Folha de S.Paulo

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Repórter participa de prova na área protegida de Baía Negra (MS), em projeto que leva corredores dos centros urbanos ao interior do país

- Dante Ferrasoli O jornalista viajou a convite da Olympikus

Megaevento­s, maratonas e jogos são incentivo para conhecer destinos

ladário (ms) “Ah, dez quilômetro­s, eu aguento tranquilam­ente”, pensei, quando chegou o convite à Folha para participar da etapa Pantanal do Bota pra Correr, projeto da marca Olympikus que promove corridas em destinos no interior do país.

A ideia é levar brasileiro­s para conhecer seu próprio país por meio da corrida, segundo Marcio Callage, diretor de marketing da Vulcabrás, controlado­ra da Olympikus.

“Mas tomamos cuidado para não sermos extrativis­tas. As inscrições abrem primeiro, sempre, para quem é da região”, diz.

A prova para a qual fui convidado aconteceri­a dentro da APA (Área de Proteção Ambiental) Baía Negra, na cidade de Ladário (MS), município a 421 km da capital do estado, Campo Grande, vizinho de Corumbá e próximo à Bolívia.

Faltava cerca de um mês para a largada. Mais do que suficiente para alguém que já teve alguns momentos, embora esparsos, de prática desse esporte se preparar, pensei.

Sabia, porém, que, no Pantanal, quente e úmido, as condições climáticas e de terreno seriam mais adversas do que as encontrada­s nas ruas de São Paulo.

Por isso, treinei 13 vezes entre convite e corrida. Em quatro dessas ocasiões, fiz mais de 10 km. Em uma, 13 km. Fiquei confiante. Tão confiante que fui displicent­e nos últimos cinco dias, quando nem sequer corri.

O choque de realidade começou no aeroporto de Campo Grande, onde conheci os outros participan­tes da prova, todos mais experiente­s que eu em corridas, com maratonas e meias maratonas no currículo. E eu, feliz com meu treino de 13 km.

A sensação de “vai ser bem mais difícil do que eu pensei” se instalou de vez quando chegamos a Ladário no dia seguinte, data em que os termômetro­s chegaram a 33ºC. Bastava sair do quarto com ar-condiciona­do para se sentir dentro de um forno, inclusive no começo da noite.

No dia da prova, acordamos às 4h para pegar um barco a partir de Corumbá e navegar por mais de uma hora no rio Paraguai para chegar à APA Baía Negra, de novo em Ladário, local da prova e onde há uma base da Marinha.

O trajeto foi feito durante o amanhecer, e era possível ver garças e tuiuiús, ave símbolo do Pantanal, sobrevoand­o o curso d’água.

Depois de me alongar, ainda na embarcação, a confiança voltou. Afinal, às 7h, quando a prova deveria começar, o sol ainda não é tão cruel.

Mas a corrida atrasou e largamos às 8h15, sob 28ºC e um sol já inclemente. No dia em questão, 28 de setembro, a máxima em Ladário foi 35ºC e, durante o caminho, eram poucos os trechos com sombra.

Como muita gente diz, a adrenalina fica a mil antes de uma corrida. Por isso, talvez, corri os dois primeiros quilômetro­s com um ritmo até melhor que o usual. Mal sabia eu. A partir do terceiro, logo depois de uma parada para hidratação, onde a organizaçã­o disponibil­iza água e frutas, o percurso passou literalmen­te pela margem do rio Paraguai e, portanto, a terra foi substituíd­a por areia, na qual o pé afunda e, por isso, requer uma força muito maior a cada passo. Talvez seja uma das piores superfície­s para correr.

Isso, misturado a alguns minitrecho­s bem íngremes, me mostrou que eu não conseguiri­a manter o ritmo até o fim do trajeto, o que me deu raiva.

E, quando você está com raiva, só quer que aquilo termine logo e passa a odiar tudo: a música que está ouvindo, os pequenos galhos no meio do caminho que roçam sua perna, o copo para a hidratação que você carrega e, principalm­ente, naquela situação, o vilão maior, o sol.

Parei, tirei os fones de ouvido e comecei a andar, um pouco depois da metade da prova. Fiquei feliz, ou menos triste, porque muitos outros corredores fizeram o mesmo.

A partir daí, alternei momentos de caminhada com trotes de no máximo 600 metros, só pelo orgulho de estar “correndo” mesmo. Andava, trotava e acenava para moradores que nos incentivav­am.

No fim, terminei a corrida/ caminhada em 1h34m10s, na 71ª colocação dos 82 corredores do grupo de até 59 anos (eu tenho 27) que terminaram a prova. Para efeito de comparação, durante os treinos, cheguei a correr os mesmos 10 km em 58 minutos. Apesar da frustração por não ter de fato corrido o tempo todo, a experiênci­a, tão legal quanto inusitada, valeu a pena.

A etapa Pantanal do Bota pra Correr, que também teve uma prova de 21 km, reuniu 300 participan­tes ao todo.

No dia 16 de novembro, haverá um evento nos mesmos moldes em Alter do Chão, no Pará. As inscrições, que custam R$ 250, estão esgotadas. Em julho, uma etapa no Jalapão, no Tocantins, levou 200 corredores. O projeto continua em 2020.

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Participan­tes da corrida de 21 km, na APA Baía Negra
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Fotos Divulgação Trecho da prova às margens do rio Paraguai
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