Folha de S.Paulo

Skatistas do Brasil dominam corrida olímpica na reta final para Tóquio

Brasileira­s são cinco entre as dez melhores do Street, mas Jogos têm limite de três vagas por país

- João Gabriel

são paulo Com cinco brasileira­s entre as dez primeiras colocadas no ranking olímpico, o país domina a elite da categoria Street do skate feminino. O esporte estreará nos Jogos Olímpicos em Tóquio-2020.

Serão 20 competidor­as de cada categoria do skate —Street e Park. Porém, cada país poderá ter apenas três atletas.

O limite fará com que brasileira­s fiquem fora dos Jogos mesmo tendo conquistad­o mais pontos no ranking do que estrangeir­as. A hegemonia do Brasil acirra a disputa entre as atletas.

Neste domingo (17), elas competem no último dia do STU Open do Rio de Janeiro, torneio que abre a segunda e última janela de provas valendo ponto para a Olimpíada —as próximas etapas ainda estão indefinida­s. A corrida olímpica acaba em 31 de maio.

Pâmela Rosa, 20, campeã mundial na categoria Street em 2019, diz que a concorrênc­ia não influencia o ambiente dentro da pista, que, segundo ela, é bom entre as brasileira­s.

“A gente sempre competiu juntas. Cada uma quer a sua vaga e dá o seu melhor para isso”, afirma Pâmela.

Além dela, líder do ranking olímpico, Rayssa Leal, 2ª colocada, Leticia Bufoni, 4ª, Gabriela Mazetto, 8ª, e Virgínia Fortes Águas, 10ª, são as outras brasileira­s no top 10.

Na categoria Park, apesar de ter cinco atletas entre as 20 mais bem colocadas, o domínio brasileiro é menor.

Dora Varella é a melhor, em 7º, seguida de Isadora Rodrigues Pacheco. Depois, Yndiara Asp aparece na 13ª posição, Victoria Bassi na 19ª e, logo em seguida, Leticia Golçalves.

Dora, 18, também vê entre elas uma competição saudável. “Somos todas amigas, ficamos juntas no hotel, queremos viajar juntas, vamos na cidade das outras”, conta.

O protagonis­mo das brasileira­s no ranking pode ser explicado pelo cresciment­o recente da categoria no país.

O Campeonato Brasileiro feminino amador, por exemplo, surgiu em 2016 com 75 inscritas e apenas a modalidade Street. Na segunda edição, foram mais de 100 meninas.

Hoje o torneio tem as divisões infantil, amador, iniciante, master e grand master.

“Agora as mulheres vão ver que têm um rumo para seguir, vão se puxar, o nível está subindo muito rápido. Nessa primeira Olimpíada ainda não vai estar igual, mas talvez na próxima. Já está absurdamen­te melhor do que um ano atrás”, analisa Dora.

Para a presidente da Associação Feminina de Skate, Renata Paschini, o investimen­to ainda está aquém do desejado.

Ela ressalta que contribuiu para a populariza­ção do esporte entre as mulheres a veiculação de conteúdo sobre o tema nas redes sociais.

“Também não posso deixar de pontuar a questão do empoderame­nto feminino. O skate é um esporte de ação e promove uma sensação de força, coragem e vitória que cresce dentro das mulheres”, diz.

As atletas entendem que o cresciment­o do skate entre as mulheres acompanha a crescente da pauta feminista no mundo e no esporte em geral.

“As meninas mais novas vêm sem esse pensamento [de que as mulheres são inferiores], acreditam que tudo é possível ao ver a Rayssa Leal mandando manobra igual homem gente grande”, completa Yndiara Asp, de 21 anos.

Rayssa, de 11, foi vice-campeã mundial em 2019. “A gente do skate feminino vem mudando muito as coisas, fazemos de tudo para que o esporte seja igual para todos”, diz Pâmela, a campeã.

“[A pauta feminista] se juntou com uma boa visibilida­de do skate, que está em alta. E daí o skate feminino está vindo [crescendo] daquele jeito”, diz com animação Yndiara.

Dora entende que, assim como o skate se uniu diante da defesa da legalizaçã­o das drogas, ele deve se unir para reivindica­r direitos iguais entre homens e mulheres, “mostrar que skate é para qualquer um”.

Para elas, o skate carrega dentro de si um espírito respeitoso. À luz do holofote olímpico, ele pode desmistifi­car a ideia de que o esporte é algo marginaliz­ado e masculino, incentivan­do garotas a pedir um shape [prancha usada no skate] aos pais e sair na rua para ralar os joelhos nas primeiras quedas, até que saiam as primeiras manobras.

“Tem muita gente que entra na parte de falar, mas eu acredito que cada um faça do seu jeito, essa é minha maneira de lutar pelo feminismo, andando de skate o melhor que eu posso”, finaliza Yndiara.

 ?? Ricardo Borges/Folhapress ?? Pâmela Rosa é atual líder do ranking olímpico e campeã mundial
Ricardo Borges/Folhapress Pâmela Rosa é atual líder do ranking olímpico e campeã mundial

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil