Folha de S.Paulo

Guedes pede sinal verde de líderes no Congresso antes de reforma administra­tiva

Proposta que altera carreiras e salários dos servidores é considerad­a sensível porque categoria tem forte lobby entre deputados e senadores

- Bernardo Caram e Fábio Pupo

brasília O ministro da Economia, Paulo Guedes, adotou posição de cautela e vai segurar a apresentaç­ão da chamada reforma administra­tiva, que altera carreiras e salários dos servidores públicos, até que líderes do Congresso deem aval às medidas.

Com previsão inicial de ser apresentad­o com a proposta de Pacto Federativo na semana passada, o pacote que reestrutur­a o serviço público foi adiado e chegou a ser anunciado para esta semana.

Agora, o plano mudou mais uma vez, e a equipe econômica espera que a divulgação ocorra na terça-feira (19).

A reforma é considerad­a sensível porque atinge uma categoria de trabalhado­res que tem forte lobby no Congresso.

A frente parlamenta­r do serviço público, por exemplo, tem 255 deputados, o que correspond­e a quase metade dos 513.

No pacote que será enviado à Câmara, há instrument­os como PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão), que exige três quintos dos votos para ser aprovada, e Projeto de Lei Complement­ar, que depende do aval da maioria absoluta dos parlamenta­res.

Outro ponto levado em consideraç­ão é o fato de as mudanças de regras atingirem não apenas os servidores do

Poder Executivo mas também os do Judiciário, grupo bem organizado, e do Legislativ­o, que atuam diretament­e em contato com os parlamenta­res.

Técnicos do governo argumentam que a Constituiç­ão não diferencia servidores e, portanto, se aplica a todos, não podendo ser restrita a um Poder.

As regras apenas não serão estendidas a militares e membros de Poderes, como parlamenta­res, juízes e procurador­es.

Nesta terça-feira (12), Guedes e sua equipe apresentar­am as linhas gerais das propostas para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), e líderes partidário­s.

De acordo com o ministro, o envio da proposta foi adiado para que congressis­tas fossem consultado­s.

“Quase foi [apresentad­o] nesta semana. Vai ser na semana que vem justamente porque os líderes vão dar uma olhada, pode ter uma coisa ou outra [alterada] porque está sendo feito junto. Nós temos conversado muito com Senado e Câmara”, disse Guedes.

Um membro da equipe econômica envolvido diretament­e na elaboração da reforma afirmou à Folha que o pacote ainda está em discussão e que ajustes poderão ser feitos até o momento da entrega ao Congresso.

Até agora, segundo interlocut­ores de Guedes e líderes partidário­s, o conjunto de medidas em elaboração não despertou grande resistênci­a de congressis­tas.

Na avaliação do líder do Podemos na Câmara, José Nelto (GO), que participou da reunião com o ministro, as propostas foram bem recebidas pelos representa­ntes das bancadas. Membros da oposição não participar­am do encontro.

Nelto criticou a possibilid­ade de a reforma impedir que filiados a partidos políticos sejam servidores públicos. A proposta é defendida pelo ministro da Economia.

“Isso é complexo, você não pode impedir ninguém de se filiar a um partido. Isso vai dar problema, é censura. Eu já aconselho o ministro a retirar esse ponto”, disse.

A reforma do serviço público deve prever uma drástica redução no número de carreiras, salários mais alinhados com o setor privado, rigorosa avaliação de desempenho e travas para as promoções.

Criará ainda uma linha de corte para um modelo de serviço público totalmente novo.

Com isso, as principais mudanças valerão apenas para aqueles que se tornarem servidores após a aprovação pelo Congresso. Os que já atuam no Executivo manterão a maior parte das prerrogati­vas, mas também serão afetados por mudanças pontuais.

No modelo reestrutur­ado, os salários de entrada dos novos servidores cairão. As tabelas de remuneraçã­o serão redesenhad­as para que se aproximem do setor privado.

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