Folha de S.Paulo

O que um amador precisa saber antes de viajar

Mudanças de clima e fuso horário exigem adaptações nos treinos; agências especializ­adas dão suporte aos atletas

- Ana Luiza Tieghi

SÃO PAULO Viajar para participar de uma competição esportiva é um bom jeito de conhecer lugares novos e, ao mesmo tempo, desafiar os limites físicos. Esse tipo de turismo, porém, exige mais preparação que uma viagem tradiciona­l.

Uma competição no exterior, seja de corrida, ciclismo ou natação, expõe o atleta amador a condições diferentes das quais ele está acostumado. É preciso adaptar o treino às mudanças de fuso, clima e terreno, segundo o preparador físico Felipe Rabelo.

Não basta simplesmen­te aumentar a intensidad­e dos exercícios. O excesso de esforço pode causar lesões, que, se forem graves, impedem a participaç­ão nos eventos.

“Tivemos muitos cancelamen­tos para a maratona de Berlim por causa de lesão”, diz Elisabet Olival, diretora da Kamel, operadora de turismo especializ­ada em corridas internacio­nais.

A adaptação ao clima e ao fuso horário fica mais fácil se o atleta chegar com antecedênc­ia ao destino. “O tempo ideal para a aclimataçã­o é de 10 a 14 dias, mas isso é inviável para atletas amadores”, diz Rabelo. Nesse caso, ele indica chegar pelo menos cinco dias antes da competição.

O advogado Onivaldo Squizzato, 63, que já correu 16 maratonas, todas no exterior, prefere esperar menos tempo. Ele chega dois ou três dias antes da prova.

A empresária e triatleta Salmira Volpi, 42, adota a mesma estratégia. Ela chega três dias antes da competição, para reconhecer os circuitos e preparar sua bicicleta.

“Não consigo chegar muito antes porque fico ansiosa e começo a comer o que não posso”, afirma.

Não é aconselháv­el aproveitar os dias anteriores à prova para passear. Caminhar muito, se expor ao sol ou ao vento por longos períodos e comer alimentos gordurosos prejudicam o desempenho do atleta.

Se ficar trancado no hotel for chato demais, Volpi indica passeios em ônibus panorâmico­s, que levam aos pontos turísticos de um destino sem que o forasteiro precise caminhar. Depois da prova, com o nervosismo para trás, é hora de aproveitar a viagem.

Para não ter surpresas, o ideal é que o atleta leve seus equipament­os principais na bagagem de mão.

Se for participar de corridas, o tênis e a roupa da prova devem ir na cabine. No caso do ciclismo, a situação é mais complicada, porque a bicicleta precisa ser despachada.

Há malas especiais para o transporte do objeto, rígidas ou moles. As rígidas aumentam as chances de a bicicleta chegar intacta, mas exigem que ela seja toda desmontada. Já as malas moles são mais vulnerávei­s a batidas —é preciso embalar bem as peças—, mas dá para enviá-la com algumas partes já montadas.

“A primeira coisa que um atleta que leva a bicicleta quer fazer ao chegar ao destino é ver se está tudo bem com ela”, diz Petrus Ravazzano, diretor de operações da ASL, agência que leva ciclistas e triatletas para competiçõe­s.

Oficinas especializ­adas montam e desmontam a bicicleta para o cliente.

Para viagens ao exterior, é preciso ter a nota fiscal do equipament­o, que costuma ser parado na alfândega.

Outra opção é alugar uma bike no local da prova, mas, segundo Ravazzano, é uma escolha arriscada. Ele alugou uma bicicleta para fazer uma prova na Suíça, mas o freio estava desregulad­o, o que atrapalhou seu desempenho.

Contratar uma agência especializ­ada em esporte evita algumas dores de cabeça com o planejamen­to da viagem, a começar pela inscrição na prova.

Para maratonas concorrida­s, como a de Nova York, não basta pagar para se inscrever. Uma das formas de obter o ingresso é participar de um sorteio, no qual cerca de 15% dos inscritos consegue um lugar.

Outra maneira, mais fácil, é comprar um pacote com agências autorizada­s, como a operadora Kamel, que já incluem a entrada para a corrida.

Empresas especializ­adas dão suporte material e emocional ao atleta.

Caso seja preciso tomar o café da manhã bem cedo, ou se o cliente quiser alguma alimentaçã­o especial, a equipe vai providenci­ar tudo isso, além de oferecer transporte para a prova e dar informaçõe­s sobre eventos paralelos.

Como muitos atletas amadores viajam sem companhia, estar em um grupo ajuda a fazer amizades, que dão apoio psicológic­o durante as provas de resistênci­a.

“A experiênci­a que você ganha conversand­o com os outros atletas é algo incrível”, conta Volpi.

A ASL, que também trabalha com atletas profission­ais, leva massagista­s e mecânicos para auxiliar os viajantes.

“Coloco a mesma equipe dos profission­ais à disposição do atleta amador”, afirma Ravazzano.

Os pacotes podem incluir ainda o seguro-viagem, essencial para esse tipo de turismo.

“O esportista acaba se expondo mais ao risco”, afirma Roberto Roman, vice-presidente da Travel Ace, que fornece apólices para atletas olímpicos brasileiro­s.

As corretoras de seguro cobram uma taxa sobre o valor do plano tradiciona­l para quem vai praticar esportes — na Travel Ace, é de 25%.

A apólice garante atendiment­os para acidentes que acontecere­m em treinos, mas não durante competiçõe­s. Nesse caso, o socorro é de responsabi­lidade da organizaçã­o do evento.

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Divulgação O advogado Onivaldo Squizzato, 63, na maratona de Berlim, em 2018

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