Folha de S.Paulo

Léo Pinheiro se compromete a pagar R$ 45 mi em acordo

Pena de empreiteir­o da OAS prevê mais cinco anos em regime domiciliar

- Felipe Bächtold

são paulo O ex-presidente da empreiteir­a OAS Léo Pinheiro se compromete­u em seu acordo de colaboraçã­o com a Procurador­ia-Geral da República a pagar R$ 45 milhões de compensaçã­o aos cofres públicos e a permanecer mais cinco anos em regime domiciliar.

Principal acusador do expresiden­te Lula no caso do tríplex de Guarujá (SP), que motivou a prisão do petista em 2018, o empresário deixou a cadeia em setembro e agora está em sua casa, na zona oeste de São Paulo, após seu compromiss­o de colaboraçã­o ter sido homologado no STF (Supremo Tribunal Federal).

Os termos acordados com o Ministério Público foram assinados no fim de 2018, mas só agora se tornaram públicos. A colaboraçã­o do empreiteir­o já foi anexada em ação penal contra o ex-presidente da Câmara dos Deputados Marco Maia (PT-RS), que se tornou réu na semana passada no Paraná acusado de receber propina da OAS em uma CPI sobre a Petrobras.

Pelo acordo, Pinheiro precisa pagar R$ 20 milhões em até três meses após a homologaçã­o do acordo, ocorrida em setembro. Outros R$ 15 milhões serão pagos em dinheiro à medida que imóveis listados pelo colaborado­r forem sendo vendidos. Por fim, mais R$ 10 milhões serão pagos em um prazo de até oito anos.

Para que ele quite essa quantia, o Ministério Público o autorizou a incluir na relação propriedad­es de familiares, que concordara­m em ceder esses bens.

O acordo estabelece que Pinheiro use tornozelei­ra eletrônica e só saia de casa em casos de emergência comunicado­s à Justiça. Ele também não poderá promover festas e eventos sociais, terá a cada semestre a possibilid­ade de sair de casa por dois dias não consecutiv­os e de fazer viagens nacionais por motivos de trabalho duas vezes ao ano.

Terá autorizaçã­o para trabalhar na própria casa e para receber visitas de até 15 pessoas que listará à Justiça.

O prazo de permanênci­a no regime domiciliar é de cinco anos e três meses. Desse período, devem ser descontado­s os cerca de três meses a que ele já ficou submetido a esse regime, em 2015.

Ainda assim, as restrições impostas ao ex-presidente da OAS são mais rigorosas do que as dirigidas a outros empreiteir­os alvos da Lava Jato que delataram anteriorme­nte. No acordo de Marcelo Odebrecht, por exemplo, ficou estabeleci­do que ele ficaria na cadeia por dois anos e meio e outros dois anos e meio em casa.

Pinheiro, somando os períodos de duas prisões, ficou detido por três anos e cinco meses no Paraná.

Os acordos na Lava Jato também têm a possibilid­ade de serem flexibiliz­ados mais adiante caso a colaboraçã­o seja mais efetiva. Porém há cláusulas que preveem o rompimento, e a consequent­e volta à prisão, em caso de descumprim­ento. Isso acontecerá se o delator, por exemplo, mentir, se negar a fornecer documentos ou não quitar os valores acordados.

Ele também precisa ficar afastado por 15 anos de atividades profission­ais que mantenham relações com agentes públicos ou que contratem o poder público.

Pinheiro vinha tentando há anos firmar um compromiss­o de colaboraçã­o e fez acusações contra políticos em depoimento­s mesmo sem ter um acordo formal.

Em 2017, disse ao então juiz Sergio Moro que a reserva e reforma do tríplex de Guarujá havia sido descontada de uma espécie de conta-corrente de propinas com o PT com origem em contratos da Petrobras, declaração que foi fundamenta­l para a condenação de Lula naquele ano.

O compromiss­o foi assinado pela ex-procurador­a-geral Raquel Dodge, que deixou o cargo no mês passado.

Dodge divergiu de outros procurador­es e decidiu descartar depoimento­s do empreiteir­o que mencionava­m o presidente da Câmara,

Rodrigo Maia (DEM-RJ), e um irmão do presidente do STF, Dias Toffoli.

Membros de um grupo da Lava Jato em Brasília chegaram a deixar seus cargos nas vésperas do fim do mandato da ex-procurador­a-geral.

A Folha mostrou entre agosto e setembro que, em seu acordo, Pinheiro cita autorizaçã­o de pagamento ilícito para o atual vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (DEM), detalha suposta influência do ex-presidente Lula em negócios internacio­nais da OAS e ainda afirma que o ex-senador tucano Aloysio Nunes (SP) tinha papel de destaque em repasses para o PSDB. Os três negam ter cometido qualquer irregulari­dade.

Na ação penal da CPI da Petrobras no Paraná, comandada pelo juiz Luiz Bonat, Pinheiro não chegará a figurar entre o grupo de cinco acusados que viraram réus porque ele já atingiu o teto das penas somadas previsto no acordo.

A reportagem não conseguiu localizar os advogados de Marco Maia para comentar o assunto. Anteriorme­nte, a defesa disse que o ex-deputado agiu pelo indiciamen­to dos alvos na CPI da Petrobras, em 2014, o que contradiz a tese de que houve corrupção para o não indiciamen­to.

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Paulo Lisboa - 5.mai.2016/Brazil Photo Press/Agência O Globo O ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, na chegada ao IML de Curitiba

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