Doria encolhe promessa, anuncia reajuste de 5% e frustra policiais em SP
Em campanha, governador se comprometeu a elevar salário para ficar entre melhores do país
são paulo Muito longe de atender as expectativas dos policiais de São Paulo, que aguardavam uma valorização histórica, o governador João Doria (PSDB) anunciou nesta quarta-feira (30) um aumento salarial de 5% para as forças de segurança paulista.
O aumento, que deve valer a partir de 1º de janeiro, foi considerado pelas associações de classe quase uma afronta em razão da discrepância entre a promessa de campanha, quando Doria prometeu o melhor salário do país às suas polícias, e o anunciado, que não repara a defasagem salarial acumulada há anos.
“Um reajuste muito pífio, debochado, que fica muito distante da retórica adotada por ele próprio quando assumiu o compromisso de pagar aos policiais paulistas o maior salário da federação, até o final do seu mandato. No caso dos delegados, que precisariam de um aumento de 100%, faltam agora 95% [para os próximos três anos de gestão Doria]”, disse o delegado Gustavo Galvão Bueno, presidente da Associação dos Delegados da Polícia Civil.
Ainda que considerassem difícil, integrantes das polícias ouvidos pela Folha acreditavam que o reajuste poderia chegar a 20%, expectativa que se reduziu após a equipe econômica informar que a porcentagem seria impossível.
Durante reuniões, a pasta de Henrique Meirelles (Fazenda) apontou a possibilidade de pagar bônus. A ideia foi rejeitada por representantes da polícia, mas um dos anúncios de Doria foi o de bônus bimestral de produtividade.
“O policial se sente valorizado quando consegue suprir as necessidades de seus familiares. Hoje os policiais paulistas não conseguem fazer isso sem recorrer a atividades extras”, disse Eduardo Becker, presidente do Sinpcresp (Sindicato dos Peritos Criminais de SP).
Além do reajuste de 5% e dos bônus, a gestão Doria também anunciou assistência jurídica gratuita, equiparação do auxílio alimentação e adicional de insalubridade —também para agentes penitenciários.
Para o governador, as medidas são um primeiro passo. “Esse é o primeiro movimento de um projeto permanente de valorização salarial dos policiais em São Paulo. [...] Portanto, um conjunto de medidas, um pacote de valorização da categoria de policiais, conforme eu venho prometendo desde o início”, disse Doria.
Segundo o tucano, as mudanças representam impacto de R$ 1,5 bilhão no orçamento estadual. Ele afirmou ainda que o compromisso é de “melhorar ano a ano” a condição salarial de policiais e agentes penitenciários.
Mais moderado, o presidente da Associação dos Oficiais da Polícia Militar, coronel da reserva Antonio Chiari, disse que a categoria não ficou feliz com o reajuste, mas afirmou reconhecer um esforço do tucano em valorizar a polícia.
“Satisfez? Não. Mas ele prestigiou a área de segurança, deu a cara a bater dando esse reajuste só para a segurança. Então, tenho que respeitar essa atitude dele”, disse. “Estou feliz? Não, mas infeliz fico com o reajuste dado ao soldado, que foi insignificante. Para eles, é algo que não satisfez mesmo. O soldado vai ganhar R$ 130 de aumento, o cabo R$ 140, o terceiro sargento R$ 160. Desculpe, são valores que não significam nada”, complementou ele.