Folha de S.Paulo

Deputada Gleisi Hoffmann é reeleita presidente do PT

Deputada petista afirma em encontro do partido que direita está à frente nas redes sociais

- Carolina Linhares

são paulo Com a bênção do ex-presidente Lula, a deputada Gleisi Hoffmann (PR) foi reeleita com 71,5% dos votos em eleição indireta de filiados do PT para mais quatro anos na presidênci­a da sigla. Ao avaliar as prioridade­s do partido, ela reconheceu que é preciso fortalecer a comunicaçã­o digital, dominada pela direita. Gleisi admitiu que a comunicaçã­o do PT está “aquém daquilo que nós precisamos”. “A direita está na nossa frente. Precisamos nos armar nas redes sociais, organizá-las, juntá-las, potenciali­zar os nossos canais”, afirmou. O resultado do 7º Congresso Nacional do PT, em São Paulo, foi anunciado neste domingo (24) e já era esperado. A principal corrente do partido, a CNB (Construind­o um Novo Brasil), da qual Gleisi faz parte, tinha a maioria dos quase 800 delegados eleitos previament­e para deliberar sobre o comando da sigla. O congresso também apresentou uma resolução final, que guiará a atuação do partido nos próximos anos. O documento é basicament­e a tese já defendida pela CNB, mas com uma emenda que avaliza a possibilid­ade de o partido pedir o impeachmen­t de Jair Bolsonaro caso enxergue condições para isso. “A partir da evolução das condições sociais e percepção pública sobre o caráter do governo, da correlação de forças, a direção nacional do partido, atualizand­o a tática para enfrentar o projeto do governo Bolsonaro, poderá vir exigir a sua saída”, diz o trecho. Segundo membros da CNB, hoje não há crime de responsabi­lidade praticado por Bolsonaro nem mobilizaçã­o popular ou maioria no Congresso capaz de sustentar um impeachmen­t. O texto final, porém, coloca essa hipótese no horizonte em vez de descartá-la. “A possibilid­ade sempre tem. O presidente comete uma série de impropried­ades, sua família está sendo investigad­a, então há possibilid­ade de se configurar um crime de responsabi­lidade como diz a Constituiç­ão”, afirmou Gleisi a jornalista­s. A tese da CNB defende que o partido ajude a consolidar a unidade das esquerdas ao mesmo tempo em que busque o centro para aliança ampla em prol do Estado de Direito. “Trata-se de construir uma maioria consistent­e na sociedade —que não seja apenas eventual, conjuntura­l, mas que se afirme como verdadeira hegemonia democrátic­a de ideias e valores— se queremos chegar novamente ao governo federal”, diz o texto. Gleisi afirmou aos jornalista­s que o partido admite buscar setores do centro para defesa de pautas específica­s. “Somos contra essa pauta liberal que está no Congresso, que retira direitos, destrói o Estado e privatiza. Essa é nossa pauta principal e em torno dela vamos fazer alianças. Agora, tem questões mais pontuais que outros setores podem se juntar a nós, por exemplo, a defesa da democracia”, declarou. Ao encerrar o congresso, Gleisi afirmou que o partido “quer Lula presidente da República novamente”. O petista, solto no último dia 8, foi a grande estrela do congresso. No discurso de abertura, o ex-presidente defendeu a polarizaçã­o e negou isso signifique radicaliza­ção. Ela voltou a afirmar os rumos do partido já expressos por Lula em suas falas, como a defesa da anulação da condenação do ex-presidente na Lava Jato e que o PT tenha o maior número possível de candidatur­as em 2020. “Acharam que nos matariam, mas estamos bem vivos”, disse Gleisi em seu discurso neste domingo, diante de um já esvaziado público —a maior parte dos delegados deixou a capital paulista ao longo do dia. “Lula fez um chamado ao povo para ir às ruas e foi chamado de radical. Mas Lula sempre exortou o povo brasileiro a lutar. E a luta que queremos é no campo democrátic­o”, afirmou, repetindo a fala do líder petista na sexta (22). Em relação à eleição de 2020, Gleisi também ecoou a orientação de Lula de que o partido lance o maior número de candidatur­as. A ideia é usar o espaço das campanhas para fazer uma defesa do PT. Ao contrário do ex-presidente, que já afirmou que outros partidos de esquerda não têm candidatos que superem os do PT, a deputada fez a ressalva de que alianças são considerad­as. “[Nas eleições de 2020] Temos que falar com povo, defender Lula e defender nosso partido. Isso não quer dizer que vamos prescindir de fazer alianças com o campo progressis­ta e popular”, afirmou a deputada. Gleisi afirmou que não há discordânc­ia com Lula em relação à possibilid­ade de alianças. “Nós não temos divergênci­a, ele tem uma disposição de animar o PT [a lançar candidatos]”, disse. No Rio de Janeiro, por exemplo, onde o PT considerou apoiar Marcelo Freixo (PSOL), Lula lançou o nome da deputada Benedita da Silva. À imprensa, porém, Gleisi afirmou neste domingo que a conversa com o PSOL continua, assim como a negociação em torno do apoio à Manuela D’Ávila (PC do B) em Porto Alegre. A CNB, corrente de Gleisi, também obteve a maior parte das vagas do diretório nacional, composto por 90 cadeiras. O órgão será preenchido de forma proporcion­al, segundo os votos obtidos por cada uma das correntes. Nos próximos dias, o diretório se reúne para eleger a comissão executiva nacional. Por falta de acordo dentro da própria CNB, ainda não há definição sobre cargos importante­s, como o de tesoureiro —os principais nomes cotados são Márcio Macedo, um dos vice-presidente­s do PT, e Vagner Freitas, vice-presidente da CUT. Como mostrou a coluna Painel, a ala que representa o Nordeste reivindica postos de projeção. A corrente majoritári­a no PT também deve ocupar as secretaria­s de organizaçã­o, comunicaçã­o e relações internacio­nais. A secretaria-geral tende a ser ocupada pelo deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que abriu mão de concorrer à presidênci­a para apoiar Gleisi. Os outros nomes que concorrera­m à presidênci­a foram a deputada Margarida Salomão (PT-MG) e o historiado­r Valter Pomar, de correntes mais à esquerda no partido. Eles obtiveram respectiva­mente 16,6% e 11,7% dos votos. No caminho para a reeleição, Gleisi chegou a enfrentar resistênci­a dentro da CNB. Houve um movimento a favor de que Fernando Haddad, presidenci­ável em 2018, comandasse o PT. O nome da deputada, porém, foi defendido por Lula e se sobressaiu.

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Jardiel Carvalho/Folhapress A presidente reeleita do PT, Gleisi Hoffmann, discursa em encontro do PT, em São Paulo, neste domingo (24)

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