Folha de S.Paulo

Copom reduz taxa básica de juros para 5% ao ano

Mercado financeiro começava a apostar em Selic ainda mais baixa para estimular a recuperaçã­o da economia

- Eduardo Cucolo e Júlia Moura

SÃO PAULO O BC (Banco Central) anunciou nesta quartafeir­a (30) um novo corte na taxa básica de juros. Em decisão unânime do Copom (Comitê de Política Monetária), a Selic caiu de 5,5% para 5% ao ano.

Desde dezembro de 2017 os juros vêm renovando mínimas. Ou seja, a Selic está novamente no menor patamar desde que passou a ser utilizada como instrument­o de política monetária, em 1999.

O resultado da reunião confirmou a expectativ­a de todos os analistas consultado­s pela agência Bloomberg, que era um corte de 0,5 ponto percentual nos juros.

O ciclo atual de redução começou em julho, quando a taxa estava em 6,50% ao ano, logo após a aprovação da reforma da Previdênci­a na Câmara.

No comunicado da decisão, o BC confirmou a expectativ­a da maioria dos analistas e indicou que reduzirá os juros para 4,5% na última reunião do ano, em dezembro. O documento cita que o cenário para a inflação “deverá permitir um ajuste adicional [nos juros], de igual magnitude [0,5 ponto percentual]”.

Parte do mercado passou a avaliar que o juro iria a menos de 4,5% neste ano. No comunicado, no entanto, o BC destaca que “o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela em eventuais novos ajustes no grau de estímulo”.

Para João Maurício Rosal, economista-chefe da Guide, o comunicado sinaliza o fim do ciclo de cortes nos juros.

“Agora, a ideia de Selic abaixo 4% perde força, assim como a estimativa de corte de 0,5 ponto percentual na primeira reunião em 2020. O BC está preocupado com o risco de errar a mão nos cortes e ter que reverter política rapidament­e”, diz Rosal.

Maurício Oreng, economista do Santander, também vê o cenário de juros abaixo de 4% como descartado.

“O BC deixa explícito que não considera maiores estímulos com maior velocidade. Há uma incerteza de como a economia vai reagir, e o BC quer evitar cortar demais para não gerar pressões inflacioná­rias”, diz Oreng.

O Santander projeta dois cortes de 0,25 ponto percentual cada no início de 2020, encerrando o ciclo de queda na Selic a 4% ao ano.

O Itaú trabalha com o mesmo cenário, mas não descarta que os juros abaixo de 4% possam voltar à mesa, caso a economia esteja muito fraca e a inflação contida.

“Caso contrário, com dados positivos, o ciclo se encerra em 4%. Vai depender muito do cenário que está por vir. Em nossas projeções, cabe uma redução até 4%, entretanto, não podemos descartar por completo cortes abaixo deste patamar”, diz Fernando Gonçalves, superinten­dente de pesquisa econômica do Itaú.

Gonçalves não avalia que o BC esteja com receio de cortar demais os juros. Para ele, é normal que a instituiçã­o seja mais cautelosa em um cenário de juros mais baixos.

A nova rodada de redução da taxa básica se dá em um contexto de fraco de cresciment­o da economia, inflação abaixo da meta, desemprego alto e queda de juros em países desenvolvi­dos e emergentes.

Apesar dos cortes na Selic, o desempenho da economia segue errático e, apesar da redução dos juros no segmento imobiliári­o, outras linhas de crédito têm taxas elevadas.

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