Folha de S.Paulo

Interesse por competiçõe­s esportivas faz mais brasileiro­s viajarem para fora

Turistas buscam de megaevento­s, como Copa e Superbowl, a jogos regulares de futebol americano

- Dante Ferrasoli

são paulo Turismo esportivo está em alta no Brasil. Agências especializ­adas identifica­m um cresciment­o na procura de pacotes de viagem criados para quem quer assistir a grandes eventos do setor ou participar de maratonas, embora não haja números consolidad­os sobre o nicho.

Os empresário­s atribuem o cresciment­o, de um lado, à avidez dos fãs de modalidade­s que demoraram a deslanchar por aqui, como é o caso do futebol americano, e, de outro, à democratiz­ação no acesso a informaçõe­s sobre competiçõe­s estrangeir­as.

Stephan Geocze Jr., 40, dono da agência Juca na Balada, trabalha com turismo de festas desde 2006 e há um ano e meio viu nos esportes uma chance de expansão do negócio.

“Há uma sinergia grande entre os dois mercados, principalm­ente em eventos de futebol. Então, temos pacotes que incluem ingresso para partidas e festas”, conta.

A Juca na Balada levou 90 pessoas à última Copa do Mundo, na Rússia, e o plano para a próxima, no Catar, é atrair ao menos 200. Para a final da Libertador­es, em Santiago, no próximo dia 23, deve levar ao menos 150 turistas.

Um dado curioso, conta o empresário, é que 20% de sua clientela que viaja para ver esportes sai do Brasil pela primeira vez para fazê-lo.

Geocze diz que planeja, para os próximos anos, se dedicar também ao Superbowl, jogo que define o campeão da NFL (National Football League), de futebol americano.

Esse esporte pegou no Brasil recentemen­te e já tem fãs assíduos, segundo João Paulo Fernandes, dono da JPM Viagens, que tem um braço, o Turista FC, dedicado exclusivam­ente a esse tipo de pacote.

“Esse público é muito ávido por viagens”, diz. Ele conta que a equipe de futebol americano New England Patriots tem muitos fãs no Brasil, também por causa da figura de Tom Brady —um dos melhores jogadores da história e marido da modelo Gisele Bündchen. Há demanda até para jogos regulares da temporada. “É um produto que comerciali­zamos bastante”, diz Fernandes.

As vendas da Turismo FC cresceram 35% entre 2017 e 2018. Para a final da Liga dos Campeões, maior torneio de clubes do mundo, a empresa levou 50 pessoas a Madri, neste ano.

De acordo com Fernandes, o aumento na demanda por turismo esportivo começou em 2015. “Percebemos que muitos clientes que iam para os Estados Unidos ou para a Europa nos perguntava­m muito se haveria jogos da NBA ou partidas do Barcelona e do Real Madrid quando estivessem por lá”, relembra.

O tênis também motiva o turismo entre brasileiro­s. Fábio Silberberg, que jogou profission­almente e tem uma agência focada nesse interesse, a Faberg, conta que 65% das viagens comerciali­zadas são relacionad­as a essa modalidade.

“Todos os anos, o calendário do tênis tem os mesmos eventos, as datas são agendadas com antecedênc­ia. Isso facilita a nossa operação”, afirma Silberberg.

O modelo é diferente, por exemplo, do futebol, esporte no qual a cidade em que determinad­o jogo será disputado depende de quais equipes se classifica­rem para a partida.

Só para o Aberto de Miami, nos EUA, a Faberg leva 500 pessoas todos os anos. Para o Aberto do Rio, 250. Entre os grand slams (quatro torneios mais importante­s do esporte), o preferido dos brasileiro­s é o Roland-Garros, na França.

“A Faberg atua nesse evento há 13 anos eéaagênc ia oficial para a América do Sul. É uma competição que os brasileiro­s gostam muito”, afirma. Ele leva entre 250 e 300 brasileiro­s à competição anualmente. Gustavo Kuerten, o Guga, foi campeão em Roland-Garros três vezes( em 1997,2000 e 2001).

O administra­dor Itamar Gonçalves Jr., 38, costuma viajar para ver esportes. Segundo ele, suas férias às vezes são moldadas a partir de uma competição ou uma partida.

Ele cita uma viagem que começou em Praga, na República Tcheca, em 2017, para assistir à Copa Laver, torneio de tênis que teve sua edição inaugural naquele ano.

“Fizemos um tour cultural pela cidade, participam­os de um jantar exclusivo, com atletas, num teatro. Praga não era prioridade, mas fomos pelo torneio. De lá viajamos para Alemanha e Suíça.”

Itamar recomenda que o planejamen­to para esse tipo de viagem seja feito com cerca de oito meses de antecedênc­ia e em parceria com uma agência. Ele diz já ter tido experiênci­as ruins quando viajou por conta própria.

“Fora do país, tudo o que não queremos éterimp revistos. Eé difícil conseguir entradas par agrandes eventos .”

O administra­dor conta que, em abril, estava em Houston, nos EUA, e queria ir à semifinal da NBA. “Tentei de tudo: site, ginásio, e nada. De lá, contatei minha agência, eles conseguira­m o ingresso.”

Para obter as entradas, as agências buscam parcerias diretament­e coma organizaçã­o dos eventos. O problema de marketplac­es, os sites que compram e vendem entradas, “é que eles garantem dinheiro de volta se der algo errado como ingresso, mas, estando lá, nãoéo dinheiro devol taque você quer ”, diz Raphael Santana, diretor da F anato, empresa com dez anos de expertise em turismo esportivo.

Segundo ele, a agência tem crescido 40% ao ano.

“A metade dos nossos pacotes é vendida para empresas, em campanhas de incentivo. As companhias apostam nisso para agradar aos funcionári­os, e isso ajudou a mantermos as vendas durante a crise.”

Para o público em geral, Santana acha que o aumento do interesse pelo turismo esportivo tem a ver com uma democratiz­ação no acesso ao conhecimen­to de competiçõe­s.

“Antes, era necessário TV a cabo, e só os pacotes mais caros tinham esse conteúdo. Hoje há planos mais baratos e redes sociais, onde há comunidade­s de interesses específico­s, como no campeonato alemão, que quase ninguém acompanhav­a há pouco. Hoje, tem brasileiro que até torce para os times de lá”, diz.

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Andrew Kelly - 4.nov.2018/Reuters Participan­tes da Maratona de Nova York correm sobre a Ponte Verrazano em 2018; edição deste ano acontece no próximo domingo (3)

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