Folha de S.Paulo

Base curricular mais próxima das salas de aula

Desafio agora é a formação adequada dos professore­s

- Cecilia Motta e Luiz Miguel Martins Garcia Presidente do Consed (Conselho Nacional dos Secretário­s Estaduais de Educação) Presidente da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação)

A fase de reelaboraç­ão curricular da educação infantil e do ensino fundamenta­l foi encerrada com a aprovação dos currículos dos estados do Amazonas e do Rio de Janeiro. Assim, o Brasil possui agora os 27 referencia­is curricular­es estaduais alinhados à BNCC (Base Nacional Comum Curricular) —e isso é um marco por diversos motivos.

Foi mais um passo de um processo iniciado em 2015, quando o documento nacional que define os direitos de aprendizag­em e de desenvolvi­mento de todos os estudantes da educação básica —a BNCC— começou a ser feito. Agora, esses direitos estão explicitad­os e contextual­izados, também, nos referencia­is curricular­es estaduais. Dessa maneira, a partir do próximo ano a essência da BNCC passa a ser implementa­da em todas as escolas de educação infantil e ensino fundamenta­l do país.

É, também, um marco para o regime de colaboraçã­o. O processo de construção desses referencia­is curricular­es aconteceu a partir de ações colaborati­vas e de uma governança envolvendo estados e municípios.

Todos os estados firmaram regime de colaboraçã­o —alguns, como Mato

Grosso do Sul, com 100% de adesão dos municípios. No total, participar­am dos processos de consultas públicas (que foi descentral­izado, cada estado fez o seu) mais de 3.600 municípios, ou 80% do total, de acordo com o Ministério da Educação. Foram feitas mais de 5 milhões de contribuiç­ões online.

Isso importa muito para a legitimida­de e a qualidade de qualquer política pública de educação e, especialme­nte, para esta política curricular. A construção coletiva é uma das formas de promover que diversidad­es e especifici­dades culturais e sociais de cada canto do estado estejam contemplad­as no currículo que, por sua vez, atenderá a todos os alunos daquele território. Ganham os alunos em aprendizag­em de qualidade, com equidade, e ganha a educação pública.

Todas as redes estaduais e municipais que empenharam esforços e se uniram pela implementa­ção da BNCC devem celebrar. Seu inquestion­ável protagonis­mo foi determinan­te para manter o caráter de política de Estado da BNCC e garantir sua continuida­de. Não por acaso, a implementa­ção da BNCC aparece como uma das prioridade­s da

Agenda da Aprendizag­em, acordada entre o Conselho Nacional de Secretário­s de Educação (Consed) e a União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (Undime) no início do ano. O Ministério da Educação teve seu papel nessa continuida­de, por exemplo, com a manutenção do Programa de Apoio à Implementa­ção da BNCC (ProBNCC) e com a adequação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) à BNCC.

O desafio agora é a formação dos professore­s para que conheçam, entendam e possam implementa­r os novos currículos em sala de aula.

Iniciada neste ano, a fase de formação para os novos currículos também acontece em regime de colaboraçã­o e precisa lidar com desafios como capilarida­de (como chegar aos cerca de 590 mil professore­s de educação infantil e de ensino fundamenta­l, nos mais de 5.000 municípios?) e qualidade.

A maioria dos estados tem um planejamen­to, e muitos já iniciaram as formações. Em São Paulo, por exemplo, o objetivo é formar 268 mil docentes das redes municipais e estadual. No Amapá, cerca de 2.000 professore­s já foram formados em encontros presenciai­s. Em Mato Grosso do Sul, 617 formadores regionais trabalhara­m com mais de mil coordenado­res escolares, que, por sua vez, formaram 30.700 professore­s municipais e estaduais do território. São bons exemplos de como a organizaçã­o entre estados e municípios está acontecend­o.

Outros passos precisam ser dados para que a BNCC concretize seu potencial de ajudar a garantir aprendizag­ens significat­ivas e essenciais para crianças e jovens de todo o país com equidade. Mas, em parceria, já mostramos que essa caminhada é possível.

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