortes da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes. As razões para o ato do funcionári­o serão apuradas.

Segundo reportagem da TV Globo, da noite de terça (29), o porteiro dissera à polícia que Élcio Queiroz, acusado do crime, pediu para ir à residência do presidente, então deputado, no dia do assassinat­o —quando iria, na verdade, à casa de seu comparsa, Ronnie Lessa.

A divulgação do caso fez Bolsonaro reagir de maneira virulenta, com ataques à Globo e ao governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), o responsáve­l, para ele, pelo vazamento da informação. “O senhor Witzel está conduzindo esse processo para manchar meu nome”, disse.

Para o advogado do presidente, Frederick Wassef, seu cliente foi vítima de fraude processual e de “organizaçõ­es criminosas”. Augusto Aras, procurador-geral da República, disse que o episódio era um “factoide” e que a menção já havia sido arquivada no STF.

O que disse o porteiro, segundo a TV Globo?

Em depoimento, o porteiro afirmou que Élcio Queiroz, acusado pelo assassinat­o de Marielle e Anderson, chegou ao condomínio em que Jair Bolsonaro tem casa, na

Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), e disse, na portaria, que iria à residência do então deputado federal (nº 58). O porteiro interfonou para a casa 58 para confirmar se Élcio estava autorizado a entrar e identifico­u a pessoa que atendeu como “seu Jair”, em referência ao presidente. Ele disse que acompanhou a movimentaç­ão nas câmeras de segurança e viu que, ao entrar no condomínio, o carro de Élcio se dirigiu à casa 66. Lá morava Ronnie Lessa, também acusado pela morte de Marielle. O porteiro então ligou novamente para a casa 58 e a mesma pessoa disse que sabia para onde Élcio se dirigia

Quando isso ocorreu?

Horas antes do assassinat­o de Marielle, em 14.mar.2018

Há registros da entrada de Élcio?

No livro de registro do condomínio estão anotados o nome de Élcio, a placa do seu carro, a casa a que ele disse que se dirigira (58, de Bolsonaro), a hora (17h10) e o dia em que ele entrou no condomínio. Isso condiz com o depoimento do porteiro

Por que o Ministério Público afirmou que o depoimento do porteiro é falso?

O Ministério Público disse que a investigaç­ão teve acesso à planilha da portaria do condomínio e às gravações do interfone e que restou comprovado que o porteiro interfonou para a casa 65 (a residência de Lessa ocupa os números 65 e 66). A entrada de Élcio foi autorizada por Lessa, de acordo com a gravação periciada pela Promotoria

O caso foi para o STF?

O procurador-geral Augusto Aras disse que foram enviadas ao Supremo gravações de ligações entre a portaria do condomínio e as casas apontadas pelo porteiro. De acordo com ele, não há menção a Bolsonaro. A equipe da PGR está ouvindo o restante das gravações, referentes aos dias seguintes, mas por ora não há indícios de envolvimen­to do presidente. Segundo Aras, a menção a Bolsonaro foi arquivada. A investigaç­ão sobre o crime em si, pela Polícia Civil do

Rio, segue normalment­e

Onde estava Jair Bolsonaro no momento em que Élcio foi ao seu condomínio?

Registros oficiais apontam que Bolsonaro estava na Câmara, em Brasília

Quais as acusações contra Lessa e Élcio?

Élcio é suspeito de dirigir o Cobalt prata usado na emboscada contra Marielle. Já Lessa seria o autor dos disparos. Eles estão presos desde março. Lessa é um PM reformado e Élcio foi expulso da

PM por envolvimen­to com contravenç­ões

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