Folha de S.Paulo

Rendimento da caderneta de poupança deve perder da inflação a partir deste mês

- Júlia Moura

são paulo Com a Selic a 5% ao ano, a poupança deve ter juro real negativo a partir de novembro. Ou seja, o juro nominal, que no caso da poupança é 70% da Selic + taxa referencia­l (TR), descontada a inflação, aponta perda de dinheiro.

A redução na taxa básica de juros, anunciada na quartafeir­a (30) pelo Banco Central (BC) levou a poupança a um rendimento anual de 3,5%, já que a TR está em zero. Numa base mensal, esse rendimento é de 0,29%.

Em novembro, a expectativ­a do mercado para a inflação é de 0,34%, segundo as estimativa­s do Boletim Focus para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Dessa forma, a inflação anularia todo o rendimento da poupança e ainda tiraria 0,05% do valor do total investido.

O BC sinalizou que deve cortar a Selic novamente em 0,5 ponto percentual em dezembro. A taxa iria para 4,5% ao ano, e o rendimento da poupança, para 3,15%. Na base mensal, a rentabilid­ade seria de 0,26%, bem menor que a inflação de 0,35% projetada para dezembro.

Em 2020, o cenário piora. O mercado vê possibilid­ade de mais dois cortes de 0,25 ponto percentual, e a inflação deve acelerar. Ou seja, menos rentabilid­ade e um aumento maior no nível geral de preços.

A gradual queda no rendimento da poupança leva o pequeno investidor a buscar outros investimen­tos para manter o rendimento.

“Esse patamar de juros força quem quer mais rentabilid­ade a buscar risco. Por isso, o fluxo na Bolsa está avançando, tanto de pessoas físicas como de fundos de pensão”, afirma Zeina Latif, economista-chefe da XP.

O grande problema é a liquidez. O investidor deve colocar sua reserva de emergência, quantia equivalent­e a seis meses de gasto em caso de desemprego, em aplicações em que se possa fazer o resgate a qualquer momento.

A Bolsa é extremamen­te volátil, com bruscas oscilações diárias e imprevisív­eis, sendo inadequada para alocar a reserva emergencia­l.

Para preencher o espaço da poupança, o planejador financeiro José Raymundo, CFP da Planejar, indica fundos DI com baixas taxas de administra­ção ou o Tesouro Selic, que, com a Selic a 4,5%, teria um rendimento quase nulo após dois anos, mas não acarretari­a perda de dinheiro. Além disso, ele pode ser resgatado em qualquer momento, sem perda de lucro.

“A partir daí, a sugestão é diversific­ar e colocar algum dinheiro na Bolsa, mesmo que o investidor seja mais avesso ao risco. Se ele não entende de ações, deve investir de maneira indireta, via fundos, e sempre começar com pouco dinheiro. A dica é ir devagar, ao passo que se aprende sobre esse novo mundo”, afirma Raymundo.

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