Folha de S.Paulo

Em disputa acirrada, Uruguai adia o resultado da eleição

Corte eleitoral afirma que definição de novo presidente dependerá dos chamados ‘votos observados’

- Sylvia Colombo

Com 97,97% das urnas apuradas ate as 22h50 de ontem, o centro-direitista Luis Lacalle Pou, 46, do Partido Nacional, vencia com 48,74% dos votos o governista Daniel Martínez, 62, da Frente Ampla, que obtinha 47,48%.

Devido à margem apertada no segundo turno, os votos de pessoas idosas e com incapacida­des físicas passarão por checagem especial. O resultado deverá ser conhecido entre quinta (28) ou sexta-feira (29).

montevidéu Em um segundo turno emocionant­e, disputado voto a voto, o anúncio de quem será o novo presidente do Uruguai não será feito neste domingo (24).

Devido à margem apertada entre os votos dos dois candidatos, que fez desta eleição a mais disputada no país nos últimos 20 anos, a Corte Eleitoral do Uruguai afirmou que será necessário analisar os chamados “votos observados”.

Trata-sede votos de pessoas idosas, com incapacida­des físicas ou outras restrições, eque, por isso, precisam de checagem especial.

Assim, segundo o órgão, o “resultado final deve ser conhecido na quinta ou na sexta”.

Até as 23h15 deste domingo, com 97,97% das urnas apuradas, o candidato do Partido Nacional, Luis Lacalle Pou, liderava a contagem por 48,74% contra 47,48% do governista Daniel Martínez, 62, da Frente Ampla, uma diferença de apenas 29.695 votos —os “votos observados” somam 33 mil.

Se este resultado se mantiver, haverá alternânci­a de poder no Uruguai pela primeira vezem 15 anos, coma saída da centro-esquerda e o retorno ao poder do tradiciona­l Partido

Nacional (blanco), que contou com o apoio de outras quatro legendas de oposição neste segundo turno.

Estaéa segunda tentativa de Lacalle Pou de chegar à Presidênci­a. Ele já havia perdido, em 2014, para o atual mandatário, Tabaré Vázquez, 79.

Advogado, terá como principal desafio combatera inseguranç­a, grande preocupaçã­o dos uruguaios, e impulsiona­r a economia, que ficou praticamen­te estagnada em 2019.

Liberal na economia, Lacalle Pou faz parte de um partido criado para defender os interesses do campo. A legenda possui uma ala progressis­ta e outra mais conservado­ra, à qual pertenceu seu pai, Luis Alberto Lacalle, presidente de 1990 a 1995.

LacallePo use situa um pouco mais à esquerda que o pai e afirmou que não irá rever ou pedira revogação das leis de direitos civis aprovadas durante o governo da Frente Ampla, como o matrimônio homossexua­l e as leis da maconha e do aborto.

Na economia, porém, fará mudanças em relação ao modo como o atual governo conduzia o país. Lacalle Pou quer abrir mais o mercado, derrubar travas protecioni­stas, cortar gastos do Estado com administra­ção e colaborar com a flexibiliz­ação do Mercosul.

Já no caso de uma virada histórica, a Frente Ampla se manteria por mais cinco anos no poder. Martínez, ex-prefeito de Montevidéu, é do Partido Socialista, ala da Frente Ampla a qual pertence Vázquez.

É conhecido por ter um perfil de gestor. Tímido, não carrega os traços de um populista. Suas propostas para a economia e para as relações internacio­nais são parecidas às das políticas do atual presidente.

Defende a intervençã­o do Estado na economia e, em relação à Venezuela, argumenta que o Uruguai siga com aposição de não ingerência, distinta da do Grupo de Lima.

O dia devotação, desole calor na capital uruguaia, foi tranquilo. Havia movimento regular nos centros eleitorais e muita gente aproveitan­do para passear nos parques ena rambla junto ao rio da Prata.

O único episódio de distúrbio emmeio ao pleito foi a publicação de um vídeo de Guido Ma nini Rí os, um general aposentado do Exército que obteve 10% dos votos no primeiro turno.

Com linguagem agressiva contra a esquerda, Manini Rios pedia a membros das Forças Armadas para não votarem na Frente Ampla. Membro do partido Cabildo Abierto, ele passou a apoiar Lacalle Pou.

A atual vice-presidente do país, Lucía Topolansky, disse que o vídeo feria o veto à propaganda política durante o dia das eleições eque Ma nini Ríos deveria ser investigad­o.

Lacalle Pou também reagiu. Disse“não compartilh­arem nada” como tom do ali adonem com o que foi dito no vídeo. Afirmou que“esse ti pode coisa não pode ocorrer no Uruguai”.

O atual presidente, Tabaré Vázquez, votou cedo. Ao sair de casa, encontrou uma faixa que dizia “gracias, Tabaré”, o que o deixou emocionado.

Vázquez termina seu segundo termo à frente do país em meio ao tratamento de um câncer de pulmão e após a morte de sua mulher. “Foram cinco anos difíceis”, admitiu.

Após votar, Vázquez disse que não será um problema se a Frente Ampla deixar o poder. O atual presidente disse que “não deve haver drama” e que trabalhará junto com Lacalle Pou em uma transição.

As imagens de grupos de apoiadores da Frente Ampla e do partido Nacional confratern­izando, com hino nacional em conjunto e batucada, viralizara­m nos últimos dias. Mas elas foram bastante comuns ao longo da última semana.

Em umas dessas manifestaç­ões, F elisa Giménez ,63, afirmou que preferia vero candidatod­a Frente Ampla vitorioso.

“Se isso não for possível, tudo bem. Medo mesmo eu tenho de Manini Ríos com muito poder nesse governo”, diz.

“Isso seria um mau caminho, ao qual os uruguaios não querem trilhar porque lembra a ditadura. De resto, conhecemos os‘bl ancos ’, eé bom porque vão saber como endireitar­a nossa economia .”

“Me orgulho de como este governo vai deixar o país. Ontem recebi uma ligação de Julio María Sanguinett­i, na qual disse que se orgulhava do nosso país em um momento em que a América Latina está tão convulsion­ada Tabaré Vazquéz, 79 presidente do Uruguai

 ?? Mariana Greif/Reuters ?? O candidato do Partido Nacional, Luis Lacalle Pou, chega a local de votação em Canelones
Mariana Greif/Reuters O candidato do Partido Nacional, Luis Lacalle Pou, chega a local de votação em Canelones
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Eitan Abramovich/AFP Daniel Martínez ao votar, em Montevidéu

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