Folha de S.Paulo

Lava Jato já sabia de caso que levou EUA a prender ex-Braskem

Suspeita de caixa 2, que aparece em acordo de leniência de 2016, provocou denúncia na Justiça americana, mas não aqui

- Bruna Narcizo

O ex-presidente da Braskem José Carlos Grubisich, preso nos EUA sob suspeita de ter feito caixa dois, já havia sido delatado por isso ao Ministério Público brasileiro —o que, porém, não gerou denúncia contra ele aqui.

A acusação está no acordo de leniência da empresa, de 2016. Controlada pelo grupo Odebrecht, a Braskem é uma das maiores petroquími­cas das Américas.

Se fosse no Brasil, a denúncia contra o executivo poria em questão a ação que condenou a 19 anos de prisão Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo e do conselho da Braskem.

Acusado de negociar propinas da Braskem com a Petrobras, Marcelo sempre negou responsabi­lidade, alegando que os fatos ocorreram antes de ele assumir o conselho da companhia.

Questionad­a, a Lava Jato disse que os acordos produziram alto volume de informaçõe­s e cada país desenvolve­u suas linhas de investigaç­ão, “que estão em diferentes estágios”, segundo o procurador Deltan Dallagnol.

A defesa de Grubisich afirmou que ele foi surpreendi­do com a prisão, já que as suspeitas apresentad­as nos EUA nunca foram levantadas no Brasil.

são paulo O ex-presidente da Braskem José Carlos Grubisich, que foi preso na semana passada, em NovaYork, soba acusação de ter criado caixa dois na empresa, já havia sido delatado pelo mesmo motivo para o MPF (Ministério Público Federal brasileiro).

Essa informação, porém, não chegou agerar denúncia contra ele no Brasil.

A Braskem, controlada pelo grupo Odebrecht, é uma das maiores petroquími­cas das Américas e tem capital aberto em Bolsa. Hoje, a Odebrecht tem 38,3% da Braskem, enquanto a Petrobras tem 36,1%. Os 25,5% restantes estão nas mãos de minoritári­os.

A acusação de que o executivo tinha sido responsáve­l pela criação do caixa dois da companhia está no acordo de leniência da Braskem, firmado em dezembro de 2016 com o MPF. Nos Estados Unidos, Grubisich foi denunciado pelo DoJ (Departamen­to de Justiça americano, na sigla em inglês) em fevereiro deste ano, mas em segredo de Justiça, e preso só na última quarta-feira (20) ao entrar no país.

Segundo advogados consultado­s pela reportagem, uma denúncia dessa natureza contr aG rubisichno­Br asil poderia levara questionam­entos sobre a ação penal que condenou, em 2016, Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo e também ex-presidente do conselho de administra­ção da Braskem, a 19 anos de prisão.

Marcelo Odebrechtf oi acusado pela Lava Jato de negociar propinas daBraskemc oma Petrobras em troca de contratos —o que ele sempre negou.

Marcelo alegou que as acusações envolvendo a Petrobras tratavam de fatos ocorridos antes de ele assumir o conselho de administra­ção da companhia, em 2008. O empresário, porém, admitiu que durante sua gestão na Braskem liberou pagamentos para o PT, em acordos que não envolviam a Petrobras.

Reconhecer o envolvimen­to de Grubisich poderia colocar em dúvida parte dos argumentos usados para a condenação do empresário e também embasar questionam­entos sobre a permanênci­a de seu caso sob o escopo da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.

Por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), apenas denúncias ligadas à Petrobras poderiam fi carcoma Lava Jato de Curitiba.

A informação de que a Braskem tinha o seu próprio departamen­to para tratar de propinas aparece em um dos anexos do acordo de leniência.

A empresa afirma que, ainda em 2006, Pedro Novis, então presidente do conselho de administra­ção da petroquími­ca, foi procurado por Grubisich, na época presidente da Braskem. Grubisich, segundo o relato, expôs a necessidad­e de criação de um mecanismo de caixa dois.

“O objetivo seria atendera demandas político-partidária­s para o custeio de campanhas eleitorais de candidatos com aderência às agendas institucio­nais de interesse da Braskem e do setor petroquími­co”, diz o texto a que a Folha teve acesso.

O documento afirma ainda que ficou claro para No visques e tratava de um apoio de caráter não oficial: “Com o objetivo de consolidar uma base de relacionam­ento junto às lideranças política seque potencialm­ente, viesse a contribuir para a solução de temas estratégic­os em benefício da Braskem”.

Outros delatores, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef, que foram condenados na mesma ação penal de Marcelo Odebrecht, disseram em seus acordos com o MPF que o empreiteir­o nunca teve envolvimen­to com as propinas pagas pela Braskem à Petrobras eque esse ti pode negociação era feita com Grubisich, enquanto ele estava à frente da petroquími­ca.

Documentos da Justiça dos Estados Unidos e do Brasil indicam que R$ 513 milhões em propinas movimentad­as pela Braskem foram depositado­s em contas bancárias da petroquími­ca no Brasil, em NovaYorke na Flórida.

As informaçõe­s vêm após a divulgação de mensagens obtidas e divulgadas pelo site The Intercept Brasil e por outros órgãos de imprensa, comoa Folha, que expuseram a proximidad­e entre o atual ministro da Justiça, Sergio Moro, e os procurador­es da Lava Jato. As conversas também levantam dúvidas em relação à imparciali­dade dos investigad­ores da força tarefa na condução dos casos.

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