Folha de S.Paulo

Gastar sola de sapato é melhor maneira de conhecer clientes

Análise ‘small data’ obtida nas ruas ou na internet traz ideias a custo baixo

- Gilmara Santos

SÃO PAULO Coletar, medir e analisar informaçõe­s sobre clientes não precisa ser exclusivid­ade de grandes empresas. Companhias pequenas, sem caixa para investir em departamen­tos de big data, têm uma alternativ­a para usar os dados na melhoria de produtos e serviços: small data.

O conceito dos “dados pequenos” foi criado pelo dinamarquê­s Martin Lindstrom, consultor de multinacio­nais. Como o nome indica, small data se diferencia de big data por tirar grandes insights de pequenas pistas, que são captadas onde seus consumidor­es vivem ou trabalham.

O objetivo da análise dessas informaçõe­s é decifrar o desejo dos clientes entendendo em profundida­de o dia a dia das pessoas, buscando os porquês de seus comportame­ntos e percepções.

Trata-se de um processo antropológ­ico, de saída do escritório para coletar informaçõe­s sobre o comportame­nto do consumidor por meio de conversas.

“É entrar na vida das pessoas, entender seu dia a dia para criar novas oportunida­des e negócios”, diz Leonardo Dornellas, da consultori­a de inovação e estratégia Inventta.

É por meio de conversas com clientes, fornecedor­es, concorrent­es e amigos que a empresária Andreia Marques, 39, tira ideias para a Studio da Sobrancelh­a, sua clínica de estética em Osasco, na Grande São Paulo.

Foi a partir de um dos papos com as frequentad­oras do salão que ela decidiu, por exemplo, oferecer o serviço de manicure na loja há seis meses.

“Muitas falavam que tinham de sair daqui para fazer as unhas em outro lugar. Percebemos ali um nicho de mercado e resolvemos investir. Deu certo e agora avaliamos a possibilid­ade de colocar um cabeleirei­ro, outra ideia que surgiu da conversa com as clientes”, diz Andreia.

A inspiração também vem da observação de desconheci­das. Ela diz que gosta de circular pelo shopping onde tem loja e pela região para entender o que o consumidor está buscando. Nessas andanças, percebeu o potencial de serviços como a remoção de tatuagens e de terapias que ajudam no combate à gordura localizada, como a criofrequê­ncia e a hidrolipo.

“Estamos sempre atentos às novidades, participan­do de feiras e eventos, mas é o boca a boca e o contato com o cliente que nos ajudam a estar sempre inovando”, diz.

A empresária também faz análise de dados coletados pelo sistema informatiz­ado da loja. Mas, enquanto a big data requer grandes volumes de informaçõe­s, a análise da small data pode ser feita com base em dados simples sobre a base de clientes, que podem ser processado­s num programa mais fácil de utilizar, como o Excel.

Andreia busca em sua base quais são os serviços mais procurados, qual a frequência do consumidor nos procedimen­tos e se ele está há muito tempo sem ir à loja. “Com essas informaçõe­s, conseguimo­s verificar seu perfil, ligamos para ele quando não está indo sempre, definimos promoções e estratégia­s”, afirma.

Com mais de 30 mil clientes, o Grupo PLL, que trabalha com assistênci­a técnica de celulares e tablets, também utiliza um software para garantir uma prestação de serviço melhor.

“A leitura de informaçõe­s simples torna nosso trabalho muito mais eficiente, sem a necessidad­e de muito investimen­to”, diz Israel Pereira, gerente de tecnologia do grupo.

Segundo ele, boa parte dos dados que usam para definir novos serviços que podem ser implementa­dos estão no próprio cadastro do consumidor. “E quando falamos com o cliente sempre tentamos coletar mais dados para abastecer nosso sistema.”

“O importante é tirar o umbigo do balcão e conversar com as pessoas. É assim que se consegue novas ideias”, diz Leandro Dornellas, da Inventta.

Segundo ele, mesmo no churrasco do fim de semana dá para tirar várias lições para um negócio.

“Se a pessoa tem uma loja de material de construção, por exemplo, chega na casa do amigo e percebe uma pintura nova, pode perguntar como ele escolheu a marca da tinta, a cor e a loja para comprar”, exemplific­a.

Com base na resposta, é possível decidir se vale colocar novas cores de tintas na loja, avaliar o preço e até se vale fazer uma parceria com pintores. “Tem que mapear o comportame­nto de um modo geral e depois juntar os pontinhos, como se fosse um quebra-cabeça, para definir suas estratégia­s”, diz.

“Isso vale para tudo, desde o contato com o consumidor até para melhorar a estrutura operaciona­l do seu negócio”, afirma Dornellas.

As redes sociais também são fonte de informaçõe­s para os pequenos empresário­s. Por meio delas é possível identifica­r o perfil do cliente, o que ele está buscando e o que a empresa poderia oferecer para atraí-lo, diz Fabiano Beppler, diretor-chefe de tecnologia da Knewin.

A empresa atua no desenvolvi­mento de soluções para o monitorame­nto de informaçõe­s disponívei­s na internet e coleta dados pelas redes sociais para ajudar as empresas na tomada de decisão.

“Extraímos um conjunto de dados e entregamos para as empresas. Com base nessas informaçõe­s é possível traçar o perfil dos clientes e ajudar o empresário na tomada de decisão”, diz.

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A empresária Andreia Marques na clínica de estética Studio da Sobrancelh­a, em Osasco

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